
Com o aumento de casos de COVID-19 e a ocupa��o de leitos de UTI cada dia maior, o adoecimento dos profissionais de sa�de acende alerta no estado de Minas Gerais. � o que afirmou, no fim da manh� de ontem (27/1), o secret�rio de Sa�de de Minas, F�bio Baccheretti, em coletiva de imprensa. O risco � que a assist�ncia fique comprometida. "H� dificuldade na manuten��o da escala. Muitos afastamentos est�o acontecendo. Tem institui��o da Funda��o Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) que suspendeu as f�rias de alguns servidores para manter a escala. Ent�o, h� um grande esfor�o do estado para garantir a assist�ncia", disse.
Ontem, pela segunda vez desde mar�o de 2020, quando a pandemia da COVID-19 se instalou em Minas Gerais, o estado ultrapassou a marca de 30 mil novos casos confirmados em 24 horas, sendo que o n�mero foi alcan�ado pela primeira vez na quarta-feira (27/1). Conforme o boletim da Secretaria de Estado de Sa�de (SES-MG), o n�mero de casos confirmados entre quarta-feira e ontem � de 34.420. Nesse per�odo, houve mais 55 �bitos em decorr�ncia da doen�a.
Um t�cnico de enfermagem que trabalha no Hospital das Cl�nicas, que fica na Regi�o Leste de Belo Horizonte, relatou os momentos dif�ceis das �ltimas semanas devido ao aumento do n�mero de casos de COVID-19, provocados principalmente pela variante �micron, que pressionou o sistema de sa�de. Questionado sobre a situa��o do aumento no n�mero de afastamentos de profissionais de sa�de, confirmou o quadro e relatou que em sua equipe de 14 profissionais, sete atuavam ontem e os outros sete estavam afastados por ter contra�do a doen�a.
E esse n�mero, segundo ele, "est� bom, razo�vel", tendo em vista que no in�cio do ano houve momento em que apenas dois profissionais atendiam, enquanto 10 estavam afastados. Ele mesmo precisou ficar em casa recentemente por 10 dias, por suspeita de infec��o por COVID-19. O t�cnico ainda relatou que a sobrecarga de trabalho gerada pelas redu��es de pessoal ocasiona tamb�m afastamentos por esgotamento, com profissionais cansados e no limite, especialmente nas �ltimas tr�s semanas.
Licen�as e sele��o

Ontem, a Fhemig abriu chamamentos emergenciais e processos seletivos. S�o 77 vagas para profissionais que v�o atuar em unidades na capital e no interior. A maioria das vagas � para a �rea assistencial, mas h�, tamb�m, cargos em fun��es administrativas.
De acordo com o governo de Minas, 102 novos leitos de enfermaria adulta ser�o abertos nos hospitais da rede em Belo Horizonte. Dez leitos de UTI pedi�trica foram abertos no Hospital Jo�o Paulo II. Outros 10 leitos de terapia intensiva adulta ser�o instalados nas demais unidades da capital mineira.
A Secretaria de Estado de Sa�de de Minas Gerais (SES-MG) informou, por meio de nota, que mant�m constante vigil�ncia do n�mero de casos e dos indicadores de monitoramento da pandemia para a��es futuras que se fizerem necess�rias, de modo a garantir assist�ncia adequada ao usu�rio do Sistema �nico de Sa�de (SUS-MG).
Barreira
Ao falar sobre a abertura de novos leitos na sexta-feira passada (21/1), o secret�rio municipal de Sa�de de Belo Horizonte, Jackson Machado Pinto, apontou a dificuldade provocada pela falta de profissionais. “Fizemos uma reuni�o e os hospitais argumentaram que n�o conseguem abrir mais leitos por falta de profissionais. Tem hospital com leito vago porque n�o tem profissional de sa�de pra colocar l�", disse. Na quarta-feira, a prefeitura informou que de 24 de dezembro de 2021 a 25 de janeiro de 2022, o munic�pio contratou 1.430 profissionais de sa�de, sendo 309 m�dicos em diversas especialidades.
N�meros apontados pelo coordenador geral do Sindicato dos Servidores P�blicos Municipais de Belo Horizonte (Sindibel), Israel Arimar, d�o uma ideia do problema j� no atendimento prim�rio. Segundo ele, em Belo Horizonte, 1.400 profissionais da sa�de foram afastados por suspeita ou confirma��o de COVID em centros de sa�de e unidades de pronto-atendimento (UPAs) na primeira quinzena de janeiro. "Ou seja, ao mesmo tempo em que a demanda aumentou de forma gritante, n�s estamos tendo a redu��o de profissionais ao atendimento da popula��o", disse.
Outro fator preocupante apontado pelo sindicato � a dificuldade da prefeitura em fazer novas contrata��es. "Em dezembro, cerca de 600 t�cnicos e enfermeiros tiveram os contratos terminados sem renova��o. Diante do aumento do atendimento, a secretaria conseguiu, at� agora, repor cerca da metade. Este � um momento muito delicado. Al�m de gerar o cansa�o, estresse, adoecimento dos profissionais, gera tamb�m uma demora no atendimento", apontou. Israel ainda afirmou que a categoria marcou um ato simb�lico para a pr�xima segunda-feira (1º/2), na frente da UPA Norte.
Apesar dos problemas, os esfor�os para ampliar o n�mero de leitos prosseguem. Na quarta-feira, a administra��o municipal abriu mais 12 leitos de UTI COVID adulto e 10 pedi�tricos na Rede SUS-BH. Foram adicionados ainda 71 de leitos de enfermaria para adultos e 4 pedi�tricos. Ontem, foram instalados mais 35 leitos de enfermaria pedi�tricos. Desde o in�cio do m�s de janeiro, foram abertos pelo munic�pio 429 leitos de enfermaria COVID adulto e quatro pedi�tricos. Nas UTIs, foram adicionadas 44 vagas para adultos e outras 20 para crian�as. A prefeitura frisa que pacientes com quadros gripais, ainda sem resultado para a COVID-19, tamb�m podem estar internados nos leitos de UTI e enfermaria dedicados � doen�a, j� que os sintomas s�o semelhantes.
Rede particular
A press�o n�o se limita � rede p�blica de sa�de. A Unimed-BH, por exemplo, tamb�m precisou abrir 200 vagas de trabalho tempor�rias para a �rea assistencial da sua rede pr�pria em Belo Horizonte, Contagem e Betim. As vagas s�o para enfermeiro, t�cnico de enfermagem, analista de laborat�rio, atendente colhedor e auxiliar de atendimento ao cliente. A cooperativa informa ainda que, desse total, 50 vagas j� foram preenchidas esta semana. "A Unimed-BH refor�a que segue empenhada na reposi��o dos postos de trabalho e, at� o momento, vem conseguindo preencher as vagas e manter os servi�os funcionando normalmente, sem impacto no atendimento aos seus clientes", informou por meio de nota. A reportagem do Estado de Minas tentou contato com a assessoria dos hospitais Mater Dei e Madre Tereza, mas n�o obteve retorno at� a publica��o da mat�ria.
Quadro se repete por todo o pa�s
O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e o Sindicato dos Enfermeiros do Estado de Minas Gerais (SEEMG) n�o t�m dados de profissionais afastados por COVID-19 ou s�ndromes gripais atualmente, porque n�o h� notifica��o compuls�ria de afastamentos nem ao pr�prio Minist�rio da Sa�de. “Muitos est�o sendo afastados mas sem a devida notifica��o do motivo do afastamento”, informou Anderson Rodrigues, presidente do SEEMG. Mas a m�dia m�vel de casos, com forte eleva��o, d� uma ideia do problema.
De acordo com o Observat�rio da Enfermagem, gerido pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), ontem, a m�dia m�vel de casos entre os profissionais da �rea estava em 49, tendo sido confirmados 64 novos diagn�sticos de COVID-19 em 24 horas. O n�mero aumentou exponencialmente nas �ltimas semanas, j� que janeiro come�ou com a m�dia em 7, patamar que estava estabilizado desde junho de 2021.
Por outro lado, a m�dia m�vel de mortes n�o aumentou – est� paralisada em um �bito desde 7 de janeiro. Ainda assim, o Cofen refor�a que “esses dados n�o refletem com precis�o os afastamentos”, uma vez que sua atualiza��o depende do envio de levantamentos dos conselhos regionais (Corens) junto aos respons�veis t�cnicos, “sendo inevit�vel a subnotifica��o e delay”.
“Temos um panorama geral em que os profissionais de sa�de que atuam em ambientes hospitalares est�o se afastando com COVID, pela �micron, e gripe. O Observat�rio da Enfermagem tem alguns registros ainda um pouco t�midos. Dentro do nosso pr�prio sistema, temos alto �ndice de profissionais que j� se contaminaram com COVID-19 ou s�ndromes gripais. Em todo o pa�s, temos profissionais que j� foram afastados”, disse Eduardo Fernando, coordenador do comit� gestor da crise COVID-19 do Cofen.
Levantamento feito pelo Conselho Regional de Enfermagem de S�o Paulo (Coren-SP) espelha a press�o imposta a esses profissionais com a escalada da variante �micron no Brasil, combinada ao surto de H3N2. De acordo com a pesquisa, quase 82% dos entrevistados disseram que est�o atendendo mais pacientes e 33% relataram que a jornada de trabalho aumentou.
“Quando tenho um profissional afastado, acabo sobrecarregando outro. Isso influencia tanto na sa�de do enfermeiro quanto na qualidade do atendimento ao paciente”, afirma Eduardo. “Enquanto a popula��o n�o se conscientizar de que o distanciamento social, a m�scara e a higieniza��o das m�os s�o necess�rios, nunca vamos conseguir combater esse v�rus”, acrescenta.
Diante do problema, conselhos de enfermagem se reuniram para adotar uma s�rie de medidas para conter a pandemia, como dar prioridade ao atendimento por agendamento ou on-line, seja por whatsapp ou e-mail. Eduardo diz que o Cofen tem recomendado insistentemente que os profissionais reforcem o uso de m�scaras e fa�am a higieniza��o das m�os.
Assembleia volta ao home office
