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Estado de Minas ALERTA

Febre Round 6: 'Di�logo aberto � melhor que censura', orienta psic�loga

S�rie violenta apavora fam�lias em BH; especialistas refor�am que conte�do � impr�prio para o p�blico infantil, mas tranquilizam pais: 'Crian�as n�o s�o rob�s'


17/10/2021 04:00 - atualizado 21/10/2021 10:56

Robô gigante usado na série Round 6 para a versão mortal da brincadeira infantil 'Batatinha frita 1, 2, 3'
Maior sucesso da Netflix, Round 6 associa brincadeiras infantis a um jogo violento, no qual os perdedores s�o mortos a tiros (foto: Netflix/Divulga��o)
Patr�cia Alves, de 11 anos, ficou um dia inteiro trancada em seu quarto na semana passada. A rebeldia foi uma rea��o a uma decis�o um tanto impopular tomada pelos pais dela, os advogados Luciana e Frederico Alves. Desde que as escolas come�aram a alertar as fam�lias sobre os riscos da exposi��o de crian�as �s cenas violentas da s�rie “Round 6” – mais badalada do cat�logo da Netflix em 2021 –, eles aumentaram o rigor sobre o uso dos aplicativos de streaming em casa.

Na trama, indicada para maiores de 16 anos, 456 pessoas superendividadas se sujeitam a brincadeiras infantis para ganhar um pr�mio bilion�rio. Quem perde � morto a tiros.

O perfil da menina, agora, tem restri��es de classifica��o et�ria. Para acessar conte�dos que fujam desse crit�rio, ela precisa pedir autoriza��o. No caso da produ��o sul-coreana, n�o houve negocia��o. O casal avaliou que a garota ainda n�o est� preparada para encarar a crueza da hist�ria, permeada por assassinatos, torturas, tr�fico de �rg�os e suic�dio.

A restri��o, contudo, nem de longe trouxe tranquilidade a Luciana e Frederico. Eles sabem que o assunto domina redes sociais como o TikTok, o YouTube e o Twitter com memes, clipes, teorias e challenges (desafios compartilhados entre os jovens).

“� muito dif�cil cercar todas as telas e redes. No fim, a gente faz o que � poss�vel. Al�m de fazer essa vig�lia virtual, tamb�m ficamos mais atentos ao comportamento da Patr�cia. Outro dia, ela desenhou os s�mbolos do tal cart�o que os jogadores da s�rie ganham. Ficamos apavorados. Diria que essa s�rie, apesar de interessante, reduziu significativamente a paz de esp�rito dos pais no mundo inteiro!”, brinca Luciana.

Exagero

'Segurança armado' vigia jogadores da Série Round 6'
S�rie Round 6 � permeada por cenas violentas de assassinato, suic�dio, al�m de abordar temas pesados, como tr�fico de �rg�os (foto: Netflix/Divulga��o)
Para o psiquiatra da inf�ncia e adolesc�ncia Arthur Melo e Kummer, a preocupa��o com a exposi��o de jovens a cenas expl�citas como as de “Round 6” � leg�tima, mas h� um certo exagero na dose. Ele refor�a que o produto �, de fato, inadequado para o card�pio cultural de crian�as, j� que a viol�ncia expl�cita associada ao contexto de brincadeiras �, em potencial, danosa ao desenvolvimento psicol�gico dos pequenos. Mas ressalta  que o comportamento infantil n�o obedece a rela��es simples de causa e efeito.

“A exposi��o reiterada de crian�as a cenas violentas pode, em tese, trazer consequ�ncias, como a dessensibiliza��o � viol�ncia. Mas isso n�o significa que o menino vai sair atirando nos colegas porque viu um filme. As pessoas costumam subestimar a capacidade cognitiva infantil. As crian�as s�o sugestion�veis, mas n�o s�o rob�s de imita��o”, analisa o m�dico.

A pesquisadora do N�cleo de Estudos e Pesquisas sobre Inf�ncia e Educa��o Infantil da UFMG (Nepei) Iza Rodrigues da Luz tranquiliza os pais que n�o conseguiram evitar que os filhos assistissem � s�rie e andam reproduzindo o contexto violento em brincadeiras do cotidiano. A especialista explica que brincar � a maneira como a crian�a elabora e tenta compreender o mundo que a cerca.

“� claro que os pais devem interferir se observarem que tem algu�m se machucando. Mas quando a crian�a finge que atira em outras pessoas, por exemplo, ela est� encenando. A encena��o, esse faz de conta, � como meninos e meninas buscam interpretar a realidade. A melhor atitude n�o � censurar a brincadeira, mas ajudar nessa interpreta��o. Na qualifica��o do que � violento. Atirar nas pessoas � violento. Comer ossos por falta de dinheiro para a alimenta��o b�sica, como t�m nos contado as not�cias de jornal, tamb�m �. Os pais s�o convocados a fazer essa media��o o tempo todo”, diz a psic�loga.

Outro ponto levantado pela profissional � que os pais devem se abrir � escuta e abolir os discursos prontos. “Se a crian�a acabou vendo “Round 6”, � importante observar quais as quest�es e curiosidades ela traz depois disso, sem li��es de moral, pois isso a afasta. Mais vale dialogar a partir daquilo que ela entendeu ao assistir os epis�dios. Muitas vezes, estamos ali, prontos para fazer um serm�o contra o uso de drogas, mas os meninos nem prestaram muita aten��o nisso. Ent�o, para que tocar nesse assunto?”, orienta.

Para os adolescentes, a sugest�o da pesquisadora � que os pais assistam � produ��o junto com os jovens e emendem a sess�o em fam�lia com conversas cr�ticas sobre a obra. “As discuss�es, nesse caso, podem ser mais complexas. J� os adolescentes t�m uma capacidade cognitiva e de abstra��o mais amplas. Mas a compreens�o da realidade n�o � suficiente. Eles ainda precisam de suporte e n�o devem ser solit�rios em suas descobertas.”

Recreio

Jogador morto em um dos jogos mortais de Round 6 é arrastado para cremação em um grande pátio, onde há outros corpos.
Especialistas refor�am que conte�do da s�rie Round 6 � impr�prio para crian�as (foto: Netflix/Divulga��o)
Nas escolas de Belo Horizonte, a repercuss�o da s�rie “Round 6” entre os jovens n�o chegou a motivar cartas p�blicas de alerta aos pais, como ocorreu em institui��es do Rio de Janeiro e do Paran�, no in�cio de outubro. Nos documentos, que viralizaram em grupos de WhatsApp e nas redes sociais, educadores relatam, em tom preocupado, o fato de a produ��o sul-coreana ter se tornado o assunto mais comentado por turmas de alunos de 7 e 8 anos. Os atos violentos dos personagens estariam sendo, inclusive, reproduzidos em brincadeiras infantis.

No Marista Padre Eust�quio, col�gio privado da Regi�o Noroeste de Belo Horizonte, a orientadora do ensino m�dio, Maria Jos� Coelho, diz que o corpo docente ainda n�o notou, entre os estudantes, comportamentos potencialmente nocivos. “Mas n�s estamos acompanhando a discuss�o e estamos preparados. Grande parte dos professores inclusive assistiu � trama para saber do que se trata e responder adequadamente aos desafios que se apresentarem no dia a dia. No entanto, n�o sentimos ainda a necessidade de estabelecer uma comunica��o formal com os pais sobre o tema. At� porque, � uma quest�o delicada. A escola precisa respeitar a maneira como cada fam�lia educa sua prole”, afirma a profissional.

“O que n�s fazemos desde sempre � cultivar os valores que contribuem com o desenvolvimento dos jovens, como solidariedade, senso de justi�a e coopera��o contra a competi��o desenfreada em que alguns se d�o bem enquanto outros ficam para tr�s”, complementa.

Para os alunos maiores de 16 anos, a educadora diz que a abordagem da s�rie nas atividades escolares n�o est� descartada. “At� porque, ela traz discuss�es interessantes, como a desigualdade social, por exemplo. O ensino, afinal, deve dialogar com a vida”, reflete.


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