“Para os de fora, tudo. Para os de casa, nada”. � assim que seis blocos de carnaval de Belo Horizonte cobram a prefeitura diante da falta de apoio do poder p�blico aos trabalhadores da folia. A nota pontua que muitas fam�lias dependem da alta do com�rcio durante a folia para garantir o or�amento durante o ano.
A carta tem a assinatura dos blocos Chama o S�ndico, Ent�o Brilha, Havayanas Usadas, Me Beija Que Eu Sou Pagodeiro, Sagrada Profana e Samba Queixinho. Os grupos lembram o lucro obtido pela prefeitura com o carnaval nos �ltimos anos.
"� injusto que a prefeitura e o governo do estado tenham arrecadado tantos impostos com o renascimento do carnaval de rua, mas no momento de dar um m�nimo de suporte �queles que foram os protagonistas deste fen�meno, nada fa�am", destaca o texto.
Em nota, a Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur) informou que a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Funda��o Municipal de Cultura, por meio da implementa��o dos benef�cios da Lei de Emerg�ncia Cultural Aldir Blanc, beneficiou profissionais e grupos ligados ao carnaval.
Foram R$ 657 mil repassados por meio do edital do governo federal em 2020, conforme dados da prefeitura.
Para os blocos, contudo, esse recurso foi "insuficiente". "Sobre os valores recebidos, reca�ram pesados impostos restando quantias t�midas frente aos gastos necess�rios”, informa o texto.
“Al�m disso, a falta de especificidade � realidade do carnaval constitui-se outro complicador para acessar os valores”, completam os blocos.
Dos R$ 657 mil, segundo a prefeitura, R$ 147 mil foram para "manuten��o de espa�os culturais, micro e pequenas empresas, cooperativas, institui��es e organiza��es comunit�rias". Foram 23 proponentes diferentes.
O restante seguiu para a "realiza��o de editais, chamadas p�blicas ou pr�mios para repasse dos recursos".
Rio de Janeiro � modelo
No texto assinado pelos blocos de carnaval a men��o � estrat�gia adotada pelo prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes (DEM). Outra pot�ncia da folia brasileira, a capital fluminense criou edital para apoiar aqueles que dependem da festa de rua para sobreviver.
“A prefeitura do Rio de Janeiro — que tamb�m distribui recursos da Lei Aldir Blanc — prometeu lan�ar edital de manuten��o espec�fico para o carnaval”, ressalta o texto dos blocos.
Iniciativa privada
O texto tamb�m condena a postura das empresas privadas que apoiaram o carnaval de Belo Horizonte nos �ltimos anos.
"O mesmo ocorre com grandes empresas produtoras de cerveja que assistiram seu lucro aumentar ano ap�s ano, mas agora sumiram", se posicionam.
Estimativa da C�mara de Dirigentes Lojistas da capital (CDL-BH) era de que o carnaval do ano passado movimentasse R$ 100 milh�es na capital mineira, por exemplo.
Confira, abaixo, a nota dos blocos na �ntegra:
"Depois de ter fundado uma das maiores escolas de samba do pa�s e ter sido gravado pelos maiores nomes da m�sica da �poca, ele desapareceu da cena art�stica at� ser reconhecido por um importante jornalista lavando carros na garagem de um pr�dio. O encontro mudou a vida do sambista e da m�sica brasileira.
� a hist�ria do Cartola, mas parece ser a de tantos artistas do carnaval da nossa cidade que, para manterem-se vivos nesta pandemia, abandonaram suas profiss�es para trabalhar em subempregos como uber e entregadores de aplicativo. Isso quando n�o mudaram completamente de vida indo morar na ro�a.
Com a inviabilidade de se realizar a festa neste ano somado ao encerramento do aux�lio-emergencial, a coisa se complica ainda mais. J� faz alguns anos que os trabalhadores do carnaval contam com a renda gerada em janeiro e fevereiro. N�o se trata de receita extraordin�ria, mas sim de dinheiro que entrava na previsibilidade or�ament�ria das fam�lias para o ano inteiro.
Diante desse cen�rio, chama a aten��o a completa omiss�o do poder p�blico — e mesmo do setor privado que tem sido largamente beneficiado pelo renascimento da festa em nossa cidade.
Seja no �mbito municipal, seja no estadual, nada tem sido feito a respeito de uma subven��o para a sobreviv�ncia dos trabalhadores da cadeia produtiva do carnaval sem os quais n�o h� blocos de rua, blocos caricatos e escolas de samba.
Mesmos os recursos vindos atrav�s da Lei Aldir Blanc foram insuficientes, tanto porque se voltavam ao setor cultural como um todo, como porque, sobre os valores recebidos, reca�ram pesados impostos restando quantias t�midas frente aos gastos necess�rios. Al�m disso, a falta de especificidade � realidade do carnaval constitui-se outro complicador para acessar os valores.
� ilus�o achar que esses recursos — diga-se, de origem federal — foram capazes de prestar a necess�ria manuten��o da cadeia produtiva do carnaval aqui pretendida. Quando muito, deram breve al�vio �s d�vidas j� acumuladas.
Tanto � assim que a prefeitura do Rio de Janeiro — que tamb�m distribui recursos da Lei Aldir Blanc — prometeu lan�ar edital de manuten��o espec�fico para o carnaval.
� injusto que a prefeitura e o governo do estado tenham arrecadado tantos impostos com o renascimento do carnaval de rua, mas no momento de dar um m�nimo de suporte �queles que foram os protagonistas deste fen�meno, nada fa�am.
O mesmo ocorre com grandes empresas produtoras de cerveja que assistiram seu lucro aumentar ano ap�s ano, mas agora sumiram.
Conforme levantamento feito pela Funda��o Instituto de Pesquisas Econ�micas – Fipe (link abaixo), o carnaval de 2018 gerou para o munic�pio de Belo Horizonte:
–Movimenta��o de R$ 290 milh�es;
– Impacto de R$ 165 milh�es no PIB;
– R$ 12 milh�es em impostos indiretos l�quidos;
– Mais de 6.500 empregos
S�o n�meros que v�m numa crescente como mostram dados no Minist�rio do Turismo via Confedera��o Nacional do Com�rcio de Bens, Servi�os e Turismo — CNC, que d�o conta de que o estado de Minas Gerais teria recebido, no carnaval do ano passado, uma inje��o em sua economia da ordem de 749,8 milh�es de reais com ocupa��o da rede hoteleira em 80%, estimativa de p�blico de 5 milh�es, n�mero de blocos de rua: 453 e ambulantes cadastrados: 14.696 — tudo isso s� em BH.
E isso, sem falar no legado de dimens�o cultural que envolve n�o apenas a forma��o e capacita��o de m�sicos, passando pela cria��o art�stica de fantasias, adere�os, cenografia etc, mas tamb�m alcan�a um sentido essencial para a vida em sociedade: afirma-se uma identidade das pessoas com a cidade onde vivem num senso de pertencimento cujos benef�cios extrapolam em muito os aspectos puramente financeiros.
Mesmo que n�o fosse por uma raz�o moral, n�o �, estrategicamente, producente a m�dio prazo asfixiar aquelas pessoas que logo em seguida ir�o proporcionar novamente mais ganhos em impostos e receitas.
Na hora de morder uma beiradinha, todo mundo canta o alala� ooooo, mas na hora de dividir o quinh�o � o � abre alas que eu quero passar — batido — que impera.
No m�s em que Minas Gerais � eleita pelo Traveller Review Awards 2021 um dos dez destinos tur�sticos mais acolhedores do mundo, � paradoxal que, precisamente, n�o cuidemos dos nossos. Para os de fora, tudo, para os de casa, nada.
Podemos nos dar ao luxo de ver o carnaval de rua de BH morrer mais uma vez ?
Vamos repetir os erros hist�ricos e, mais uma vez, deixar de valorizar o que de melhor temos como aconteceu com o Cartola?
A cu�ca que, hoje, est� roncando de fome, se nada for feito, vai se calar e BH voltar� a ser o “t�mulo do samba” no carnaval de 2022.
Confira a nota da Belotur na �ntegra:
A Prefeitura de Belo Horizonte segue focada nas a��es de combate � pandemia e, por meio da Belotur, tem mantido o di�logo constante com toda a cadeia produtiva do Carnaval de Belo Horizonte.
A Prefeitura de Belo Horizonte informa ainda, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e da Funda��o Municipal de Cultura, que, atrav�s da implementa��o dos benef�cios da Lei de Emerg�ncia Cultural Aldir Blanc, foram contemplados profissionais e grupos ligados ao Carnaval de Belo Horizonte, que foram beneficiados com o total de R$ 657 mil, ainda em 2020. Desse valor, foram repassados R$ 147 mil a 23 proponentes do setor aprovados no inciso II da Lei, que diz respeito ao repasse do subs�dio emergencial para a manuten��o de espa�os culturais, micro e pequenas empresas, cooperativas, institui��es e organiza��es comunit�rias que atuam no setor cultural.
Outros R$ 510 mil reais foram destinados a 12 proponentes por meio do Edital de Premia��o da Lei de Emerg�ncia Cultural Aldir Blanc, correspondente � implementa��o do inciso III da Lei, que previa justamente a realiza��o de editais, chamadas p�blicas ou pr�mios para repasse dos recursos.
Entre os beneficiados pela Lei Aldir Blanc em Belo Horizonte, est�o blocos e escolas de samba tradicionais, das diversas regi�es da cidade, incluindo o Bloco Caricato Os Inocentes de Santa Tereza, o Gr�mio Recreativo Escola de Samba Imperatriz de Venda Nova, a Fanfarra Feminina Sagrada Profana, o Bloco Afro Angola Janga e o Ent�o Brilha, entre muitos outros. A rela��o com todos os contemplados na Lei Aldir Blanc pode ser acessada na p�gina pbh.gov.br/leialdirblanc.