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Estado de Minas CASO BACKER

Tratamentos cancelados e exposi��o ao v�rus: v�timas do 'Caso Backer' vivem dilema durante pandemia

Com a recomenda��o por isolamento social, algumas v�timas dependem de tratamentos virtuais, mas h� procedimentos imposs�veis de fazer � dist�ncia


postado em 20/04/2020 18:07 / atualizado em 20/04/2020 20:30

Hemodiálise é um dos tratamentos que não é possível fazer a distância. Na foto, Clóvis Artur, uma das 42 pessoas que foram intoxicadas(foto: Arquivo pessoal)
Hemodi�lise � um dos tratamentos que n�o � poss�vel fazer a dist�ncia. Na foto, Cl�vis Artur, uma das 42 pessoas que foram intoxicadas (foto: Arquivo pessoal)
Depois de uma intoxica��o ainda pouco explicada que matou nove pessoas e fez com que dezenas perdessem a fala, os sentidos e os movimentos, v�timas de subst�ncias t�xicas presentes em lotes de cervejas da Backer t�m mais uma barreira a superar. Desde que a pandemia de coronav�rus abalou os servi�os da capital, v�rias delas se veem impedidas de continuar o tratamento que lhes dava esperan�a de um dia poder voltar � vida normal.  

Fonoaudiologia, fisioterapia e hemodi�lise s�o tratamentos comuns entre as v�timas da intoxica��o. No entanto, com as restri��es de proximidade adotadas para prevenir o cont�gio do coronav�rus, profissionais m�dicos tiveram que cancelar suas sess�es, afetando consideravelmente a melhora dessas pessoas. 

Vanderlei de Paula Oliveira foi uma das primeiras v�timas da intoxica��o. Em 15 de fevereiro do ano passado, ele foi internado no hospital ap�s passar mal e ficou na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por tr�s meses. Depois disso, Vanderlei ainda teve que ficar mais dois meses internado e s� recebeu alta em julho. No entanto, neste ano, ele teve que voltar ao hospital e ficou internado mais duas vezes. 

Vanderlei ficou internado durante cinco meses (foto: Arquivo pessoal)
Vanderlei ficou internado durante cinco meses (foto: Arquivo pessoal)


Atualmente, ele se divide entre a fisioterapia, para voltar a ter o controle total de seus movimentos, e a fonoaudiologia, para o tratamento da voz. Com a pandemia no meio de mar�o, por�m, Vanderlei teve que abandonar suas idas aos tratamentos e passou a fazer a fisioterapia tr�s vezes por semana de forma online. J� a fonoaudiologia teve que ser cancelada. 

“Estou fazendo fisioterapia porque � muito perigoso ficar sem. Por v�deo, a fisioterapeuta me d� orienta��es e eu fa�o os movimentos, mas a fonoaudiologia � mais dif�cil porque tem massagens e outras coisas que no v�deo n�o d� pra ver bem, ent�o n�o estou fazendo. Em casa, eu fa�o os exerc�cios, mas n�o � a mesma coisa, j� tinha seis meses que fazia esses tratamentos”, conta.

Vanderlei antes da intoxicação(foto: Arquivo Pessoal)
Vanderlei antes da intoxica��o (foto: Arquivo Pessoal)


Em meio � falta de um tratamento completo, Vanderlei j� come�a a sentir os resultados em seu corpo. “Essa mudan�a � n�tida, a gente sente isso. Na primeira semana, voc� percebe que tem uma coisa ficando diferente”, comenta. Como explica, desde que mudou o sistema da fisioterapia, ele voltou a ter dificuldades com o equil�brio na hora de caminhar e na movimenta��o das m�os. “Preocupa porque tem um certo limite de tempo que a gente pode tentar reverter esses problemas motores”, ressalta.

Outro problema enfrentado por Vanderlei atualmente � a dist�ncia dos sogros que, desde a intoxica��o, vinham ajudando ele e sua esposa a tomar conta de suas filhas de dois e seis anos. No entanto, por serem idosos, eles tiveram que se afastar durante a pandemia. “O que j� era dif�cil, est�  bem complicado agora. Antes, meus sogros me ajudavam muito, mas agora � um risco pra mim e pra eles. No in�cio, eles n�o entenderam muito bem isso, mas agora est�o aceitando mais”, lamenta.

Hemodi�lise

J� com a hemodi�lise, Vanderlei n�o pode parar. O tratamento � recomendado para pessoas que est�o com os rins afetados e n�o conseguem  filtrar e limpar o sangue. Por depender de m�quinas e ser um procedimento complexo, a terapia tem que ser feita em uma cl�nica. Diante disso, Vanderlei vai tr�s vezes por semana a um estabelecimento no Bairro Funcion�rios, na Regi�o Centro Sul de Belo Horizonte. As idas geram preocupa��o em toda a fam�lia, j� que cl�nicas e hospitais s�o locais prop�cios � circula��o do coronav�rus.

“Eu n�o tenho escolha, tenho que ficar retido, mas tamb�m tenho que sair tr�s vezes para fazer hemodi�lise. Acabo ficando com outras pessoas do grupo de risco e enfermeiros que trabalham em hospitais, por isso saio de m�scara e outros equipamentos de prote��o”, conta. 

Grupo de risco

J� com Cl�vis Artur dos Reis, outra v�tima da Backer, a situa��o � ainda mais preocupante. Com 69 anos, ele faz parte do grupo mais suscet�vel a complica��es pelo coronav�rus. Mesmo assim, desde que saiu da interna��o, em 14 de janeiro, ele precisa fazer o tratamento renal tr�s vezes por semana, no Hospital Fel�cio Rocho.

Por�m, tudo ficou ainda mais grave quando, devido � pandemia, a fam�lia teve que cancelar a ambul�ncia que o buscava em casa para fazer a hemodi�lise. Com a propaga��o intensa do v�rus, o ve�culo deixou de ser um local seguro para ele. 

Clóvis no dia em que tomou a cerveja contaminada (Clóvis à esquerda, de blusa branca)(foto: Arquivo pessoal)
Cl�vis no dia em que tomou a cerveja contaminada (Cl�vis � esquerda, de blusa branca) (foto: Arquivo pessoal)


Desde ent�o, os filhos, de 31 e 28 anos, v�m se revezando para levar o pai ao hospital. O problema � que Cl�vis fica traqueostomizado 24 horas por dia, o que dificulta o transporte dele via carro particular.  “Cortamos a ambul�ncia porque n�o d� tempo de higienizar tudo. Agora, a gente leva ele no hospital tr�s vezes por semana e corremos o risco de lev�-lo com a bala de oxig�nio no carro. Temos medo porque, se ele pegar esse coronav�rus, vai ser fatal”, comenta a esposa Val�ria Drumond.

J� em rela��o aos outros tratamentos, os profissionais m�dicos v�o at� a casa de Cl�vis. “Conseguimos com que esse profissionais n�o trabalhem em hospitais e assim corremos menos riscos de pegar essa doen�a”, conta Val�ria. 

Investiga��es

Ao todo, s�o investigados 42 casos de contamina��o por mono e dietilenoglicol em lotes da cerveja Belorizontina, da Backer. Desse total, nove morreram e v�rias outras ficaram longo tempo internadas. Atualmente, a Pol�cia Civil apura na f�brica da empresa como se deu a contamina��o do l�quido - no �ltimo dia 8, o delegado respons�vel pelo caso, Fl�vio Grossi, descartou a hip�tese de sabotagem.  Agora, os investigadores trabalham com as linhas de erro de procedimento na f�brica ou contamina��o dolosa.

Em meio �s investiga��es, familiares das v�timas ainda brigam na Justi�a, para que a empresa custeie as despesas m�dicas gastas com o tratamento. Em idas e vindas, no dia 19 de mar�o, a Justi�a decidiu bloquear R$ 50 milh�es da Backer, para que a cervejaria pagasse o procedimentos m�dicos e para assegurar uma poss�vel indeniza��o no futuro.

No entanto, apesar da decis�o judicial, as fam�lias reclamam que at� hoje n�o tiveram acesso ao dinheiro. Por outro lado, a Backer refor�a que patrim�nio j� foi bloqueado e que o Tribunal de Justi�a de Minas Gerais estabeleceu que a quantia seria destinado apenas a v�timas associadas � a��o movida pelo Minist�rio P�blico - 13, das 42.

Mesmo assim, conforme o Estado de Minas apurou, ainda nada foi pago pela empresa. Ainda de acordo com a cervejaria, foi solicitada � Justi�a uma audi�ncia de concilia��o com o Minist�rio P�blico e os representantes das 13 fam�lias, “com o objetivo de dar celeridade � presta��o do aux�lio financeiro”.

De acordo com o advogado Andr� Couto, que defende seis v�timas - duas delas j� mortas -, mesmo que o dinheiro bloqueado seja enviado �s v�timas, pouco mudar�. O motivo? De acordo o representante, a Justi�a encontrou apenas cerca de R$12 mil nas contas da cervejaria.  “A Backer faturou R$ 72 milh�es no ano passado e s� foi encontrado R$ 12 mil em conta. T� na cara que eles est�o enrolando e n�o querem custear as despesas emergenciais das v�timas”, defende o advogado.

O Estado de Minas questionou o TJMG sobre a afirma��o do advogado, mas a assessoria de imprensa informou que o processo est� sob sigilo. A reportagem tamb�m perguntou ao Minist�rio P�blico de Minas Gerais sobre o porqu� de s� 13 v�timas estarem associadas ao processo, mas o �rg�o tamb�m refor�ou que o processo � secreto.

*Estagi�rio sob supervis�o de Bruno Furtado


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