
Na trama, indicada para maiores de 16 anos, 456 pessoas superendividadas se sujeitam a brincadeiras infantis para ganhar um pr�mio bilion�rio. Quem perde � morto a tiros.
O perfil da menina, agora, tem restri��es de classifica��o et�ria. Para acessar conte�dos que fujam desse crit�rio, ela precisa pedir autoriza��o. No caso da produ��o sul-coreana, n�o houve negocia��o. O casal avaliou que a garota ainda n�o est� preparada para encarar a crueza da hist�ria, permeada por assassinatos, torturas, tr�fico de �rg�os e suic�dio.
A restri��o, contudo, nem de longe trouxe tranquilidade a Luciana e Frederico. Eles sabem que o assunto domina redes sociais como o TikTok, o YouTube e o Twitter com memes, clipes, teorias e
challenges
(desafios compartilhados entre os jovens).
“� muito dif�cil cercar todas as telas e redes. No fim, a gente faz o que � poss�vel. Al�m de fazer essa vig�lia virtual, tamb�m ficamos mais atentos ao comportamento da Patr�cia. Outro dia, ela desenhou os s�mbolos do tal cart�o que os jogadores da s�rie ganham. Ficamos apavorados. Diria que essa s�rie, apesar de interessante, reduziu significativamente a paz de esp�rito dos pais no mundo inteiro!”, brinca Luciana.
Exagero

“A exposi��o reiterada de crian�as a cenas violentas pode, em tese, trazer consequ�ncias, como a dessensibiliza��o � viol�ncia. Mas isso n�o significa que o menino vai sair atirando nos colegas porque viu um filme. As pessoas costumam subestimar a capacidade cognitiva infantil. As crian�as s�o sugestion�veis, mas n�o s�o rob�s de imita��o”, analisa o m�dico.
A pesquisadora do N�cleo de Estudos e Pesquisas sobre Inf�ncia e Educa��o Infantil da UFMG (Nepei) Iza Rodrigues da Luz tranquiliza os pais que n�o conseguiram evitar que os filhos assistissem � s�rie e andam reproduzindo o contexto violento em brincadeiras do cotidiano. A especialista explica que brincar � a maneira como a crian�a elabora e tenta compreender o mundo que a cerca.
“� claro que os pais devem interferir se observarem que tem algu�m se machucando. Mas quando a crian�a finge que atira em outras pessoas, por exemplo, ela est� encenando. A encena��o, esse faz de conta, � como meninos e meninas buscam interpretar a realidade. A melhor atitude n�o � censurar a brincadeira, mas ajudar nessa interpreta��o. Na qualifica��o do que � violento. Atirar nas pessoas � violento. Comer ossos por falta de dinheiro para a alimenta��o b�sica, como t�m nos contado as not�cias de jornal, tamb�m �. Os pais s�o convocados a fazer essa media��o o tempo todo”, diz a psic�loga.
Outro ponto levantado pela profissional � que os pais devem se abrir � escuta e abolir os discursos prontos. “Se a crian�a acabou vendo “Round 6”, � importante observar quais as quest�es e curiosidades ela traz depois disso, sem li��es de moral, pois isso a afasta. Mais vale dialogar a partir daquilo que ela entendeu ao assistir os epis�dios. Muitas vezes, estamos ali, prontos para fazer um serm�o contra o uso de drogas, mas os meninos nem prestaram muita aten��o nisso. Ent�o, para que tocar nesse assunto?”, orienta.
Para os adolescentes, a sugest�o da pesquisadora � que os pais assistam � produ��o junto com os jovens e emendem a sess�o em fam�lia com conversas cr�ticas sobre a obra. “As discuss�es, nesse caso, podem ser mais complexas. J� os adolescentes t�m uma capacidade cognitiva e de abstra��o mais amplas. Mas a compreens�o da realidade n�o � suficiente. Eles ainda precisam de suporte e n�o devem ser solit�rios em suas descobertas.”
Recreio

No Marista Padre Eust�quio, col�gio privado da Regi�o Noroeste de Belo Horizonte, a orientadora do ensino m�dio, Maria Jos� Coelho, diz que o corpo docente ainda n�o notou, entre os estudantes, comportamentos potencialmente nocivos. “Mas n�s estamos acompanhando a discuss�o e estamos preparados. Grande parte dos professores inclusive assistiu � trama para saber do que se trata e responder adequadamente aos desafios que se apresentarem no dia a dia. No entanto, n�o sentimos ainda a necessidade de estabelecer uma comunica��o formal com os pais sobre o tema. At� porque, � uma quest�o delicada. A escola precisa respeitar a maneira como cada fam�lia educa sua prole”, afirma a profissional.
“O que n�s fazemos desde sempre � cultivar os valores que contribuem com o desenvolvimento dos jovens, como solidariedade, senso de justi�a e coopera��o contra a competi��o desenfreada em que alguns se d�o bem enquanto outros ficam para tr�s”, complementa.
Para os alunos maiores de 16 anos, a educadora diz que a abordagem da s�rie nas atividades escolares n�o est� descartada. “At� porque, ela traz discuss�es interessantes, como a desigualdade social, por exemplo. O ensino, afinal, deve dialogar com a vida”, reflete.
Para os alunos maiores de 16 anos, a educadora diz que a abordagem da s�rie nas atividades escolares n�o est� descartada. “At� porque, ela traz discuss�es interessantes, como a desigualdade social, por exemplo. O ensino, afinal, deve dialogar com a vida”, reflete.