Montes Claros antecipa a Sexta-Feira da Paix�o e mais quatro feriados

Nesta quarta-feira (17/3), quando a onda roxa, a mais restritiva do Programa Minas Consciente, do Governo de Minas Gerais, ser� estendida a todos os 853 munic�pios do estado, a popula��o de Montes Claros (Norte de Minas) ter� outra mudan�a em sua rotina, devido �s medidas adotadas contra a propaga��o da COVID-19: a antecipa��o de cinco feriados.

Com a medida, o feriado prolongado em Montes Claros come�a nesta quarta e vai at� segunda-feira (22/3).

 

Dos cinco feriados antecipados pela prefeitura, por meio de decreto, tres s�o de comemora��es cat�licas: Sexta-Feira da Paix�o (2 de abril), Corpus Christi (3 de junho) e Finados (2 de novembro).

A medida provocou pol�mica e levou � rea��o da Igreja Cat�lica.

Na tarde desta ter�a-feira (16/3), a Arquidiocese de Montes Claros divulgou nota lamentando a decis�o, que considera que “fere a sensibilidade religiosa e cultural de grande parte da popula��o”.

 

Na segunda-feira (15/3), de acordo com a Secretaria de Sa�de local, Montes Claros teve a confirma��o de 435 novos casos da COVID-19 e 16 mortes provocadas pela doen�a.

Foi a maior quantidade de novos casos e de �bitos decorrentes do coronavirus registrada na cidade (413,4 mil habitantes) em um �nico dia desde o in�cio da pandemia.

O munic�pio contabiliza, at� ent�o, 21.895 casos e 383 mortes causadas pela doen�a respirat�ria.

Decreto municipal

 

A antecipa��o dos feriados foi determinada por meio decreto assinado pelo prefeito de Montes Claros, Humberto Souto (Cidadania), divulgado na noite de segunda-feira.

A medida pegou o com�rcio de surpresa, como revela o presidente da C�mara de Dirigentes Lojistas (CDL) do munic�pio, Ernandes Ferreira da Silva, conhecido como “Batata”.

 

“A CDL Montes Claros como toda a popula��o foi surpreendida com a divulga��o das novas medidas e reconhece que as mesmas ir�o agravar ainda mais uma situa��o, que j� � ca�tica, das empresas e dos empregos”, afirma Ernandes.

 

“A antecipa��o dos feriados tem os dois lados: o bom, porque podem compensar a abertura da atividade no futuro; e o ruim, pois vai de encontro �s quest�es culturais e religiosas. As empresas que decidirem abrir nos dias que seriam esses feriados n�o devem alcan�ar os mesmos resultados e ainda podem ferir a cren�a e a cultura”, avalia o dirigente classista.

 

No mesmo decreto, o Executivo Municipal decidiu pela prorroga��o do prazo do vencimento do Imposto Predial e Territorial (IPTU) e de outros tributos municipais, atendendo a requerimento do vereador Wilton Dias (PTB) e a pedido do presidente regional da Associa��o Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Rodrigo de Paula, e da pr�pria CDL.

Tamb�m est� prorrogada at� 31 de mar�o a proibi��o da venda de bebidas alco�licas no munic�pio, com o objetivo de dificultar a realiza��o de festas clandestinas e evitar aglomera��es.

A antecipa��o do feriado da Sexta-Feira da Paix�o provocou muitas reclama��es entre os cat�licos em Montes Claros.

“Como pode o prefeito querer mudar uma data sagrada, que � a Sexta-Feira Santa, quando as pessoas mais antigas da zona rural nem andam a cavalo?”, questiona um produtor rural, que preferiu n�o se identificar. 

 

O empres�rio Ricardo Alencar, diretor e propriet�rio do supermercado e da rede de padarias Center P�o, disse que a Sexta-Feira Santa � o �nico dia do ano em que as lojas dele fecham as portas, por respeito � Paix�o de Cristo.

“Esse respeito vem da minha fam�lia. Eu me recordo que quando a gente era crian�a, na ro�a, nem o leite das vacas era retirado na Sexta-Feira Santa”, declara. 

 

Pelas normas do decreto municipal, o dia 2 de abril (data original do feriado) ser� considerado dia �til, com funcionamento normal do com�rcio, ainda que nessa data aconte�am normalmente as comemora��es da Santa Santa.

 

Alencar disse que “ficou perdido” diante da antecipa��o do feriado da Semana Santa e que n�o sabe com o vai agir, j� que, se por um lado tem a quest�o econ�mica, por outro, tem a sua f� e respeito � tradi��o cat�lica.

“A nossa empresa tem 27 anos no mercado e nunca abriu as portas na Sexta-Feira da Paix�o. Agora, terei que me reunir com os s�cios para decidir”, afirma o empres�rio, lembrando que a firma conta com cerca de 400 funcion�rios.

 

 

Em nota divulgada na tarde desta ter�a-feira, o arcebispo metropolitano de Montes Claros, dom Jo�o Justino de Medeiros, critica a decis�o da prefeitura. Ele tamb�m lembra que uma das “frentes de batalhas” para superar a pandemia da COVID-19 � o “suporte da f�”.

 

“Lamentamos essa decis�o, que fere a sensibilidade religiosa e cultural de grande parte da popula��o. A pandemia precisa ser vencida em muitas frentes de batalha. Uma delas, com sua significativa parcela de import�ncia, � o suporte da f�”, diz dom Jo�o Justino. 

 

Na nota, ele tamb�m diz que, apesar da “antecipa��o”, o “Calend�rio Lit�rgico da Igreja, ao qual est�o vinculados todos os que professam a f� cat�lica, permanece inalterado”, com as celebra��es mantidas para as datas inicialmente previstas, com restri��es da presen�a de p�blico e transmiss�es pelas redes sociais.

O arcebispo tamb�m reclama da falta de di�logo por parte da gest�o p�blica.

 

“At� aqui aceitamos todas as restri��es impostas pelo poder p�blico, no sentido de colaborar para evitar o cont�gio do v�rus. E vamos continuar trabalhando nesse sentido. No entanto, como outros setores da sociedade, queremos ser ouvidos, chamados para o di�logo”, diz o comunicado da Arquidiocese.

 

 

Tamb�m nesta ter�a-feira, o prefeito Humberto Souto alegou que a antecipa��o dos feriados foi mais uma medida para fazer valer o isolamento social e impedir a propaga��o do coronav�rus no munic�pio.

“S� tem uma maneira de impedir que a doen�a continua avan�ando: evitar aglomera��es”, enfatizou o chefe do Executivo, pedindo apoio da popula��o �s medidas de isolamento.

 

Ele argumentou que tomou a decis�o para impedir que as pessoas possam viajar para praia e outros destinos durante a Semana Santa, com riscos de trazerem junto o v�rus na volta � cidade.

Alertou que o decreto municipal tamb�m determina que as pessoas que fizerem viagens para outros munic�pios e outros estados, ao retornarem a Montes Claros, dever�o permanecer em quarentena por 14 dias, sem poder sair de casa.