Com jardins renovados, Pampulha exibe show de cores na semana do anivers�rio de BH
Ap�s recupera��o na �rea da Igreja S�o Francisco de Assis, canteiros projetados por Burle Marx come�am a ser refeitos tamb�m no MAP e enchem os olhos de novos e antigos visitantes
postado em 13/12/2019 06:00 / atualizado em 13/12/2019 07:49
Folhagens e flores se destacam na paisagem no entorno da rec�m-restaurada Igreja S�o Francisco de Assis, um dos �cones do conjunto moderno (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
O ver�o come�a no pr�ximo dia 22, � 1h19, e recebe de heran�a, desta primavera, as novas flores que ornamentam os jardins projetados pelo paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994), na d�cada de 1940, para a Pampulha, em Belo Horizonte – cores, formas e harmonia sa�dam, n�o apenas a troca de esta��es, como tamb�m a semana de anivers�rio da capital que, ontem, chegou aos 122 anos de sua inaugura��o. Para quem se encanta com o conjunto moderno, reconhecido como patrim�nio da humanidade, vale a pena conferir as novidades: o jardim da Igreja S�o Francisco de Assis foi todo conclu�do, enquanto no Museu de Arte da Pampulha (MAP) falta pouco na parte da frente, ficando a �rea pr�xima � lagoa para depois do restauro do pr�dio.
“A Pampulha � um grande jardim”, orgulha-se a diretora de Gest�o e Educa��o Ambiental da Funda��o de Parques Municipais e Zoobot�nica (FPMZB), Laura Mour�o. Lembrando que as mudas usadas na manuten��o dos jardins s�o do Viveiro Burle Marx, no Jardim Bot�nico, na Pampulha, Laura conta que, na ter�a-feira, foi iniciado o servi�o na Casa do Baile, atual Centro de Refer�ncia em Urbanismo, Arquitetura e Design de Belo Horizonte, estando engatilhados, para 2020, o Museu Casa Kubitschek e a Pra�a Dalva Sim�o.
E foi exatamente o MAP o local escolhido por tr�s estudantes belo-horizontinas para um trabalho de escola, com grava��o de um v�deo de dan�a – elas chegaram e ficaram � vontade no jardim, ensaiando os passos, fazendo poses e curtindo o verde das folhagens, o vermelho da cana-da-�ndia, marca registrada dos projetos de Burle Marx nos anos 1940, e o vinho do cora��o magoado. Ao trio formado por Ana Lu�za Rodrigues, de 12 anos, Ana J�lia Amaral, de 13, e Alexssya Muniz, de 14, se juntou, pouco depois, Bianca Giovana Gomes, de 13, tamb�m do Col�gio Tiradentes.
Ana J�lia Amaral (E), de 13 anos, no passeio � Pampulha com as amigas Ana Lu�za Rodrigues e Alexssya Muniz: "Belo Horizonte � como se fosse um peda�o de mim" (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Para as garotas, vestidas a car�ter, foi um momento de pura alegria e tamb�m de declara��es � terra natal. Junto da m�e Luciene Paula, decoradora de festas e casada com um militar, Ana J�lia n�o escondeu a emo��o diante da paisagem: “A cidade � como se fosse um peda�o de mim”. Mesmo com o MAP fechado para obras, Ana Lu�za destacou que a capital representa arte e tem muitas belezas, enquanto Alexssya foi diretamente ao ponto – “Amo BH” – e Bianca n�o deixou por menos: “Belo Horizonte � especial, gosto de tudo aqui”.
Nas caminhadas, nas visitas aos equipamentos culturais ou simplesmente contemplando o espelho d'�gua, todas as gera��es se encontram na Pampulha. Perto de completar 80 anos, o portugu�s Ant�nio Soares Ferreira contou que mora h� 43 na cidade e acompanhou, de perto, as transforma��es no bairro onde vive e o qual considera o mais bonito da capital. “Quando cheguei aqui, a lagoa se prolongava at� a Toca da Raposa, a �gua era muito limpa, n�o tinha tantas casas”, recorda-se o homem que trabalhou como comerciante e criou a fam�lia. Como nada � perfeito, moradores e visitantes pedem mais aten��o com o cart�o-postal da cidade, de forma especial com a limpeza da lagoa, que traz � tona um cheiro forte e, muitas vezes, insuport�vel.
Ant�nio Soares Ferreira, portugu�s residente em BH h� 43 anos: "Quando cheguei aqui, a lagoa se prolongava at� a Toca da Raposa, a �gua era muito limpa, n�o tinha tantas casas. Gosto da Pampulha, criei aqui minha fam�lia" (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Mem�ria afetiva
Marcos Contrucci, de 80, morador do Rio de Janeiro e visitante contumaz de BH: "Lembro-me de quando a Avenida Ant�nio Carlos era uma estrada no meio do nada. Hoje a regi�o est� muito mais bonita, principalmente os jardins de Burle Marx" (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Caminhando em torno da S�o Francisco de Assis, enquanto espera uma reuni�o numa empresa, o engenheiro metal�rgico carioca Marcos Contrucci, de 80, diz que conheceu bem a Pampulha nos “anos dourados” e enaltece as figuras de Juscelino Kubitschek (1902-1976), prefeito de BH na �poca da constru��o do templo dedicado ao protetor da natureza, Casa do Baile, MAP (antigo cassino) e Iate T�nis Clube, e Oscar Niemeyer (1902-2012), autor dos projetos arquitet�nicos. “Lembro-me de quando a Avenida Ant�nio Carlos era uma estrada no meio do nada. Hoje a regi�o est� muito bonita, principalmente os jardins de Burle Marx”, afirma o carioca que, quando crian�a, morou em frente da casa do arquiteto, no Rio de Janeiro (RJ), e, pela intimidade, se refere a ele como Oscar. “S� n�o segui a profiss�o dele, a arquitetura, porque desenhava muito mal. Aquela �poca (anos 1940) foi de homens extraordin�rios”, destaca Contrucci.
O certo mesmo � que a Pampulha continua fazendo sucesso de p�blico. Morador h� quatro anos da capital, onde estuda teologia, o pastor presbiteriano Lucas Neves, de Governador Valadares, na Regi�o Leste do estado, trouxe para passear a noiva, Rafaella Rabelo, e os pais, Jos� e Diacu�. “H� 30 anos n�o via a igrejinha. Restaurada, est� bonita demais”, afirmou Diacu�, cujo nome de origem ind�gena significa flor. Lucas tamb�m elogiou a arquitetura. “Curioso � que a parte de tr�s da igreja � mais bonita do que a frente”, comentou o pastor sobre a obra de C�ndido Portinari (1903-1962) retratando a vida de S�o Francisco de Assis.
Conquista
Para entender melhor a Pampulha e a conquista, em 17 de julho de 2016, do t�tulo de Patrim�nio da Humanidade concedido pela Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e a Cultura (Unesco) � preciso olhar no retrovisor do tempo e ressaltar alguns pontos. A hist�ria come�a na d�cada de 1930, com a constru��o da barragem da Pampulha para abastecimento de �gua da popula��o, na administra��o do prefeito Otac�lio Negr�o de Lima (1897-1960), que p�s em pr�tica o projeto do engenheiro Henrique de Novaes. Dez anos depois, quando assumiu a prefeitura, o prefeito Juscelino Kubitschek (1902-1976) decidiu ampliar a �rea da represa e fez um concurso para a constru��o de um cassino, embora n�o satisfeito com o resultado. Pediu ent�o opini�o a Gustavo Capanema (1900-1985), ministro da Educa��o do governo Get�lio Vargas, que o apresentou ao jovem arquiteto Niemeyer.
Capanema passara pela experi�ncia de construir o pr�dio do Minist�rio da Educa��o e Sa�de, no Rio de Janeiro, hoje Pal�cio Gustavo Capanema e primeira constru��o moderna no pa�s. Para tanto, convidara o arquiteto franco-su��o Le Corbusier (1887-1965), que revolucionou a arquitetura mundial, sendo chamado de “pai da arquitetura moderna”. Niemeyer trabalhava na equipe que constru�a o pr�dio e, com aval de Capanema e do arquiteto L�cio Costa (1902-1998), foi convidado por JK para trabalhar em BH.
Carreira
Nas p�ginas do seu livro As curvas do tempo: mem�rias, de 1998, Niemeyer escreveu que a Pampulha significou um despertar na sua carreira, servindo de refer�ncia at� para o projeto de Bras�lia, inaugurada em 1960 e fruto da sua parceria com o urbanista L�cio Costa (1902–1998). Enquanto o mundo ainda valorizava o �ngulo reto, a Pampulha explodia em curvas. Com efeito, vai ficar na hist�ria uma das frases de Niemeyer que resumem esse pensamento: “N�o � o �ngulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflex�vel, criada pelo homem. O que me atrai � a curva livre e sensual”.