Depois de uma espera de d�cadas, que quase jogou por terra o que restou do pr�dio pioneiro do patrim�nio ferrovi�rio de Minas, a esta��o de Chiador, na Zona da Mata do estado, dever� finalmente retornar por inteiro � hist�ria. Os recursos para restaura��o do monumento est�o assegurados por Furnas Centrais El�tricas S.A., mas h� um obst�culo nos trilhos: a pandemia do novo coronav�rus. Segundo a assessoria da estatal, a empresa contratada se encontra impossibilitada de iniciar os servi�os espec�ficos in loco. "Essas atividades ser�o retomadas t�o logo as autoridades competentes se manifestem favoravelmente para tal, preservando a sa�de e a seguran�a de todos os profissionais envolvidos".

Em nota, os assessores explicam que, em janeiro, Furnas publicou o edital de licita��o destinado � contrata��o de empresa especializada para elabora��o do projeto b�sico para revitaliza��o da esta��o ferrovi�ria de Chiador – a vencedora do processo foi a empresa Tramela Arquitetura e Engenharia. Acrescentam que "o processo para a revitaliza��o foi iniciado ap�s acordo de Furnas com o Minist�rio P�blico de Minas Gerais (MPMG), Conselho Municipal do Patrim�nio Hist�rico Art�stico e Cultural de Chiador (Compachi) e prefeitura local.
Inaugurado em 1869 pelo imperador dom Pedro II (1825–1891) e localizado a seis quil�metros do Centro da cidade, o im�vel hist�rico – antes pertencente � extinta Rede Ferrovi�ria Federal (RFFSA) e atualmente de propriedade da Uni�o e sob guarda do munic�pio – ter� usos diversos.
Conforme consta da ata da reuni�o do Compachi, o espa�o abrigar� �rea administrativa, �rea para feiras e exposi��es no antigo armaz�m, salas multiuso e t�cnica, dep�sitos, banheiros com acessibilidade, caf� com ambiente externo, �rea para reuni�es e outros. O local dever� sediar a Secretaria Municipal de Educa��o, Cultura e Esportes e ter� um museu para contar a hist�ria do munic�pio e da esta��o.

A constru��o em ru�nas foi tombada em 2003 pela prefeitura local e fica no entorno do Aproveitamento Hidrel�trico de Simpl�cio (AHE), de Furnas. Um charme da esta��o � que Chiador fica no roteiro do trem Rio-Minas, o primeiro tur�stico interestadual do pa�s, que far� a liga��o entre Cataguases (MG) e Tr�s Rios (RJ), no total de 168 quil�metros de belas paisagens, riqueza cultural e muitas hist�rias.
JUSTI�A
At� chegar � decis�o de restaurar a esta��o de Chiador, foi necess�rio recorrer � Justi�a. Conforme o Estado de Minas publicou em 26 de outubro de 2012, o MPMG ajuizou a��o em Mar de Espanha, na mesma regi�o, contra a estatal Furnas Centrais El�tricas S.A., para que a empresa restaurasse o bem cultural e n�o apenas o seu entorno, como compensa��o por constru��o de hidrel�trica.

Na �poca, o ent�o promotor de Justi�a da comarca Daniel �ngelo de Oliveira Rangel explicou que a estatal fora obrigada, como condicionante do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renov�veis (Ibama) para implanta��o do Aproveitamento Hidrel�trico de Simpl�cio (AHE), a fazer o tratamento paisag�stico. “Queremos que o pr�dio hist�rico tamb�m seja recuperado, pois tem grande import�ncia para a nossa hist�ria. Al�m disso, o empreendimento fica a pouco mais de 300 metros da esta��o”, afirmou Rangel, autor da a��o com o ent�o coordenador das Promotorias de Justi�a de Defesa do Patrim�nio Cultural e Tur�stico de Minas Gerais (CPPC), Marcos Paulo de Souza Miranda, atualmente promotor de Justi�a de Santa Luzia, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte.
Na a��o, os promotores de Justi�a destacaram a import�ncia econ�mica da estrutura ferrovi�ria do munic�pio, que proporcionou consider�vel desenvolvimento econ�mico e social da regi�o, al�m do transporte da rica produ��o cafeeira. Dizia o texto: “As caracter�sticas dominantes da centen�ria edifica��o s�o neocl�ssicas, cores claras, enquadramento e molduras em argamassa, elementos de ferro muito usados em esta��es ferrovi�rias e alguns elementos coloniais, com vergas retas e grande cobertura”.
E mais: a chegada da estrada de ferro a Chiador "propiciou o interc�mbio com outras localidades, inclusive o litoral, e promoveu o surgimento das ind�strias de latic�nio e cer�mica. O intenso com�rcio com o Rio de Janeiro garantiu o crescimento do povoado, que, em 1880, se tornou distrito de Mar de Espanha”.
HIST�RIA
A esta��o foi inaugurada em 1869, no antigo povoado de Santo Ant�nio dos Crioulos, atual munic�pio de Chiador. Segundo os especialistas, o nome � atribu�do ao chiado que as corredeiras faziam no rio Para�ba e era ouvido por ali – o rio ficava a cerca de 500 metros da esta��o, no ramal de Porto Novo da Estrada de Ferro Dom Pedro II. A esta��o ferrovi�ria de Chiador constitui um exemplar arquitet�nico do s�culo 19 e um espa�o considerado “lugar de mem�ria, de significativo valor cultural para a comunidade local e para a sociedade mineira”.
Na abertura oficial, o imperador dom Pedro II chegou em comitiva, segundo registros, para assistir ao lan�amento dos primeiros trilhos no territ�rio da Prov�ncia de Minas. Compareceram os ministros da Agricultura e da Marinha e outras autoridades. A esta��o teve seu valor hist�rico, art�stico e cultural reconhecido pelo Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan).
Depoimento
Ailton Magioli*
"Desde que me entendo por jornalista, formado na d�cada de 1980, a restaura��o da Esta��o Ferrovi�ria de Chiador, a primeira em atividade em Minas, transformou-se em luta da minha gera��o. Nascido e criado na cidade da Zona da Mata mineira, nos lugares (Tr�s Rios, Juiz de Fora, Rio de Janeiro e Belo Horizonte) por onde passei para estudar e trabalhar levei a reivindica��o na mala, entrevistando desde superintendentes da antiga Rede Ferrovi�ria Federal at� cidad�os do povo e autoridades.
Promessas n�o faltaram. ‘Vamos restaur�-la, sim’, garantiam os oportunistas de plant�o. A chegada de Furnas, empresa economicamente poderosa, � regi�o deu um novo alento � luta que, acreditem, acaba de ser adiada por causa da pandemia do novo coronav�rus. Se vamos sobreviver a ela, n�o sabemos, mas que a luta continua, continua."
*Jornalista, natural de Chiador e residente em BH