Ataque em escola de Minas faz lembrar massacres: veja como agiu o atirador
Estudante de 17 anos de Cara�, no Vale do Jequitinhonha, invadiu escola armado e vestido de preto, atirando contra colegas, como ocorreu em casos de Suzano e Realengo
postado em 08/11/2019 06:00 / atualizado em 08/11/2019 07:40
Escola estadual em distrito de 2 mil habitantes no munic�pio de cara�, no Vale do Jequitinhonha, foi alvo do ataque. Na sala que agressor tentou invadir ficaram as marcas da viol�ncia (foto: Primitivo Moreira/Divulga��o)
Ponto do Marambaia, distrito do munic�pio de Cara�, no Vale do Jequitinhonha, a 560 quil�metros de Belo Horizonte, sempre foi um povoado pacato, de 2 mil habitantes, localizado �s margens da BR 116 (Rio-Bahia). Mas a tranquilidade foi quebrada na manh� de ontem, quando o medo espelhado por massacres em escolas mundo afora, e especialmente em recentes ataques no Brasil e em Minas, invadiu a Escola Estadual Orlando Tavares, que atende a alunos do 6º ano do ensino fundamental ao 3º do ensino m�dio. O p�nico foi causado por um estudante de 17 anos, que, vestido de preto e armado com uma garrucha e um fac�o invadiu a unidade em que estuda, ateou fogo a mochilas de colegas e investiu atirando contra alunos, ferindo dois deles. Segundo a Pol�cia Militar, um “amor n�o correspondido” teria motivado o agressor, que foi apreendido.
O ataque provocou correria de crian�as e de m�es chorando e levou comerciantes a baixar portas de suas lojas. Segundo o diretor da escola, M�rcio Anselmo Vieira Matos, havia cerca de 300 alunos no local no momento da invas�o, que aconteceu por volta das 8h, quando parte dos estudantes fazia atividades de educa��o f�sica.
O atirador estuda no turno da manh�, no 2º ano, mas n�o havia comparecido � aula ontem. Segundo a Pol�cia Militar, vestido roupa preta, armado com uma garrucha de dois canos e com um fac�o, carregando ainda a r�plica de uma pistola, ele pulou o muro da unidade de ensino. Primeiro, foi at� uma sala de aula, onde ateou fogo a mochilas dos colegas. Tamb�m desligou a energia do pr�dio.
Ao tomar conhecimento de que o adolescente estava armado na escola, o diretor orientou que todos os professores trancassem as portas das salas. Na sequ�ncia, ouviu tiros e pessoas que estavam fora das salas de aula correram para sa�da de emerg�ncia.
O atirador tentou entrar numa sala de aula onde estavam cerca de 30 alunos. A a��o heroica da professora Sandra Borges Ferreira impediu consequ�ncias piores do ataque. Ela segurou a porta pelo lado de dentro, com a ajuda de outros alunos. O invasor, ent�o, atirou pelo lado de fora. A bala atravessou a porta e atingiu o aluno Marco Ant�nio Beir�o Santos, tamb�m de 17, no pesco�o. O estudante Fabr�cio Ferreira Passos, de 17, sofreu ferimentos na m�o direita e no dedo da m�o esquerda, provavelmente causados tamb�m pelo fac�o usado pelo agressor.
Sem conseguir entrar na sala, a informa��o � de que o jovem saiu atirando pelo corredor da escola, onde teria feito pelo menos cinco disparos. Chegou a apontar a arma para um professor, mas foi contido por um irm�o, que tomou a garrucha dele. Ao ser apreendido pela Pol�cia Militar, o estudante contou que a arma pertencia ao seu padastro, que acabou detido.
Um dos alunos que ajudaram a impedir a invas�o que poderia ser tr�gica foi ferido por tiro que transfixou a porta (foto: Reprodu��o da internet/WhatsApp)
Segundo relato de policiais, o atirador relatou que a inten��o dele era “assustar” duas colegas de sala, que n�o quiseram manter relacionamento com ele. O irm�o do atirador declarou que ele sempre foi tranquilo e nunca tinha apresentado transtornos.
Uma das adolescentes contou que vinha recebendo constantes mensagens do colega de sala, propondo namoro, mas que sempre as recusou. Na quarta-feira, ap�s mais um “n�o”, o estudante enviou outra mensagem com xingamentos contra a garota, que, por esse motivo, acabou bloqueando o jovem no aplicativo WhatsApp.
O autor do ataque chegou a dizer que um colega dele comentou sobre massacres ocorridos em escolas, referindo-se a ataques a institui��es de ensino em Realengo (RJ), Jana�ba (MG) e Suzano (SP). Um outro menor tamb�m foi apreendido no distrito de Ponto do Marambaia por suspeita de coautoria na a��o, embora o autor do ataque tenha dito que agiu sozinho.
Os estudantes feridos foram encaminhados para o Hospital Nossa Senhora M�e da Igreja, na vizinha Padre Para�so (a 15 quil�metros de Ponto do Marambaia). Fabr�cio Passos foi liberado. J� Marco Ant�nio, que perdeu muito sangue e teve de ser submetido a transfus�o, foi transferido para hospital em Te�filo Otoni. Na tarde de ontem, o quadro dele era est�vel.
P�nico e correria
“Foi a primeira vez que teve uma coisa dessas aqui. Foi terror mesmo. Todos os moradores ficaram apavorados”, contou o comerciante Adriano dos Santos Jardim, de 49, ao relatar os momentos de p�nico vividos pelos moradores. Ele � dono de uma loja de materiais de constru��o em frente � escola. Disse que vai ficar para sempre na sua mem�ria a cena de crian�as correndo apavoradas e m�es chorando, com o temor de que os filhos tivessem sido atingidos pelos tiros cujos estampidos vinham de dentro da escola.
Os momentos de p�nico tamb�m s�o recordados pelo balconista Primitivo Moreira Bento Neto, de 39. “Vi m�es correndo e chorando. As crian�as e professoras entraram na loja, com medo, na hora dos tiros”, disse Primitivo, revelando que, por precau��o, as portas da revenda de material de constru��o foram abaixadas, como as de outras lojas vizinhas.
Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Educa��o de Minas Gerais informou que, no fim da manh�, a equipe da Superintend�ncia Regional de Ensino (SRE) de Te�filo Otoni estava na escola para apurar o caso e dar apoio � dire��o, � comunidade escolar e �s fam�lias dos dois alunos feridos. “Representantes da SRE acompanham a situa��o dos alunos no hospital. A dire��o esclarece, ainda, que todas as informa��es necess�rias est�o sendo passadas para os �rg�os competentes, que far�o a investiga��o e apura��o do caso”, pontuou.
O governador Romeu Zema divulgou nota em que lamentou o epis�dio. “Uma trag�dia maior s� n�o ocorreu gra�as ao trabalho e a��o dos professores e alunos da Escola Estadual Orlando Tavares. J� determinei que seja prestado todo o apoio � institui��o de ensino, �s fam�lias das v�timas, aos estudantes, pais, professores, demais funcion�rios e a toda a comunidade escolar”, diz trecho no texto.
(foto: Arte EM)
Medo marca presen�a
Confira outros ataques em escolas de Minas e do Brasil
Suzano (SP)
(foto: Werther Santana/Estad�o Conte�do)
Na manh� de 13 de mar�o deste ano, um menor de 17 anos e Luiz Henrique de Castro, de 25, mataram seis estudantes e duas funcion�rias da Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, na Grande S�o Paulo. Eles eram ex-alunos da institui��o e se mataram depois de cometer o massacre. Ap�s o crime, outro jovem de 17 foi apreendido e apontado pela pol�cia como mentor intelectual da sequ�ncia de assassinatos. Outros dois homens foram presos acusados de intermediar e vender os armamentos aos assassinos.
Jana�ba (MG)
Ver galeria . 17 FotosVigia ateou fogo e matou crian�as na Cemei Gente Inocente, uma creche de Jana�ba, Norte de Minas Gerais. Ocorr�ncia mobiliza for�as de seguran�a e desespera moradores
(foto: Pol�cia Militar/Divulga��o )
�s 9h30 de 5 de outubro de 2017, o vigia Dami�o dos Santos invadiu a Creche Gente Inocente e ateou fogo � sala onde estavam os alunos. Ele se matou e tirou a vida de outras 13 pessoas, entre as quais 10 crian�as e a professora Helley Abreu. Mais de 50 pessoas ficaram feridas. Na ocasi�o, a professora Helley, que hoje d� nome � creche, entrou em confronto corporal com o invasor e impediu que ele ferisse mais crian�as. Ela ainda ajudou no resgate dos alunos e morreu com 90% do corpo queimado. Investiga��o da Pol�cia Civil apontou que o vigia sofria de transtorno mental.
Goi�nia (GO)
Na capital do estado de Goi�s, um estudante de 14 anos abriu fogo contra os colegas no Col�gio Goyases. Dois adolescentes morreram e outros quatro ficaram feridos. Uma menor ficou parapl�gica por causa do massacre. O caso aconteceu em 20 de outubro de 2017, dias depois de Jana�ba. Ele usou uma pistola calibre .40 que era da m�e, uma policial militar, e alegou o bullying sofrido na escola como motiva��o.
Realengo (RJ)
O massacre de Realengo, no qual Wellington Menezes de Oliveira entrou na Escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, e matou 12 estudantes em abril de 2011, � outra trag�dia que manchou a rotina de escolas brasileiras. O jovem, com 23 anos � �poca, era ex-aluno da institui��o e entrou armado no col�gio com dois rev�lveres. Tamb�m feriu 13 menores entre 12 e 14 anos. Os alvos eram, principalmente, adolescentes do sexo feminino. O assassino levou dois tiros de policiais militares, na perna e no abd�men, e depois atirou contra a pr�pria cabe�a, morrendo imediatamente.