Solidariedade busca aliviar frio de quem vive na rua. Veja onde doar
Quedas recordes de temperatura fazem sofrer quem vive ao relento. Com 8,3 mil cadastrados nessa situa��o, BH intensifica a��es de arrecada��o
postado em 09/07/2019 06:00 / atualizado em 09/07/2019 11:20
Precariamente protegidos, muitos enfrentam sensa��o t�rmica negativa nas madrugadas de BH. Abrigos t�m vagas ociosas
(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
A chegada do frio com for�a total depois de um in�cio de inverno ameno surpreendeu habitantes de v�rias regi�es do pa�s e disparou o alarme sobre a situa��o daquela parcela mais vulner�vel da popula��o: as pessoas que vivem nas ruas. Em S�o Paulo, a onda de baixas temperaturas provocou a morte de um andarilho, cujo corpo foi encontrado ap�s a madrugada gelada do fim de semana na regi�o de Itaquera, na Zona Leste da capital. Foi o terceiro caso fatal entre desabrigados em 24 horas na capital paulista desde a sexta-feira. Em Belo Horizonte, onde h� mais de 8 mil inscritos no cadastro �nico do governo federal na condi��o de moradores de rua, o frio castiga pessoas de todas as idades, que enfrentaram ontem m�nima de 7,2°C na cidade. Apesar do tempo gelado, a marca ficou acima do recorde de domingo, com 5,7°C, a menor desde 1979 na capital mineira, com sensa��o t�rmica de -8°C.
Com os term�metros despencando, resta a moradores de rua contar com a solidariedade para tentar se agasalhar. Mesmo porque a resist�ncia a recorrer a abrigos da capital ainda � grande. Prova disso � que, no �ltimo fim de semana, a ocupa��o nas unidades que oferecem pernoite em BH – Albergue Tia Branca e Abrigo S�o Paulo – n�o atingiu a capacidade m�xima, que � de 600 vagas. A procura foi considerada baixa, chegando a 75%, segundo a Prefeitura de BH. Para a administra��o municipal, a ociosidade de 25% “pode estar ligada aos eventos ocorridos na cidade, uma vez que muitas pessoas em situa��o de rua estavam trabalhando.” A repulsa em rela��o aos abrigos n�o � novidade, sob a justificativa de problemas relacionados � limpeza e at� den�ncias de viol�ncia e roubo – embora pese tamb�m a resist�ncia a regras e hor�rios impostos nessas unidades. Mesmo diante dessa situa��o, no abrigo S�o Paulo, por exemplo, foi acionado um Plano de Contingenciamento, com a amplia��o de mais 20 vagas emergenciais neste per�odo.
Dados do Minist�rio da Cidadania referentes ao m�s de junho mostram que o desafio das pessoas que vivem ao relento em Belo Horizonte s� cresce: h� 8.381 inscritos no Cadastro �nico de programas sociais do governo federal como pessoas vivendo nas ruas da capital. O n�mero corresponde a mais de 55% do total de fam�lias sem-teto que vivem em Minas Gerais, que � 15.193, segundo o mesmo indicador. O que chama a aten��o � que o �ltimo dado dispon�vel da Prefeitura de Belo Horizonte indica 4,5 mil pessoas, diferen�a que o munic�pio atribui possivelmente � atualiza��o da lista, com a retirada de cidad�os que deixaram as ruas, sa�ram da cidade ou morreram.
Pesquisa da Prefeitura de BH mostra que o maior motivo para pessoas passarem a viver nas ruas s�o problemas com familiares (56%), passando pelo desemprego (38%), perda de moradia (22%) e alcoolismo (19%). Segundo os �ltimos dados dispon�veis, 82% dessa popula��o vulner�vel estava desempregada e apenas 18% tinha ocupa��o formal ou informal.
SOLIDARIEDADE Vivendo sem abrigo, muitas dessas pessoas dependem de agasalhos e cobertores doados para se proteger nessa �poca do ano, quando muitos grupos se mobilizaram para ajud�-los. K�nia Avany da Silva, de 49 anos, � uma das idealizadoras do projeto Iluminata, que tem o intuito de ajudar moradores em situa��o de rua e come�ou em 1999, com a��es natalinas. Por�m, K�nia percebeu que o auxilio deveria se estender para o ano todo. “Entendi que precis�vamos apaziguar o sofrimento dessas pessoas”, contou.
A partir dessa constata��o, ela e mais 14 pessoas passaram a sair em noites de inverno para presentar pessoas necessitadas com roupas e cobertores. “Este ano vamos conseguir atender de 80 a 100 pessoas. No ano passado foram 250 cobertas distribu�das. Mas, tenho percebido que mais gente tem entrado nesse tipo de campanha”, contou K�nia. Por�m, ela chama a aten��o para a grande quantidade de doa��es que mais parecem descarte, constitu�das por pe�as que s�o imposs�veis de ser reutilizadas. “Chegam roupas que n�o est�o mais em estado de uso. Est�o completamente rasgadas, pu�das, sem a m�nima condi��o”, conta ela, que contabiliza em cerca de 25% o total de doa��es descartadas por essa raz�o.
Em uma das maiores inciativas de arrecada��o de agasalhos do estado, feita pelo Servi�o Social Aut�nomo Servas, o descarte de doa��es gira em torno de 30%, por falta de condi��es de uso. A campanha #CalorHumano est� em sua quinta edi��o, com a meta de recolher roupas, cobertores e acess�rios de inverno, em bom estado, para agasalhar pessoas em situa��o de vulnerabilidade social e que t�m menos condi��es de se aquecer no frio. Com o total de 29 pontos de coleta espalhados por Belo Horizonte, o material recolhido passa por uma triagem, que organiza a quantidade e tipos de pe�as, que ser�o distribu�das posteriormente. Ap�s 39 dias de campanha, j� foram triadas cerca de 4,5 mil pe�as em bom estado.
Precariamente protegidos, muitos enfrentam sensa��o t�rmica negativa nas madrugadas de BH. Abrigos t�m vagas ociosas (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Frio persiste pelo menos at� amanh�
Ontem, o segundo dia de frio intenso em Minas Gerais trouxe um novo recorde para o estado. Depois de registrar -2,1°C na madrugada de domingo, Monte Verde, distrito de Camanducaia, no Sul de Minas, voltou a ter madrugada gelada ontem, com -2,8°C. Foi a temperatura mais baixa registrada no estado este ano de 2019, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). E a previs�o � de que a friagem se mantenha pelo menos at� amanha, quando os term�metros tendem a come�ar a subir. De acordo com o Inmet, a previs�o � de que gradualmente as marcas dos term�metros subam no estado, com a tend�ncia de a massa de ar polar se deslocar em dire��o ao oceano nos pr�ximos dias.
Pelo menos at� a quarta-feira est� mantida a previs�o de geada no Sul de Minas. Na capital, as temperaturas continuam baixas no mesmo per�odo, mas sem previs�o de cair abaixo do recorde dos �ltimos 40 anos, de 5,7°C registrados na madrugada de domingo. Em Belo Horizonte considerando apenas os meses de julho, n�o fazia tanto frio desde 1975, quando os term�metros marcaram m�nima de 5,4°C na cidade, de acordo com o Inmet.
Para aquecer cora��es
Confira iniciativa de arrecada��o de agasalhos e cobertores na capital
Grupo Iluminata
Recolhe agasalhos, cobertores e meias para distribuir nas noites de frio na capital mineira. O projeto surgiu em 1999 e ajudou no ano passado pelo menos 250 pessoas em situa��o de rua. O trabalho volunt�rio conta com a ajuda de 15 pessoas. Interessados em doar devem entrar em contato pelo instagram (@grupoiluminata) ou pelo telefone (31) 99135-9544.
Precariamente protegidos, muitos enfrentam sensa��o t�rmica negativa nas madrugadas de BH. Abrigos t�m vagas ociosas (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Acolhida Solid�ria Dom Luciano Mendes de Almeida
A iniciativa integra o Vicariato Episcopal para a A��o Social e Pol�tica da Arquidiocese de Belo Horizonte e promove campanha de arrecada��o de roupas, agasalhos e cobertores. Ampara dependentes qu�micos, pessoas que vivem nas ruas, v�timas de viol�ncia dom�stica, crian�as e idosos em vulnerabilidade social. Doa��es podem ser entregues na Mitra Arquidiocesana, na Avenida Brasil, 2.079, Savassi, Centro-Sul de BH, ou na sede do vicariato, na Rua Al�m Para�ba, 208, Bairro Lagoinha, Noroeste da capital. Informa��es: (31) 3422-7141.
#CalorHumano
Uma das maiores campanhas de doa��o de agasalhos de BH chega � quinta edi��o contando com quase 30 postos de coletas espalhados em diversos pontos da capital. Doa��es podem ser feitas at� o fim de julho, em pontos como a sede do Servas (Avenida Crist�v�o Colombo 683 – Funcion�rios), unidades do Supermercado Verdemar, unidades do Tribunal de Justi�a e do Minist�rio P�blico. A lista completa est� no site www.servas.org.br.