
Paula Freire era uma das pessoas do grupo. Ela e o namorado, Rafael, foram os primeiros a passar pelo setor de imigra��o do Aeroporto Internacional de Canc�n, por volta das 14h do dia 29 de novembro. Ela conta que as autoridades mexicanas pediram para ver o voucher com as reservas do hotel e come�aram a fazer v�rias perguntas. Ao perceberem que a viagem era feita em um grupo de 13 pessoas, eles foram convidados a sair da fila e encostar em um dos guich�s de atendimento.
Vin�cio Br�s Oliveira, de 24 anos, tamb�m foi barrado. Ele � estudante de matem�tica da UFMG e estava com seu primo, que tamb�m � estudante, mas da p�s-gradua��o. Vin�cio contou que todos eram estudantes, trabalhadores ou empres�rios – e tinham compromissos para voltar ao Brasil ap�s os seis dias de f�rias.
“Na hora que est�vamos chegando em Canc�n, falamos: agora estamos tranquilos, vamos para o hotel, tomar banho, porque o voo � muito cansativo, quase 24 horas, e… n�o fomos”, conta Vin�cio.
Os 10 amigos – tr�s deles foram liberados para entrar no pa�s, inclusive um tinha visto norte-americano – tiveram seus passaportes e celulares recolhidos e foram levados para uma sala. L�, cada um foi chamado para ser interrogado.
Ap�s responderem perguntas sobre quanto tempo os amigos se conheciam, os valores que estavam levando para o pa�s, profiss�o, entre outros, eles foram levados para outra sala e tiveram que deixar suas bagagens do lado de fora.
Ao entrar na sala, encontraram cerca de 50 pessoas, entre colombianos, argentinos e outros. Todos barrados pela suspeita de que fossem atravessar a fronteira do M�xico com os Estados Unidos. Sem seus pertences, celulares, documentos e sem acesso a alimentos, o grupo de mineiros passou cerca de 24 horas detido. “Eles passaram a chave na porta e foram embora”, contou Paula.
N�o havia �gua dispon�vel no local, nem bancos para todos se sentarem. Paula disse que havia muitas crian�as, e pessoas que estavam l� h� dias. A sala n�o era arejada, nem tinha janelas. Um ar-condicionado deixava o espa�o muito frio, segundo ela, e tornava a estadia l� extremamente desconfort�vel.
Eles receberam apenas uma refei��o, um p�o e suco, �s 22h. Esse foi o �nico alimento a que tiveram acesso at� 10h da manh� do dia seguinte, quando foram encaminhados para retornar ao Brasil.
“Foi uma situa��o muito humilhante. A gente n�o esperava nunca. �amos passar seis dias l�, passear, curtir. A gente estava com dinheiro no bolso e n�o podia comer, sair, nem ir embora — porque se fosse para ir embora, a gente queria ir logo, e nem isso a gente podia. Num primeiro momento, ficamos chateados, depois veio um sentimento de desespero”, relatou Paula.
O pior, contou Paula, foi que nenhuma justificativa foi apresentada. Todos estavam com os vistos assinados. “A gente perguntava e eles s� diziam que n�o ir�amos entrar e pronto.” Em uma conversa informal com um dos agentes da imigra��o, ele disse que o grupo estava com “alerta de imigra��o”, mas n�o explicou do que se tratava.
Danos morais
Paula disse que o grupo pretende abrir um processo por danos morais. “Ainda vamos consultar um advogado e ver o que podemos fazer. Ver se a gente pode ressarcir ao menos parte do dinheiro que a gente perdeu com esse processo. � uma forma de mostrar a indigna��o com o que aconteceu, porque a frustra��o e priva��o que a gente passou o dinheiro n�o paga”.
Vin�cio estima que tiveram um preju�zo de cerca de R$ 90 mil, entre as 10 pessoas barradas. Paula disse que ainda n�o botaram as perdas na ponta do l�pis — est�o evitando o assunto por enquanto —, mas estimou um valor semelhante.
Outros casos
N�o � a primeira vez que um grupo de brasileiros passa por essa situa��o ao entrar no M�xico. Um grupo de professores e pesquisadores tamb�m foi detido por 12 horas no aeroporto durante uma viagem para um evento acad�mico na capital do pa�s.
Outros casos tamb�m foram relatados ao longo do ano, e provocaram um posicionamento da maior autoridade de rela��es exteriores do Brasil. Na ocasi�o, o Itamaraty publicou uma nota em que disse que “solicitou, em alto n�vel, provid�ncias urgentes ao governo mexicano, por meio da Secretaria de Rela��es Exteriores, da Secretaria de Turismo e do Instituto Nacional de Migra��o, com vistas a resolver o problema”.
O caso desta semana mostra que o problema ainda n�o foi resolvido.
O Estado de Minas questionou o Itamaraty sobre os desdobramentos daquela solicita��o, mas n�o obteve resposta. A Embaixada do M�xico no Brasil tamb�m foi procurada, mas n�o respondeu at� o fechamento da mat�ria.
* Estagi�rio sob supervis�o da editora Ellen Cristie