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Estado de Minas Bilinguismo

De idiomas, bil�ngue ou internacional: as diferen�as do ensino que abre fronteiras

Disparam as ofertas de ensino bil�ngue em escolas de Minas e do pa�s. Modalidade amplia conhecimentos e oportunidades, mas � preciso estar atento a detalhes antes da matr�cula


01/09/2019 04:00 - atualizado 01/09/2019 08:13

Laura Caetano de Sá: experiência com o programa high school ampliou horizontes e abriu portas no exterior(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Laura Caetano de S�: experi�ncia com o programa high school ampliou horizontes e abriu portas no exterior (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)

 
O futuro est� indo muito al�m da matem�tica, da hist�ria e da geografia. Com a demanda do mercado por perfis inovadores e a busca de forma��o mais ampla e integral, explodiu nos �ltimos anos a procura pela educa��o que valoriza outro idioma. No passado, ingl�s, franc�s e at� o latim eram ensinados com excel�ncia nas salas de aula de col�gios p�blicos, para serem dominados pela vida toda, mas altera��es legais e os rumos da educa��o brasileira mudaram a hist�ria. Hoje, l�ngua estrangeira se tornou diferencial no ensino privado, com disparada no n�mero de institui��es aptas a atender a esse nicho em Belo Horizonte, seja em col�gios internacionais ou naqueles com um programa bil�ngue. E agu�am os olhares neste per�odo em que as institui��es abrem matr�culas para o ano que vem. O Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep/MG) estima aumento em torno de 40% no n�mero de escolas a oferecer o programa nos �ltimos dois anos. E alerta para os cuidados com os detalhes, j� que muitas podem n�o ser realmente bil�ngues.

Hoje, o ensino de idiomas � previsto, mas esbarra em diversos problemas, desde a forma��o do professor at� a regulamenta��o, conforme comenta a diretora do Bernoulli Go, Andreza F�lix. “A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) p�s o ingl�s como obrigat�rio a partir do 6º ano, o que dar� acesso a quem n�o estuda em programas bil�ngues e cursos livres”, afirma. A base, aprovada ano passado, estabelece conhecimentos e compet�ncias a serem desenvolvidas por estudantes de todo o pa�s ao longo da escolaridade b�sica.

Dados do British Council, organiza��o internacional do Reino Unido para rela��es culturais e oportunidades educacionais, mostram que 5% dos brasileiros falam ingl�s, mas apenas 1% � fluente na l�ngua. A presidente do Sinep, Zuleica Reis, explica que, por n�o haver regulamenta��o oficial, as organiza��es que re�nem as escolas bil�ngues definiram par�metros para que uma institui��o de ensino seja considerada como tal. Na educa��o infantil, ela deve ter no m�nimo 75% da carga hor�ria di�ria no idioma estrangeiro; no ensino fundamental 1, pelo menos um ter�o da carga hor�ria di�ria deve ser em outra l�ngua que n�o o portugu�s. J� nos ensinos fundamental 2 e m�dio � preciso que 25% da carga hor�ria di�ria seja na segunda l�ngua.

Diretora da unidade Nova Lima do Col�gio Santo Agostinho, Lorena Macedo afirma que a procura por escolas com esse padr�o come�ou quando elas ofertavam apenas os projetos de high school (o equivalente ao ensino m�dio na Am�rica do Norte): jovens que tinham a expectativa de estudar fora e queriam, por isso, aprender ingl�s de maneira eficaz. No col�gio, tudo come�ou com um convite do governo canadense para implementar os programas, que, de t�o fortes, levaram ano passado � cria��o da �rea de internacionaliza��o.

O programa bil�ngue foi implantado h� dois anos, desde o maternal. Nele, mat�rias tradicionais s�o ensinadas em ingl�s, durante o per�odo das aulas. “Vamos costurando o projeto de internacionaliza��o at� a universidade, ajudando, inclusive, o aluno que quiser cursar o ensino superior fora do pa�s”, explica. “� um processo muito mais amplo que s� ensinar o ingl�s de forma corrente. O aluno pequenininho come�a a falar e mistura com portugu�s, a princ�pio, de maneira que parece meio m�gica. A inten��o � que o estudante do fundamental 1 saia fluente na l�ngua”, diz. No high school, feito separadamente, h� op��o de diploma com dupla certifica��o, que permite o aluno, como um nativo canadense, estudar naquele pa�s.

FUTURO Para Lorena, o movimento � muito maior que as l�nguas em geral e passa por preparar o aluno para o futuro. “Pesquisas mostram que 65% das profiss�es ainda n�o existem, logo, precisamos ampliar esse leque para al�m das fronteiras”, diz, lembrando que o projeto bil�ngue envolve o conhecimento das mat�rias curriculares em ingl�s. A diretora faz um alerta: “As fam�lias precisam estar atentas ao que est� sendo chamado de projeto bil�ngue. N�o � uma aula de ingl�s estendida, cuja carga hor�ria era de duas vezes por semana e passa a ser de quatro ou cinco. Bilinguismo envolve o conhecimento das mat�rias curriculares em ingl�s. A l�ngua � o meio para se atingir o fim”.

Aprender e entender as mat�rias em outro idioma significa, nesse ponto de vista, mais que dar ao aluno uma segunda l�ngua, mas ensin�-lo a ser cr�tico, a pensar e querer mais, criar hip�tese, solu��es e conclus�es. “Esse � o motivo que me d� certeza de que � um processo que n�o vai parar por aqui. N�o tira o peso acad�mico, mas temos que oferecer mais. Mesmo n�o sabendo o que vem pela frente, fortalecemos as m�ltiplas habilidades dessa crian�a para que ela lide com o incerto”, afirma.

A estudante Laura Caetano de S�, de 17 anos, est� no 3º ano do ensino m�dio do Santo Agostinho e se formou tamb�m na high school da unidade Nova Lima do col�gio. Ela tinha as aulas do curr�culo convencional brasileiro pela manh� e, quatro tardes por semana, aulas do curr�culo canadense. Eram ministradas quatro mat�rias por semestre, sendo ingl�s e reda��o obrigat�rias. Entre as disciplinas, temas diferentes do que se aprende na sala de aula das escolas brasileiras: discuss�es pol�ticas globais, ci�ncias ambientais, empreendedorismo, lideran�a e turismo. Laura conta que optou pelo programa quando tinha 14 anos. “Foi uma decis�o minha, pois eu tinha um inc�modo pessoal com o sistema de ensino brasileiro, no qual o aluno � treinado s� para fazer prova do Enem e fazer reda��o no modelo do Enem. Acaba limitando a criatividade dos estudantes”, diz.

Com uma possibilidade bem diferente � vista, Laura se jogou na internacionaliza��o, aproveitando as oportunidades de cursos de ver�o. Em 2017, foi para o Boston College, nos Estados Unidos, ano passado esteve em Toronto (Canad�), por um programa da escola para aperfei�oar o ingl�s e no �ltimo m�s de junho foi para Harvard estudar pol�ticas e direito. O ganho de conhecimento foi ainda maior. “As aulas de reda��o e a experi�ncia de fazer ensino m�dio fora do pa�s melhoraram muito minha escrita. A escola treina os modelos convencionais para o Enem nas aulas de reda��o. A high school melhorou de fato minha capacidade de escrever.”

De olho em cursos de biologia molecular e gen�tica, a adolescente est� tentando vaga na gradua��o de universidades norte-americanas e canadenses e n�o descarta fazer o Enem. “O meu perfil de estudante � outro. N�o concordo com o modelo de educa��o brasileiro.”
 
 

Qual a diferen�a de escola/curso de idioma, educa��o bil�ngue e escola internacional?


  • A escola de ingl�s (ou outro idioma) enfatiza a estrutura gramatical da l�ngua, do vocabul�rio; ela explora o ensino da l�ngua como uma mat�ria em si para aprendizado.

  • Educa��o bil�ngue � o ingl�s sendo dado dentro da escola. A diferen�a � que se ensina o idioma integrado �s outras mat�rias, como artes, matem�tica, geografia e hist�ria. Com isso, o ingl�s passa a ser o meio de instru��o para desenvolver a mat�ria, e n�o uma mat�ria em si. O modelo gera integra��o curricular, fazendo com que o segundo idioma ou o idioma-alvo se torne o meio pelo qual a instru��o se d�.

  • A escola internacional, como a inglesa, brit�nica, alem�, francesa e su��a, usa o curr�culo do pa�s-alvo, ou seja, n�o � o curr�culo brasileiro – a educa��o bil�ngue usa o curr�culo brasileiro. As institui��es internacionais come�am o ano letivo em setembro, porque na Europa ou nos Estados Unidos � assim. Eles usam o curr�culo e calend�rio escolar ao qual a escola est� ligada.

Regulamenta��o

  • A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educa��o reconhece somente um tipo de ensino bil�ngue: o que abrange l�ngua portuguesa e intercultural ind�gena. Dessa forma, escolas que usam o ingl�s e outros idiomas n�o t�m uma legisla��o espec�fica que oriente suas atividades. Essas institui��es seguem os par�metros curriculares nacionais estabelecidos pelo Minist�rio da Educa��o. Para uma estrutura��o mais formal do trabalho com o segundo idioma, alguns col�gios optam por adotar curr�culos de outros pa�ses, o que requer uma cuidadosa adapta��o � realidade brasileira.

FONTE: Sinep/MG 
 
Aula na Fundação Torino: escola, que começou exclusivamente italiana, hoje tem também currículo brasileiro(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Aula na Funda��o Torino: escola, que come�ou exclusivamente italiana, hoje tem tamb�m curr�culo brasileiro (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

Internacionais s�o outra possibilidade 

 
A import�ncia de um segundo idioma h� muito � falada. A prolifera��o de cursos de l�ngua estrangeira em um primeiro momento e o aumento da carga hor�ria em escolas p�blicas s�o parte de um processo que vem se construindo ao longo dos anos. Mas somente agora h� a preocupa��o maior de se fazer escolas mais pr�ximas de uma realidade mundial. Mas, e quando um segundo idioma apenas n�o basta? Entram, ent�o, em cena as escolas internacionais, que s�o sustentadas por dois crit�rios: a cultura e o modelo did�tico educacional. “Na cultura, vou al�m do idioma”, afirma a diretora-geral da Funda��o Torino, M�rcia Naves.

O col�gio, localizado no Belvedere, na Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte, nasceu exclusivamente italiano h� 43 anos, com o objetivo de dar suporte educacional �s fam�lias de profissionais que vinham da It�lia trabalhar na f�brica da Fiat em Betim, na Grande BH. Os filhos de brasileiros tamb�m come�aram a frequent�-la e, em 1992, tornou-se uma escola internacional, com curr�culo tamb�m brasileiro e chancelada pelos minist�rios da Educa��o da It�lia e do Brasil. A partir da�, cresceu com a mentalidade de formar cidad�os sem fronteiras at� se consagrar como a maior escola italiana fora do pa�s de origem, conforme explica a diretora.

Os processos seletivos n�o ocupam necessariamente todas as vagas, pois, mais que o cognitivo, � preciso um comportamento que se adeque � escola. A demanda aumentou nos �ltimos anos, mas h� restri��o na oferta. Com o diploma do ensino m�dio, o aluno pode pleitear uma vaga em qualquer institui��o de ensino superior da comunidade europeia como um europeu, sem entrar na cota de estrangeiro.

CURR�CULO Disciplinas diferentes das oferecidas na grade curricular de uma escola tradicional puramente brasileira, todas aprendidas em outros idiomas, s�o a marca registrada de uma escola internacional. No Caso da Funda��o Torino, integram a proposta pedag�gica mat�rias como hist�ria da arte e arquitetura. Hist�ria do Brasil e mundial s�o ensinadas em profundidade. Livros importados d�o luz � literatura internacional, que tamb�m � valorizada na vers�o brasileira.

Desde pequeninos os estudantes s�o chamados a falar portugu�s, italiano e ingl�s. No fundamental 1, em que a carga hor�ria � maior do que a do Brasil, as crian�as s�o alfabetizadas simultaneamente em portugu�s e italiano. O ingl�s entra como outra l�ngua. No fundamental 2, o espanhol aparece como a quarta l�ngua. “No ensino m�dio, o aluno est� apto a falar todas. Ele conhece em profundidade, nas suas mais diversas formas, seja na ci�ncia ou na literatura”, diz M�rcia. “Temos um modelo educacional, as disciplinas e a cultura. E dentro da cultura temos o subitem que � o idioma. � assim que enxergamos. N�o falamos de globaliza��o de empresas, mas de indiv�duos.”

Sem a chancela de governos e sem inten��o de ser bil�ngue, para o ano que vem quem adere ao programa de bilinguismo � a Rede Arnaldo, com o padr�o e a metodologia da empresa International School. “N�o seremos uma escola bil�ngue. � um programa de educa��o, por meio do qual os professores de portugu�s, matem�tica, geografia e das outras disciplinas continuam dando suas mat�rias, mas com uma integra��o dos conte�dos com o ingl�s. A metodologia vai trabalhar projetos em que o idioma atue como o articulador de outras �reas”, explica a diretora de ensino da rede, Lucilene Antunes. O programa tr�s ainda muito conte�do de tecnologia, matem�tica, engenharia e artes.

O perfil do professor tamb�m � diferenciado: com flu�ncia em ingl�s e aberto � aprendizagem. Ele ser� orientado pedagogicamente pela escola a tratar dos conte�dos. Em um estudo sobre a fauna brasileira, por exemplo, embora o conte�do seja de ci�ncias, na aula de ingl�s poderia se fazer a compara��o com outros tipos de animais mundo afora. “� muito l�dico. � programa com muita hist�ria, desafios e estrat�gias envolvendo arte, metodologias de tecnologias. N�o foi a busca por mais um produto de mercado, mas por ampliar esse contexto cultural das crian�as. E nada melhor do que fazer isso do que pela linguagem”, acrescenta.

Parcial Tamb�m na linha da oferta bil�ngue est� o Bernoulli Go, que come�ou a funcionar este ano e que faz quest�o de ressaltar: uma escola brasileira, com as composi��es do curr�culo das disciplinas tradicionais em l�ngua portuguesa. A proposta � para atender aos alunos de 4 a 10 anos, na unidade criada para ir da educa��o infantil ao fundamental 1. O ingl�s � ofertado diariamente, dentro da carga hor�ria da crian�a. A partir do ano que vem, quando a primeira turma vai para o 6º ano, ser� proposta a continuidade do projeto.

“� uma imers�o parcial. Todos os dias, h� um percentual significativo de l�ngua inglesa, mas n�o � mesmo ofertado pelas escolas internacionais, em que o ingl�s � protagonista na matriz. A forma��o do curr�culo brasileiro tem uma proposta contempor�nea no trabalho com a l�ngua, di�rio e constante”, diz a diretora da unidade, pedagoga especialista em educa��o bil�ngue Andreza F�lix.  

Palavra de especialista 

Eliane Ferreira, diretora do Col�gio Unimaster/Grupo SEB, pedagoga e mestre em educa��o na �rea de inform�tica educacional e gest�o
 
Uma janela para o mundo
 
Hoje, com a globaliza��o da economia e do pr�prio modo de vida, n�o bastam qualifica��es profissionais ou acad�micas. A profici�ncia em l�nguas estrangeiras aumenta as oportunidades no mundo do trabalho. E n�o precisamos mais atravessar o oceano para complementar uma dupla certifica��o. Temos nos mercados mineiro e brasileiro excelentes escolas e redes de educa��o que se preocupam em oferecer esses programas, a exemplo da certifica��o do High School. Com ela, o estudante pode concorrer a vagas em universidades americanas e canadenses, entre outras, e ainda estar� mais preparado para fazer exames como Toefl, Toeic – ou pode mesmo nem precisar faz�-los. O programa se inicia no 9º ano do ensino fundamental e termina no final do 2º ano do ensino m�dio. Temos ainda, escolas bil�ngues, em que os estudantes desenvolvem os conte�dos e habilidades em uma segunda l�ngua, al�m do idioma materno. H� um mito de que a alfabetiza��o simult�nea de duas l�nguas pode causar confus�es lingu�sticas. Bialystok e colaboradores (2005) defendem que o bilinguismo, na verdade, contribui com o processo de alfabetiza��o, pois a crian�a tem uma capacidade maior de compreens�o da escrita e seus mecanismos, assim como uma facilidade em transferir os princ�pios de leitura de uma l�ngua para outra. A l�ngua materna, no entanto, � essencial para a aquisi��o da segunda l�ngua, pois ela proporciona a base necess�ria para que a crian�a possa construir suas hip�teses e vis�o de mundo. 


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