
Um retrato dessa condi��o degradante � o Rio das Velhas, um dos principais afluentes do Rio S�o Francisco e a fonte primordial de �gua para a Grande BH, abastecendo 60% das torneiras da regi�o. Das 156 coletas realizadas em sua bacia hidrogr�fica, 79 (50,6%) continham viola��es referentes a esgotos.
Os dados mostram como � generalizada a polui��o por esgotos nos rios de Minas Gerais, ainda que o Igam tenha apresentado em seu relat�rio de gest�o de 2020, divulgado na �ltima quarta-feira, que o �ndice de Qualidade das �guas (IQA) demonstre condi��o de qualidade regular em 49% dos segmentos de rios, boa em 31% e ruim nos restantes 20%.
“O IQA � um conjunto de nove par�metros considerados mais representativos para a caracteriza��o da qualidade das �guas: oxig�nio dissolvido, coliformes termotolerantes, pH, demanda bioqu�mica de oxig�nio, nitrato, fosfato total, varia��o da temperatura da �gua, turbidez e s�lidos totais”, diz o Igam.
Contudo, a Ag�ncia Nacional de �guas (ANA) considera que o �ndice apresenta limita��es, “j� que n�o analisa par�metros importantes para o abastecimento p�blico, tais como subst�ncias t�xicas (metais pesados, pesticidas, compostos org�nicos), protozo�rios patog�nicos e subst�ncias que interferem nas propriedades organol�pticas da �gua”.
No caso da contamina��o por esgoto, o indicador utilizado foi a extrema concentra��o da bact�ria escherichia coli. O micro-organismo do grupo dos coliformes termotolerantes tem como habitat exclusivo o intestino humano e de animais homeot�rmicos, onde aparece em densidades elevadas, por isso presente nas fezes e por conseguinte nos esgotos.
O trecho da Bacia do Rio das Velhas mais polu�do pelas descargas dom�sticas e industriais � o Alto Velhas, da nascente, em Ouro Preto, � altura da Foz do Ribeir�o da On�a, entre BH e Santa Luzia. Das 27 amostragens, 19 (70,4%) cont�m viola��es para escherichia coli – s� oito delas estavam nos n�veis permitidos. Desses, pelo menos 17 acima da capta��o de �gua da Copasa em Belo Horizonte, que ocorre em Bela Fama, no munic�pio de Nova Lima.
A concentra��o m�xima que o Igam consegue medir para esgotos, pela presen�a dessa bact�ria, � de 24,2 vezes o limite estabelecido pelo Conama. Nada menos do que 141 amostras atingiram esse volume.
Um deles foi o Rio Maracuj�, que nasce em Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto, e � um dos principais afluentes do Rio das Velhas na sua �rea de cabeceira. Ao passar por loteamentos e expans�es urbanas, o curso d' �gua recebe cargas de esgoto diretamente no leito, deixando a �gua cinzenta e o odor do l�quido com cheiro forte de decomposi��o e lixo.
Mananciais contaminados
Tamb�m est�o nessa lista mananciais da Grande BH como o C�rrego Isidoro, na Regi�o Norte da capital; o Ribeir�o Arrudas, que corta BH das regi�es do Barreiro � Leste; o Rio Betim, entre Betim e Juatuba, na Bacia Hidrogr�fica do Rio Paraopeba; e o Ribeir�o das Areias, em Ribeir�o das Neves.No interior, a situa��o extremamente cr�tica se encontra nas �guas de corpos h�dricos das bacias do Rio das Mortes (Campos das Vertentes), Grande (Sul), Preto e Paraibuna (Zona da Mata), Itabapoana e Itapemirim (Leste), Jequitinhonha (Jequitinhonha), Par� (Centro-Oeste), Araguari (Alto Parana�ba), Piracicaba e Jaguari (Sul), Paracatu (Noroeste), Rio Piranga (Central) e S�o Francisco (Sul).
O Igam afirma que o conhecimento do estado de cada corpo h�drico � fundamental para as pol�ticas de conserva��o, pois considera “o monitoramento da qualidade da �gua ferramenta estrat�gica, que possibilita direcionar a��es para promover a seguran�a h�drica”.
Como exemplo, cita interven��o de emerg�ncia feita no C�rrego Rico, afluente do Rio Paracatu, no Noroeste de Minas, em 2005, depois que foram detectados elevad�ssimos �ndices de ars�nio, chegando a superar em 100 vezes os limites legais. As outorgas foram suspensas preventivamente at� que as atividades poluidoras fossem encontradas e cessadas.
Ars�nio e f�sforo tamb�m s�o amea�as
Os relat�rios sobre a qualidade da �gua de rios e lagos de Minas do Igam tamb�m detectou poluentes em amostras que ajudam a tra�ar os principais problemas ambientais. De 981 amostras testadas para ars�nio, 55 (5,6%) extrapolaram o limite m�ximo da subst�ncia, extremamente t�xica para o homem e para a vida biol�gica como um todo. Seis estavam no limite.O ars�nio geralmente est� associado a atividades miner�rias predat�rias, como o garimpo de ouro feito nos rios de forma irregular. Sua concentra��o no organismo pode causar doen�as de pele como hiperpigmenta��o, ceratoses, carcinoma basocelular (c�ncer) e epidermoide. Pode levar tamb�m a hipertens�o, doen�a arterial perif�rica, diabetes melito, c�ncer de pulm�o, hep�tico e leucemia.
O manancial com a maior concentra��o desse metaloide t�xico foi o Rio das Velhas em Santana de Pirapama, na Regi�o Central do estado, seis vezes superior ao limite estabelecido pelo Conama. O segundo pior � o C�rrego Rico (quatro vezes), em Paracatu, que j� tem hist�rico dessa contamina��o. Em seguida, com presen�a 3,6 vezes acima do limite, est� mais uma vez o Rio das Velhas, desta vez em Baldim, na Grande BH.
A contamina��o por f�sforo – presente nas atividades agr�colas, sobretudo na pecu�ria, e nos lan�amentos de esgotos – foi medida em 1.447 amostras, sendo que em 539 (37,2%) estava acima do tolerado e em 46 (3,2%) no limite da legisla��o ambiental.
Os trechos com maior concentra��o s�o o Rio S�o Francisco, em Vargem Alegre, no Sul de Minas, com 48 vezes o tolerado; o Ribeir�o da On�a (46), em Santa Luzia, na Grande BH, e o Ribeir�o S�o Pedro (28), afluente do Rio Jequitinhonha, em Medina.
Essa grande carga de esgotos e f�sforo propicia a prolifera��o de cianobact�rias, que lan�am na �gua subst�ncias t�xicas que podem at� matar. Pelo menos 25 amostras continham concentra��es desse micro-organismo, sendo que os tr�s piores pontos est�o na Lagoa da Pampulha e no Ribeir�o Pampulha, formado ap�s o reservat�rio de BH.
�guas turvas
Em 1.447 amostras para quantificar a turbidez (concentra��o de part�culas que tornam as �guas turvas, impedindo que o sol penetre no ecossistema aqu�tico e prejudicando sua vida), o limite acabou superado em 427 (30%) dos testes, sendo que apenas dois estavam no limite.