postado em 04/08/2019 07:00 / atualizado em 02/10/2019 16:11
(foto: Arquivo/ Estado de Minas)
Quando entrei em um bonde pela primeira vez, devia ter uns 13 anos. Morava no Santo Ant�nio, Rua Leopoldina, e fui estudar no Instituto de Educa��o. Descia a rua sozinha, �s 7h, porque o bonde estava no fim da linha, que era na Rua Carangola, e a escola fechava o port�o de entrada �s 7h30.
A preocupa��o maior era n�o perder a moeda para pagar a passagem, uma vez transposta a dificuldade de conseguir subir no estribo, segurando o bala�stre e conseguir um lugar no banco que, naquela hora, e no fim da linha, j� estava virado para a descida pela Rua da Bahia.
(foto: Arquivo/ Estado de Minas)
O condutor fazia a m�gica de cobrar as passagens uma a uma, equilibrando-se do lado de fora do bonde. Outra dificuldade, para quem n�o era grande, era ter acesso ao cord�o que sinaliza a parada. Saltava do bonde na Rua da Bahia, esquina de Timbiras, e descia calmamente at� o Instituto de Educa��o, sem o menor problema.
Naquele tempo, n�o havia perigo, n�o havia transporte especial e o bonde era usado por todos, para passear, trabalhar ou estudar.
(foto: Arquivo/ Estado de Minas)
A idade foi aumentando e o uso do bonde foi ficando mais f�cil, porque em lugar de subir a Timbiras para us�-lo na volta, era muito melhor seguir pela Avenida Afonso Pena at� o abrigo que ficava quase na Pra�a Sete e tinha, nas laterais, lojinhas vendendo jornais, biscoitos, balas, tudo que a meninada queria e n�o tinha dinheiro para comprar; o cobrador n�o facilitava passagem de gra�a.
Os abrigos mereciam o nome que tinham, porque eram de alvenaria e protegiam os passageiros que esperavam o transporte nos dias de chuva. O fim da linha Santo Ant�nio era ali – e o motorneiro mudava de um come�o para outro do ve�culo, e em algumas ocasi�es tamb�m os fios el�tricos que impulsionavam os bondes.
(foto: Arquivo/ Estado de Minas)
As linhas eram incr�veis, serviam com seguran�a e hor�rio todos os bairros da cidade e, quando foram extintas no come�o da d�cada de 1960, depois do advento do tr�lebus, somavam 73 quil�metros.
Ricos e pobres usavam bondes sem o menor constrangimento e as paqueras j� existiam. Como os bondes tinham hor�rios estabelecidos, era f�cil seguir os namoricos na hora certa, era s� n�o perder o bonde.
(foto: Arquivo/ Estado de Minas)
No fim dos anos 1950, inicio dos 60, o ponto mais carnavalesco da cidade, antes dos bailes nos clubes, era a Confeitaria Elite, que ficava na Rua da Bahia, entre Afonso Pena e Rua Goi�s.
O ponto de parada do bonde era exatamente em frente � confeitaria e dele desciam a sociedade, mo�as, rapazes, casais para aproveitar a tarde cheia de “gatinhos” e socialites cariocas que vinham do Rio ca�ar marido em BH (e sempre conseguiam).
(foto: Jos� Gois/ Arquivo EM)
Outro lance que poucos conhecem, mas muitos aproveitaram, era a linha que ligava a Pra�a Sete � Pampulha. Fui em v�rias tardes de ver�o ao Iate T�nis Clube, na maior seguran�a, de bonde.
O bonde ainda era o transporte privilegiado quando, h� 60 anos, comecei a trabalhar nos Di�rios Associados. Descia a Rua Leopoldina para tomar o bonde na Rua Carangola, descia a Bahia e parava em frente ao Cinema Metr�pole, onde havia um ponto de parada.
(foto: Arquivo/ Estado de Minas)
Para onde voltava, �s vezes mais tarde, para tomar o �ltimo bonde da noite, para voltar para casa. Naquele tempo, os bondes j� come�avam a ser substitu�dos pelos tr�lebus, que paravam de circular � meia noite, eram mais confort�veis, mas n�o tinham o encanto dos bondes abertos.