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Estado de Minas RODOVIA FERN�O DIAS

Estrada Minas-S�o Paulo: onde ficam as maiores armadilhas da serra da morte

Descida cheia de curvas da BR-381 em que sete corintianos morreram quando seguiam para SP tem letalidade mais de 80% superior � do total da estrada em MG


04/09/2023 04:00 - atualizado 04/09/2023 05:28
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Brumadinho, MG. Destroços de ônibus com torcedores do Corinthians que tombou na Rodovia Fernão Dias (BR-381), matando sete passageiros em 20 de agosto de 2023
O risco em tr�s momentos: no mesmo trecho, destro�os do �nibus de torcedores, acidente dois dias depois e cruz que lembra outra v�tima (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A. Press- 20/8/2023)
A �ltima viagem de Ant�nio Marcos Silva Melo terminou de forma tr�gica, na curva do Km 525,4 da Rodovia Fern�o Dias (BR-381), na Serra de Igarap�, em Brumadinho, Grande BH. Apenas cinco dias antes, o menino tinha comemorado o anivers�rio de 5 anos. Se tivesse escapado do acidente, estaria hoje com 20. De sua vida breve, al�m da mem�ria sofrida dos parentes, ficou apenas o testemunho de uma cruz de metal, agora enferrujada e semiencoberta pela vegeta��o, ao lado de um pequeno orat�rio que abriga uma imagem de Nossa Senhora. A singela lembran�a fica no alto do mesmo barranco onde sete torcedores do Corinthians morreram, na madrugada do dia 20 do m�s passado, no trecho mais perigoso da estrada em Minas Gerais: a Serra de Igarap�.
 
L�, o n�mero m�dio de mortes a cada um dos 15 quil�metros serranos entre Igarap�, Brumadinho, Rio Manso e Itatiaiu�u � mais de 80% superior ao restante da estrada, segundo dados da Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF) de 2020 a julho de 2023 (veja arte). Mesmo com a como��o nacional gerada pela morte dos corintianos que voltavam para S�o Paulo ap�s a partida contra o Cruzeiro, apelos por solu��es para a curva onde bateu o �nibus das v�timas, como a implanta��o de �rea de escape, n�o ser�o facilmente atendidos por quest�es geot�cnicas, financeiras e ambientais, segundo alertam especialistas ouvidos pelo Estado de Minas. O que significa que os riscos permanecer�o por ainda muito tempo para os viajantes.
 
Seguindo dados da Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF) de acidentes com mais mortes e feridos de 2020 a 31 de julho deste ano, o EM montou um mapa que mostra os sete pontos mais mortais nos 15 quil�metros da Serra de Igarap�, identificando, com o aux�lio de especialistas, caminhoneiros e motoristas, quais os cuidados e provid�ncias necess�rias para se ter mais seguran�a nesses locais.

No mapeamento, sete segmentos se destacam por ordem de quantitativo de mortes, feridos e acidentes. O pior no per�odo � o Km 526, em Brumadinho, com 10 �bitos. Como mostrou a reportagem do Estado de Minas, aquele era o segundo ponto mais letal do estado at� 2022, perdendo apenas para a BR-251, em Francisco S�, Norte de Minas.

O Km 525, com tr�s �bitos, era o segundo mais mortal da serra, mas, ap�s a trag�dia com os torcedores, chegar� ao mesmo patamar do trecho seguinte. Em seguida aparecem o Km 528 (tr�s �bitos), o 519 (1), o 523 (1), o 524 (1) e o 527 (1), segundo as estat�sticas da PRF. “Aquela �rea � um trecho de tra�ado muito ruim, semelhante ao que vemos em outras serras do Brasil, com descidas fortes e curvas fechadas, seguindo tra�ados antigos em vez de projetos modernos. Sem falar no volume de tr�fego, que � intenso”, afirma o especialista em engenharia de transporte e tr�nsito M�rcio Aguiar.
 
Para se ter uma ideia do tr�fego apontado por ele, a pra�a de ped�gio mais pr�xima da serra � a de Itatiaiu�u. At� junho de 2023 passaram por l� 3.542.604 de ve�culos, um fluxo que � 6,5% maior do que o registrado no mesmo per�odo de 2022, quando as cancelas marcaram a passagem de 3.325.622 carros, motos, �nibus e caminh�es.

Um mergulho para o perigo

(Brumadinho, MG. Acidente na Rodovia Fernão Dias (BR-381), em 22 de agosto de 2023, no mesmo trecho em que sete torcedores do Corinthians morreram dois dias antes
(foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press- 22/8/2023)
 
A curva onde morreram os sete torcedores corintianos que seguiam em um �nibus fretado � a 24ª no sentido S�o Paulo da rodovia, dentro do trecho da Serra de Igarap� (Km 516 ao Km 530). Do alto da chamada Serra da Conquista, que � a passagem mais alta da estrada, a 1.132 metros de altitude, os motoristas encaram um mergulho sinuoso de sete quil�metros e 268 metros de desn�vel, descida que exige sobretudo do sistema de freios dos ve�culos. A curva do desastre precisa ser iniciada pelo condutor menos de 100 metros ap�s a que a antecede, contornando um pared�o de 80 metros de altura.

O impacto no barranco em que o �nibus bateu primeiro foi t�o forte que a porta e parte da roda ficaram enterradas no solo, lan�ando estrada abaixo o ve�culo de passageiros, que capotou. Naquele ponto, a Ag�ncia Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) informou que h� estudos para a constru��o de uma �rea de escape. “Neste momento, n�o h� projetos para a implanta��o de �reas de escape. No entanto, a Arteris Fern�o Dias (concession�ria do trecho) est� em andamento com os estudos sobre a possibilidade de implanta��o do dispositivo”, informou a ag�ncia reguladora.
 
Mas n�o � uma solu��o f�cil. “Uma �rea de escape precisa ser muito bem planejada, projetada e executada. Precisa ter um espa�o para onde o ve�culo possa sair da curva, como foi feito em Belo Horizonte, no Anel Rodovi�rio. O local em quest�o � uma encosta �ngreme. Precisa estar em um local vis�vel – a curva fica a menos de 100 metros da anterior – para que o motorista em dificuldade possa optar por utiliz�-la”, afirma o especialista em transporte e tr�nsito M�rcio Aguiar.
Como outro dificultador, o terreno onde a pista de escape poderia ser constru�da n�o est� na faixa de dom�nio da rodovia. Pertence a uma grande fazenda de Brumadinho, em local de recomposi��o de �rea de prote��o permanente (APP), o que pode se traduzir em ainda mais obst�culos nos campos ambientais e judiciais.

Desafios demandam engenharia e aten��o

Brumadinho, MG. Na Serra de Igarapé, Km 525 da Rodovia Fernão Dias (BR-381), descida e local em que sete torcedores do Corinthians morreram em 20 de agosto de 2023, uma cruz enferrujada homenageia outra vítima
(foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
 
A curva do Km 526, em Brumadinho, na sequ�ncia do trecho onde morreram os sete torcedores do Corinthians, no Km 525 da Fern�o Dias, contabiliza 10 mortes entre 2020 e julho de 2023, segundo as estat�sticas da Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF). As poss�veis solu��es de engenharia para o segmento e a redu��o de acidentes passam pela elimina��o da curva, unindo as duas pontas do tra�ado com uma reta pelo terreno vizinho, ou um viaduto por sobre a mata.
 
Op��es que esbarram exatamente no mesmo problema do segmento anterior, que � a dificuldade em se obter a desapropria��o do terreno particular em espa�o de reconstitui��o de �rea de preserva��o permanente de Mata Atl�ntica, sem falar no custo elevado de um viaduto.
 
Outros dois trechos considerados cr�ticos poderiam ser melhorados geometricamente com a supress�o de curvas muito fechadas, como � o caso dos Kms 523 e 524. Contudo, em outros pontos de alto registro de acidentes com mortes, como os Kms 519, 527 e 528, as solu��es mais indicadas pelos especialistas e condutores que conhecem o tra�ado s�o maior aten��o por parte dos motoristas e uma manuten��o rigorosa sobre os sistemas dos ve�culos, sobretudo os freios.
 
“O motorista � parte fundamental da equa��o que resulta no acidente. Prova disso � que, se ele falha ou o ve�culo n�o tem manuten��o ideal, segmentos que n�o representam perigo acabam sendo locais de acidentes graves”, destaca o especialista em transporte e tr�nsito M�rcio Aguiar.
 
Nos 15 quil�metros da Serra de Igarap�, entre os Kms 516 e 530, os registros da PRF mostram que a velocidade incompat�vel do ve�culo acidentado esteve relacionada a 63% dos desastres. Pista escorregadia e defeitos mec�nicos contribu�ram para 16% das ocorr�ncias. J� as capotagens como a que ocorreu com o �nibus dos torcedores do Corinthians foram 26% dos registros de tipos de acidentes, seguidas da colis�o contra obst�culos – como �rvores ou postes – com 21%, e das sa�das de pista, respondendo por 16%.
 
Concession�ria administradora da rodovia, a Arteris Fern�o Dias n�o divulgou quais seriam os pontos mais cr�ticos da estrada que administra, na qual cobra ped�gio e � teoricamente respons�vel pela conserva��o, seguran�a e obras. “A Arteris conduz diversos estudos alinhados com a ANTT para solu��es que aumentem a seguran�a vi�ria das rodovias brasileiras. A implanta��o de �reas de escape � uma delas e tem como foco o complemento de seguran�a em trechos de serra. A Serra de Igarap�, na BR-381/MG, � um dos trechos contemplados pelos estudos.”
 
A concession�ria afirma, ainda, que o local j� recebeu melhorias como “refor�o de sinaliza��o, com semip�rtico com alerta luminoso, placa indicando curva acentuada, placas de contagem regressiva antes da curva, velocidade permitida para ve�culos leves e pesados, assim como placas indicando a fiscaliza��o eletr�nica que se encontra na altura do km 525,4”. Desde 2008, a concession�ria afirma ter investido mais de R$ 3,4 bilh�es na rodovia federal.
 
Sobre a fiscaliza��o de �nibus como o dos torcedores, que n�o tinha autoriza��o de transporte interestadual de passageiros e apresentou v�rios defeitos, a ANTT informou que “realiza constantemente a��es para assegurar a seguran�a dos passageiros”. “Somente em 2023, at� 21 de agosto, foram conduzidas 966 apreens�es por transporte clandestino em todo o pa�s. Em todo ano anterior, esse n�mero foi de 1.150.”



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