
Quem j� frequentou as ruas do pequeno munic�pio de Rit�polis, no Campo das Vertentes, em 22 de maio, jamais vai imaginar o vazio que a popula��o de apenas 4,6 mil habitantes viver� nesta sexta-feira, quando se celebra o dia da padroeira Santa Rita de C�ssia, inspiradora do nome da cidade. Pela primeira vez na hist�ria, a par�quia fechar� o santu�rio para as dezenas de milhares de devotos em virtude da expans�o do coronav�rus, o que causar� impacto financeiro negativo em 2020.
Diante da impossibilidade de receber fi�is de todo o pa�s, a pr�pria igreja se organizou para transmitir missas e novenas pelas redes sociais. Nesta sexta-feira, a par�quia realizar� apenas duas celebra��es, novamente veiculadas pela internet, mas sem a tradicional prociss�o luminosa � noite, que percorre toda a cidade, distante 210 quil�metros de Belo Horizonte.
Outros eventos tamb�m foram cancelados, como as visitas da imagem aos povoados, a prociss�o motorizada e o leil�o de gados, uma das principais fontes de receita da festa.
O p�roco da cidade, Adriano T�rcio de Oliveira, entende que o mais importante � homenagear a padroeira em seu dia, mesmo com todos os esfor�os em controlar a COVID-19: "Est� sendo uma experi�ncia muito diferente, desafiadora, tendo que celebrar as atividades e as missas com portas fechadas, sem a participa��o dos fi�is. Aqui h� um centro de peregrina��o de um grande n�mero de pessoas que vem ao santu�rio para agradecer, fazer seus pedidos e pagar suas promessas. � uma experi�ncia �nica, que chega a ser triste, porque n�o temos a presen�a dos devotos, mas � um aprendizado para todos n�s. Temos que tirar li��es de crescimento, de amadurecimento, da nossa forma de viver a f�. N�o estamos deixando de celebrar Santa Rita mesmo nesses tempos dif�ceis".

Com a suspens�o das celebra��es, a perda de arrecada��o em todo o munic�pio – que vive essencialmente da pecu�ria, do artesanato e dos ganhos com a pr�pria festa – torna-se uma preocupa��o. Em 2019, toda a festa gerou renda bruta superior a R$ 160 mil, recursos usados para a reforma da igreja e outras despesas da par�quia. A cidade recebe anualmente de 15 a 20 mil romeiros de v�rias partes do pa�s.
Padre Adriano ressalta que, al�m da pr�pria par�quia, v�rias pessoas da cidade perdem economicamente sem os festejos: "Temos um impacto grande para a par�quia e para a cidade como um todo. Se n�o for a maior, esta � uma das maiores do munic�pio, que gera uma renda muito grande. Neste ano, n�o teve nenhum tipo de atividade econ�mica. Aqui vem vendedores ambulantes, barraqueiros, leil�es que ocorrem. O com�rcio tamb�m dobra suas vendas. Tudo foi prejudicado".
Para os devotos, o tempo � de celebrar o dia da padroeira de forma peculiar. Jos� Benedito da Trindade, de 71 anos, � um dos m�sicos nas missas h� mais de duas d�cadas e tamb�m toca na banda da cidade desde o come�o dos anos 1960. Para ele, Rit�polis vive um clima jamais visto: "A festa � uma das mais importantes da regi�o, no per�odo em que recebemos um grande movimento de pessoas. Estamos h� praticamente dois meses com a igreja fechada. As missas s� t�m a participa��o do pessoal da cerim�nia. As pessoas que gostam da festa est�o boquiabertas, com toda essa situa��o de n�o poder ir ao santu�rio. A cidade est� vazia. Hoje � aquela coisa morta, sentida... O pessoal est� sentindo muito".
O professor Ot�vio Augusto de Oliveira Vieira, de 40, v� pela primeira vez um ambiente sombrio nesta �poca do ano: "Maio � um m�s muito cheio, com v�rias atividades, com leil�o, visitas aos povoados com a imagem de Santa Rita e novenas. E este n�o est� ocorrendo nada. As pessoas n�o podem vir ao santu�rio. Elas assistem �s missas de suas casas. Rit�polis � uma cidade pequena, mas o movimento caiu totalmente com essa pandemia. O clima � muito ruim e triste".
Na vis�o da advogada Chimenne Gumar�es, de 40, as ora��es ser�o fundamentais para superar o dif�cil momento do coronav�rus, mesmo sendo feitas distante do santu�rio: "Todos est�o tendo que viver um per�odo diferente e demonstrar sua f� de dentro de suas casas. � um momento muito dif�cil onde todos queriam agradecer pelas gra�as alcan�adas. Mas elas ter�o que ser feitas sem ir ao santu�rio, com muita f� e esperan�a para que tudo volte ao normal".
Registros antigos
Curiosamente, a par�quia de Santa Rita de C�ssia � mais antiga que a pr�pria emancipa��o pol�tica de Rit�polis, ocorrida em 1º de mar�o de 1963. Registros hist�ricos mostram que havia uma capela de Santa Rita no ano de 1726, quando o ent�o povoado se chamava Santa Rita do Rio Abaixo e pertencia a S�o Jo�o del-Rei. A data oficial de cria��o da par�quia � 28 de abril de 1854. Em 2003, a matriz da cidade foi elevada a santu�rio.
Sem casos confirmados
Rit�polis n�o registrou casos de coronav�rus at� o momento, mas a prefeitura vem controlando o acesso de visitantes de outras cidades por meio de barreira sanit�ria. O munic�pio tamb�m bloqueou v�rias outras entradas que servem de acesso para as comunidades rurais.