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Estado de Minas

Dia das M�es em tempos de COVID-19: como elas driblam a saudade

Afastadas dos filhos pela pandemia, em pa�ses diferentes ou por for�a dos riscos da profiss�o, mulheres falam das dores do amor remoto em um m�s das m�es at�pico


postado em 09/05/2020 04:00 / atualizado em 09/05/2020 13:56

Gessi com os filhos Daniela, Bruno e Flávia: último Dia das Mães com todos reunidos foi em 2003(foto: Arquivo pessoal)
Gessi com os filhos Daniela, Bruno e Fl�via: �ltimo Dia das M�es com todos reunidos foi em 2003 (foto: Arquivo pessoal)

''O que falo para eles agora � o que sempre disse, desde que eram pequenos: eu os amo, e quero que tenham cuidado a� no Brasil''

Gessi da Silva Andrade, aposentada, que n�o p�de voltar do Reino Unido, e passar� o Dia das M�es pela primeira vez sem dois dos seus filhos



Em tempos de isolamento social, a saudade das pessoas que fazem parte da nossa vida, como amigos e colegas de trabalho, aperta o cora��o com o passar dos dias. Para muitos, o al�vio da quarentena vem justamente da possibilidade de conviver com aqueles que s�o mais pr�ximos: a fam�lia. Mas, para diversas m�es, a data que lhes � dedicada surge no calend�rio deste ano, pela primeira vez, sem a companhia de seus eternos pequenos. “A preocupa��o � que tudo esteja bem com ela. N�o tem a presen�a f�sica, mas vamos compartilhar nosso amor a dist�ncia.” Assim, a pedagoga Michele Perdig�o de Assis, de 48 anos, classifica o primeiro Dia das M�es sem a companhia da filha Clara, de 17, em interc�mbio no Canad�.

Como sentimento de m�o dupla, a saudade est� tamb�m do outro lado, das m�es que est�o longe. “O que falo para eles agora � o que sempre disse, desde que eram pequenos: eu os amo e quero que tenham cuidado a� no Brasil”, pontua a aposentada Gessi da Silva Andrade, de 72, que passar� a data pela primeira vez sem dois dos seus filhos: Bruno e Fl�via.

O distanciamento dessas e de muitas outras m�es e seus filhos tem um motivo comum: a pandemia do novo coronav�rus. Gessi est� em Londres desde 10 de mar�o e tinha passagem de volta marcada para o 21 de abril. N�o p�de retornar por causa do caos nos aeroportos. J� a pedagoga Michele Perdig�o Assis, em meio � crise da sa�de, chegou a cogitar o retorno da filha, que estuda ingl�s na cidade de Burnaby, costa Oeste do Canad�, mas desistiu da ideia por recomenda��o das escolas e da empresa que organizam a viagem.
Michele e a filha Clara, que estuda inglês no Canadá: viagem de volta cancelada e contato apenas pelo vídeo(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Michele e a filha Clara, que estuda ingl�s no Canad�: viagem de volta cancelada e contato apenas pelo v�deo (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

“Com a pandemia, achamos  melhor que ela ficasse l� mesmo, porque o tr�nsito nos aeroportos estava muito intenso. Ouvimos as escolas e achamos melhor, porque v�rios voos estavam sendo cancelados. Ela poderia ficar retida em alguma cidade”, explica Michele. “A Clara tamb�m � uma menina muito determinada, estava muito tranquila, porque est� com uma fam�lia que cuida bem dela l�. Conversamos por v�deo. Conhe�o bem a express�o da minha filha quando est� confiante”, garante.

Mesmo com a certeza de que a jovem est� bem no Canad�, a pedagoga ainda se queixa do primeiro Dia das M�es sem a companhia da filha mais velha. “Nosso n�cleo familiar � pequeno, ent�o sempre fazemos um almo�o aqui em casa. Vamos conversar por v�deo no dia, mas ela n�o vai poder sentir o cheirinho da minha comida”, diz a m�e, orgulhosa da tradi��o familiar.

A comunica��o remota virou uma constante na casa de Michele Perdig�o. Apesar de n�o t�o distantes geograficamente, o marido dela, Leonardo Augusto Machado Campos, de 55, e a sogra, Maria da Piedade Machado Campos, de 96, agora s� se veem assim, j� que ele trabalha com fornecimento de medicamentos e equipamentos hospitalares, fun��o essencial durante a pandemia. “Ele vai ao pr�dio da irm� e da m�e para ter not�cias. As duas av�s sempre perguntam como a Clara est� no Canad�. Isso nos d� muita for�a para superar a saudade dela”, afirma a pedagoga.

''Nosso n�cleo familiar � pequeno, ent�o sempre fazemos um almo�o aqui. Vamos conversar por v�deo no dia, mas ela n�o vai poder sentir o cheirinho da minha comida''

Michele Perdig�o de Assis, cuja filha, Clara, de 17 anos, continuou no interc�mbio no Canad�, apesar da inten��o inicial de voltar, devido � pandemia


NETOS

O deslocamento de um parente durante a pandemia tamb�m � preocupa��o de Gessi da Silva Andrade. O filho do meio, Bruno Andrade, de 42, trabalha com transporte de alimentos para supermercados da Grande BH. “Sempre falo com ele para ter cuidado, principalmente por causa dos meninos (os netos)”, conta.

Se a pandemia impediu o retorno dela ao Brasil, onde passaria o Dia das M�es com Bruno e a ca�ula Fl�via, Gessi comemora o fato de ficar em Londres para compartilhar o momento com a mais velha, Daniela Andrade, de 44. “N�o passo o domingo das m�es com os tr�s desde 2003, antes de a Dani vir morar aqui (no Reino Unido). � sempre uma data marcante, pois me lembro muito do meu marido (Vicente Andrade, falecido em 2009). Eles combinavam de me dar um presente, mas era sempre ele quem pagava”, lembra a aposentada com entusiasmo. “De uma outra vez, me deram um jogo de ta�as de cristal. S� quebrou uma e me doeu muito na �poca. S�o lindas”, diz, ressaltando que os presentes “sem dicas”, aqueles inesperados, sempre foram os mais emocionantes.

''Faz�amos chamadas de v�deo e ela conversava por um tempo, mas depois ficava chorosa e pedia o %u2018mam�%u2019. Naquele per�odo, ela descobriu a palavra saudade''

J�lia Rocha, m�dica, ao falar sobre o contato remoto com a filha Gabriela, de 3 anos


Aprendizado da dist�ncia


Superar um dos maiores desafios profissionais e conciliar, ao mesmo tempo, a falta do contato di�rio com a filha. Foram 21 dias que pareceram anos para J�lia Rocha, m�dica da fam�lia vinculada � Estrat�gia Sa�de da Fam�lia, uma das portas de entrada do Sistema �nico de Sa�de (SUS). Enquanto a profissional estava na “linha de frente” no combate � COVID-19, Gabriela, de apenas 3 anos, aprendia – e sentia – o significado da palavra saudade.

Bibi, como � chamada pela m�e, precisou entender rapidamente o que era um dos sentimentos que mais sofrimento causam nas rela��es interpessoais. “Fiquei muito angustiada. Ela ainda mama e na ocasi�o sentiu muita falta desse contato. Faz�amos chamadas de v�deo e ela conversava por um tempo, mas depois ficava chorosa e pedia o ‘mam�’. Naquele per�odo, ela descobriu a palavra saudade. Achei interessante. Sem querer ensinamos a ela que aquele sentimento de falta tinha esse nome”, afirma a m�dica.

 J�lia estava separada da filha justamente por ter contato com as mais diferentes pessoas durante a pandemia. Ela, naquele momento, trabalhava em uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) localizada na Grande BH. A rela��o com a filha passou a ser apenas visual, sem a possibilidade de tato. “Cheguei a ir at� a casa da minha m�e. Ficava de longe, do lado de fora do port�o. A gente at� fazia o gesto de se abra�ar”, lembra.

 Recentemente, a m�dica foi transferida para uma unidade b�sica de sa�de e p�de voltar a ver a filha. “Ficamos 21 dias longe uma da outra. Agora, minha atribui��o na pandemia � garantir o atendimento a pacientes na Aten��o Prim�ria � Sa�de – pessoas com doen�as cr�nicas, beb�s e gestantes, al�m de receber aqueles com queixas agudas que n�o necessitam buscar a urg�ncia.” O afastamento deixou marcas, que a proximidade agora cuida de apagar aos poucos: “Foi muito sofrido. Muito mesmo! Ainda bem que passou.”


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