
Feito a m�o. Seja pela serralheria, marcenaria, cartonagem, jardinagem ou pela produ��o de compotas, licores e geleias, o que importa � exaltar a cultura mineira nas pequenas produ��es artesanais que se inspiram nas lavadeiras do Jequitinhonha e at� nas obras de Guimar�es Rosa (1908-1967). Ao longo dos �ltimos 23 anos, mais de 1.500 jovens em situa��o de vulnerabilidade, moradores dos munic�pios de Curvelo (Regi�o Central), Ara�ua� (Vale do Jequitinhonha) e Raposos (Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte) tiveram a oportunidade de aprender, valorizar a cultura popular do estado e obter uma fonte de renda por meio do artesanato.
A Cooperativa Dedo de Gente foi criada em 1996, como desdobramento do trabalho do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento, fundado em 1984 pelo antrop�logo e educador popular Ti�o Rocha. Os jovens, ao completar 16 anos, j� podem procurar a Dedo de Gente para se inscrever. No come�o, o artesanato era apenas um pretexto para desenvolver habilidades dos alunos e promover a educa��o pela conviv�ncia. Mas logo a “brincadeira” virou cooperativa, que tem como prop�sito gerar possibilidades inovadoras de desenvolvimento humano e profissional. Atualmente o projeto atende 42 jovens."Temos uma lista de interessados em participar do projeto", disse Doralice Barbosa Mota, de 73 anos, presidente da cooperativa.
Adolescentes desenvolvem trabalhos com madeira, reciclagem art�stica de ferro, produtos com tinta de terra como cart�es, quadros, pinturas em paredes e enfeites, casa de passarinho e cartonagem (fabrica��o de embalagens e sacolas diversas). O ponto de partida das formas criadas nas diferentes fabriquetas � a cultura local, o protagonismo do jovem e o respeito ao meio ambiente. “As refer�ncias s�o os artistas e pessoas locais, o cotidiano do interior mineiro, a literatura, pesquisas na internet, paisagens e conversas. As cria��es s�o coletivas, compartilhadas em roda. Quando algu�m cria um produto novo ou uma ideia os coloca na roda para aprova��o do grupo. Todos avaliam e contribuem para melhorar o desenho ou o acabamento de cada produto”, explicou Doralice.
Um dos mais recentes projetos � o Arte do Sert�o Mineiro, desenvolvido em parceria com a turism�loga Maria L�cia Fernandes. Esse projeto tem como objetivo fortalecer e promover a cultura sertaneja e os territ�rios Central e Vale do Jequitinhonha. Ao longo do ano passado, os jovens artes�os realizaram estudos, participaram de capacita��o, fizeram exerc�cios de cria��o e assim puderam executar desde as tarefas de produ��o do artesanato at� a elabora��o do material gr�fico. “Assim, criou-se uma cole��o de pe�as em ferro diretamente ligadas � cultura do sert�o mineiro, que expressa valores, cren�as, o cotidiano e a literatura rosiana. As obras do autor de Grande sert�o: veredas sempre foram fonte de inspira��o. A base para a cria��o e constru��o das pe�as est� no saber de onde eu vim, qual � meu povo, minhas ra�zes, minha m�sica, os fazeres dos meus antepassados, os sonhos”, explicou. O projeto foi aprovado em edital de fomento e fortalecimento do artesanato em Minas Gerais, da Codemig e do governo de Minas, no in�cio de 2018.
A mandala Travessia, por exemplo, � uma pe�a criada a partir do conto do burrinho pedr�s. Trata-se de uma hist�ria real de um grupo de vaqueiros que fazia a travessia do C�rrego da Fome quando de repente uma enchente os pegou. Poucos sobreviveram, entre eles o burrinho Sete de Ouros, mesmo que ningu�m desse nada por ele. Outras s�o uma verdadeira homenagem: a Mulheres do Vale exprime a for�a e a garra da mulher sertaneja. “Todas as pe�as t�m uma hist�ria ou significado definido pelo jovem artes�o”, acrescentou.
Mudan�a de vida
Ebert Soares, de 23 anos, conheceu o projeto em 2012 por meio de alguns amigos. Ele conta que sempre gostou de artesanato, mas nunca se imaginou fazendo pe�as de ferro como principal fonte de renda. "Sou da parte de serralheria. Fa�o artesanato em ferro. Minha vida mudou bastante. Antigamente, eu era um cara fechado. A Dedo de Gente me mostrou uma vida completamente diferente, da qual hoje me orgulho de participar. Acabo conhecendo v�rias pessoas que passam a ser amigas para a vida toda. Consegui perder a vergonha e falar abertamente com a pessoas. Consegui focar nos estudos e n�o desistir do ensino m�dio, n�o parar s� por a�", contou ele que, al�m de ser integrante da cooperativa, faz curso de bombeiro civil. � por meio do artesanato que ele pode ajudar a m�e.
O rapaz se empolga ao contar que o desafio move seu trabalho. "Gosto de fazer o que me leva ao desafio. Fazer uma pe�a porque ningu�m ainda a fez. E ver desafio me deixa mais empolgado”, afirmou. Ele disse que o objeto confeccionado que mais marcou sua trajet�ria foi o s�mbolo da Justi�a, a deusa Themis Larissa Ricci, em ferro. "A Justi�a n�o olha se � rico ou pobre, se voc� � negro ou branco, se de classe m�dia alta ou baixa. Ela n�o quer saber sua classe social, etnia, religiosidade. Ela quer saber se est� certo ou errado", disse.
O trabalho pedag�gico com os adolescentes � uma vertente importante do projeto. “Eles participam da forma��o pedag�gica e t�cnica continuada e integram fabriquetas de economia solid�ria. Nelas, aprendem um of�cio e encontram espa�os de di�logo, conviv�ncia, cria��o e est�mulo ao protagonismo. Em cada fabriqueta h� mestres e todos s�o aprendizes”, explicou. A forma��o � realizada a partir de jogos e din�micas que contribuem para a discuss�o e reflex�o de temas diversos ligados aos conceitos e princ�pios do projeto, que s�o a coopera��o, criatividade, respeito, compromisso ambiental, protagonismo juvenil, valores humanos, culturais e �ticos e pedag�gicos.
A produ��o dos jovens se ampliou gradativamente, em diversidade e qualidade e hoje est� dividida entre produ��o audiovisual, fabriqueta de softwares, turismo e jardinagem. "O jovem, depois que participa da Dedo de Gente, se torna uma pessoa protagonista, empreendedora, diferenciada, fortalecida nos conceitos coletivos, passa a ter atitudes como preocupa��o pelo meio ambiente, pelo bem-estar da comunidade em que vive. Muitos abrem seu pr�prio neg�cio ou s�o convidados a ingressar em empresas da cidade", acrescentou Doralice.
Hoje, o projeto disp�e de lojas f�sicas em Curvelo, Ara�ua� e Raposos. Tamb�m conta com um calend�rio anual de feiras e exposi��es por todo o Brasil. H� produtos com valores que variam de R$ 18 (geleias e doces) a R$ 18 mil, entre eles r�plicas de animais premiados como boi, cavalo e touro em tamanho real. Comercializamos tamb�m por meio da loja virtual www.dedodegente.com.br."