
No per�odo de quarentena, que cumpre ao lado da mulher e das duas filhas, na cidade natal, Mestre Paiva n�o para de trabalhar. � assim que nascem das m�os do entalhador e escultor imagens de santos, anjos querubins, anjos m�sicos “tocando flauta e violino”, talhas com temas b�blicos, pe�as, a exemplo da Assun��o da Virgem Maria ao c�u, coroa��o de Nossa Senhora, S�o Francisco de Assis e outras. “Se voc� quiser, pode me chamar de ‘santeiro’, n�o tem problema”, diz. “O que vale mesmo � a paix�o que tenho pelo ato de criar.”
Em uma tarde de s�bado, na sua casa, no Bairro Ch�cara, em Mariana, Mestre Paiva ouvia, em um CD, a Ladainha de Nossa Senhora, enquanto trabalhava. “Os tempos est�o muito dif�ceis para quem vive da arte, principalmente aqui. Primeiro, foi o rompimento da Barragem do Fund�o, da mineradora Samarco (em 5 de novembro de 2015), no distrito de Bento Rodrigues; agora, a pandemia do novo coronav�rus. Quando houve o rompimento da barragem, as pessoas achavam que era no Centro de Mariana, e n�o a 50 quil�metros (da sede). Com isso, tive uma queda, nas vendas, em torno de 60%. Acabei ficando nas m�os de atravessadores de arte e dos lojistas”, conta.
Mestre Paiva acrescenta que, depois do rompimento da barragem, ainda dava para sobreviver, embora comercializando as obras, sempre em cedro, por um pre�o bem abaixo do que valiam. Com o coronav�rus, afirma, ficou insustent�vel, porque nem os atravessadores nem os lojistas est�o comprando. “Estou vendendo pela internet, mas o momento � realmente de muita dificuldade. Tenho at� sa�do pela rua mostrando meu trabalho.”
Com obras inspiradas no g�nio do Barroco brasileiro Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), mineiro de Ouro Preto , Mestre Paiva define seu trabalho como “neobarroco, com tra�os suaves e alegres”. E revela um sonho: ter um ateli� em Ouro Preto. “Gostaria muito de conseguir um patrocinador para desenvolver meu trabalho l�.” No curr�culo, o artista autodidata destaca que ministrou curso em S�o Paulo (SP) para 42 jovens, “ensinando a eles essa arte”. “Se pudesse, e se houver algum projeto, gostaria de repetir esse curso em Belo Horizonte, t�o logo acabe a pandemia”, planeja.
A veia art�stica de Mestre Paiva, conforme explica, come�ou a pulsar forte quando ele ainda era menino e estava no antigo curso prim�rio. “A professora pediu que n�s fiz�ssemos um desenho, depois de um passeio aos pontos tur�sticos de Mariana. Pintei em aquarela a Igreja de S�o Pedro dos Cl�rigos. Dezessete anos depois, quando trabalhava numa empresa, me lembrei desse dia e algo muito interessante ocorreu.”
Ao falar daquele momento, artista n�o cont�m a emo��o. “Era 1º de abril de 1983, eu acabara de me desligar da empresa. Era solteiro e morava com minha m�e. Cheguei em casa e vi, na cozinha, a t�bua de bater carne. Olhei para ela, corri a uma loja de ferramentas, bem perto, e comprei um form�o. Entrei no meu quarto e me tranquei, ficando v�rios dias entalhando a t�bua de bater carne. Ao terminar, estava na superf�cie da madeira a Catedral da S� de Mariana.” A m�e, dona Eva, gostou e deu ao filho um santinho com a imagem de Cristo, obra de Aleijadinho presente numa das capelas dos Passos da Paix�o de Congonhas. A miss�o seguinte de Jos� foi reproduzir a imagem.
“E a t�bua”, pergunta o rep�rter? “Por sorte, minha m�e n�o deu falta logo. Afinal �ramos muito pobres. Comprar carne era s� uma vez ou outra. Mas depois falou: ‘Ah! Ent�o foi por isso que minha t�bua de carne sumiu!’.”
APRENDIZ

Barroco nas redes
Os trabalhos de Mestre Paiva est�o dispon�veis para visualiza��o no Instagram (#mestrepaiva), no Facebook (mestrepaivaesculturas) e no YouTube. Quem se interessar pelo trabalho e quiser fazer contato pode mandar e-mail para [email protected].