
Cerca de 4.300 pacientes com quadro grave de COVID-19 podem ficar sem leitos de UTI em Minas caso a pandemia evolua como Wuhan (China) e o sistema de sa�de estadual n�o seja ampliado. Al�m disso, outros 3.779 pacientes menos graves podem ficar sem respiradores e 13.910 sem acesso a leitos comuns.
Essa � uma das conclus�es poss�veis dos dados do artigo “Cen�rios para a demanda vs. oferta de leitos de UTIs e respiradores na epidemia COVID-19 no Brasil”. A pesquisa foi elaborada pelo professor Gonzalo Vecina Neto, da Faculdade de Sa�de P�blica da Universidade de S�o Paulo (USP), o matem�tico Lucas Amorim e o economista Gustavo Kay. O trabalho simula o impacto que o coronav�rus pode ter nos sistemas de sa�de estaduais e no pa�s. Ou seja, n�o se trata de pesquisa epidemiol�gica, mas matem�tica.
Os n�meros acima s�o o resultado de um c�lculo que leva em considera��o que cerca de 105 mil mineiros sejam infectados – 0,5% da popula��o – e a velocidade de propaga��o do v�rus seja de 31%. Essas caracter�sticas s�o as mesmas verificadas em Wuhan, que foi o epicentro original da pandemia.
A pesquisa aponta um cen�rio ainda mais pessimista para Minas. Caso n�o se amplie a capacidade dos hospitais e o coronav�rus infecte 3% da popula��o do estado – 630 mil pessoas – mais de 30 mil podem ficar sem UTI. Com os hospitais lotados, pacientes graves ficar�o em casa, onde ter�o mais chance de morrer.
De acordo com a pesquisa, esse cen�rio pode acontecer se a propaga��o do v�rus n�o for freada e o ritmo de crescimento de casos se mantenha em 31%. Al�m dos que podem ficar sem tratamento intensivo, mais de 29 mil podem ficar sem respiradores e mais de 116 mil sem leitos de enfermaria. Nessa possibilidade, a crise deve durar 83 dias.
Por outro lado, se os recursos hospitalares forem ampliados e a propaga��o seja freada, nenhum habitante de Minas deve ficar sem UTI, respirador ou leito comum. De acordo com os dados do artigo, isso aconteceria se todas as cirurgias eletivas fossem adiadas e o n�mero de recursos fosse expandido em 10%.
Velocidade da contamina��o
Al�m disso, para que nenhum mineiro fique sem atendimento, o modelo matem�tico calcula que seria preciso abaixar a velocidade de propaga��o para 15%, levando em considera��o 105 mil infectados no estado. Assim, a crise seria mais longa, de 137 dias, mas n�o sobrecarregaria o sistema de sa�de. � o que os especialistas chamam de “achatar a curva” de casos da COVID-19.
Essa possibilidade, no entanto, � mais dif�cil de alcan�ar. A amplia��o da capacidade do sistema de sa�de passa pelo gasto de recursos e da vontade pol�tica das autoridades. Al�m disso, para reduzir a velocidade de propaga��o, poderiam ser necess�rias medidas duras de conten��o da movimenta��o. Apesar de afirmar que as diferentes vari�veis n�o indicam uma determinada pol�tica p�blica, os pesquisadores escrevem que o Estado pode reduzir a velocidade impondo o isolamento social, por exemplo.
Distribui��o � problema
Outro problema � a distribui��o das UTIs, leitos comuns e respiradores entre o Sistema �nico de Sa�de (SUS) e a rede privada. Segundo a pesquisa, com base em informa��es do Minist�rio da Sa�de e do Conselho Federal de Medicina, 1.599 dos 4.314 leitos de UTI dispon�veis em Minas est�o na rede privada. J� 13.786 dos 40.699 leitos de enfermaria est�o concentrados nos hospitais particulares, enquanto apenas 1.921 dos 6.263 respiradores est�o dispon�veis no SUS. Ou seja, boa parte desses recursos s�o praticamente acess�veis para quem tem plano de sa�de. Em Minas, segundo os dados usados pelo artigo, cerca de 16 milh�es de pessoas n�o t�m plano, enquanto 5 milh�es disp�em do benef�cio.
O trabalho tamb�m simula como o sistema de sa�de de todo o pa�s pode ser impactado pelos pacientes com a COVID-19 em estado grave. Segundo os dados, se os recursos hospitalares n�o forem ampliados e a pandemia tiver caracter�sticas semelhantes da que teve em Wuhan, mais de 42 mil brasileiros podem ficar sem UTI. Nesse caso, aproximadamente 1,05 milh�o de brasileiros seriam infectados, o ritmo de aparecimento de novos casos por dia seria de 31% e demoraria 77 dias para a crise acabar.
Em um cen�rio em que o v�rus infecta ainda mais pessoas – 6,3 milh�es, ou 3% da popula��o do Brasil – mais de 300 mil pacientes em estado grave podem ficar sem leitos de tratamento intensivo. Isso aconteceria se o ritmo di�rio de novos casos n�o fosse reduzido para abaixo de 31%. Nessa hip�tese, o �ltimo caso de infec��o por coronav�rus apareceria depois de 88 dias.
Atendimento intensivo
Se as condi��es para que n�o falte atendimento em Minas Gerais forem aplicadas no Brasil, muitas pessoas ainda ficariam sem vagas nas UTIs. Caso a velocidade de propaga��o fosse reduzida para 15%, todas as cirurgias eletivas fossem adiadas e os recursos ampliados em 10%, 2.500 brasileiros ainda ficariam sem UTI. Isso considerando 1,05 milh�o de infectados no total e uma crise mais extensa, de 148 dias.
Esses cen�rios para Minas e o Brasil s�o apenas alguns dos v�rios da pesquisa. Os n�meros de pessoas que ficariam sem atendimento, os dias de dura��o da crise e os demais resultados mudam com diferentes vari�veis. Para elaborar o modelo matem�tico, os pesquisadores fizeram proje��o de casos totais, a partir de duas vari�veis. A porcentagem da popula��o infectada – que varia entre 0,25% e 20% - e a velocidade de propaga��o do v�rus – que pode ser de 15% ou at� 45%.
* Estagi�rio sob supervis�o do subeditor Paulo Nogueira