Humilha��es e vingan�a perpassam epis�dios que acabaram em mortes em MG e SP neste m�s. Viol�ncia entre alunos n�o � isolada e mobiliza institui��es
Fachadada escola de Po�os de Caldas onde um ex-aluno atacou estudantes a facadas no dia 10. Apreendido, o adolescente disse que havia sido v�tima de bullying (foto: Camilla Dourado/Esp.EM/D.A Press - 12/10/23)
Dois ataques com mortes a escolas brasileiras neste m�s – em Po�os de Caldas, no Sul de Minas Gerais, no dia 10, e na capital paulista, na segunda-feira (23/10) – exp�em a ponta mais tr�gica de uma realidade que ganha contornos alarmantes nas institui��es de ensino e levanta uma quest�o ainda sem resposta: o que motiva um adolescente a planejar um ataque contra colegas e at� mesmo professores? A quest�o � complexa, mas, em todas as discuss�es, o bullying – termo usado para definir uma pr�tica sistem�tica e repetitiva de atos de viol�ncia f�sica e psicol�gica, como humilha��es e xingamentos – aparece como um ponto central do debate.
Segundo dados do 17º Anu�rio Brasileiro de Seguran�a P�blica, divulgado neste ano, mais de 30% das escolas mineiras sinalizaram enfrentar problemas de bullying em seus espa�os. A necessidade de dar cada vez mais espa�o ao di�logo fez com que cada vez mais institui��es do estado refor�assem pol�ticas de combate a esse tipo de viol�ncia.
No epis�dio de Po�os de Caldas, o pr�prio adolescente, de 14 anos, que atacou estudantes a facadas na porta de um col�gio particular onde estudou at� 2021 disse � Pol�cia Civil ter sido movido pelo desejo de vingan�a contra ex-colegas que o teriam agredido sucessivamente na escola. Ele aguardou o fim do hor�rio de aula do turno da tarde, �s 17h, e esfaqueou tr�s estudantes e a monitora de uma van, provocando a morte de um dos alunos.
Em S�o Paulo, um adolescente que vinha sendo alvo de viol�ncia matou uma colega e feriu duas a tiros (foto: Florence Goisnard/AFP
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Depois de atingir a quarta v�tima, o suspeito largou a faca e esperou ser contido por pessoas que estavam no local. O estudante L.W.S., de 14, morreu minutos ap�s ser atingido. Outros dois adolescentes, da mesma idade, foram internados em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Santa Casa da cidade, passaram por cirurgias e tiveram alta na sexta-feira (20/10). A monitora sofreu ferimentos leves e recebeu alta dois dias depois do ataque. O autor foi internado em um centro socioeducativo na Regi�o Central de Minas, at� que se tenha uma decis�o judicial.
Em S�o Paulo, onde um adolescente, de 16 anos, da Escola Estadual Sapopemba, no Jardim Sapopema, Zona Leste da cidade, matou uma aluna e feriu duas na manh� de segunda-feira as investiga��es apontam na mesma dire��o: o jovem, que usou uma arma de fogo dos pais no ataque, era alvo frequente de agress�es praticadas por outros estudantes.
O bullying praticado hoje pode resultar em consequ�ncias tr�gicas a m�dio e longo prazo, como ocorreu no in�cio deste ano, quando amea�as e boatos de ataques em escolas espalharam medo entre alunos e professores de todo o pa�s. Em um �nico dia, em 21 de abril, 12 jovens foram alvos da Pol�cia Civil por suspeita de envolvimento em amea�as de viol�ncia contra escolas em munic�pios mineiros.
Na ocasi�o, dois adolescentes, de 14 e 15 anos, foram apreendidos em Sabar�, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Eles planejavam explodir a tubula��o de g�s da cozinha de uma institui��o de ensino e assim causar uma rea��o em cadeia no pr�dio. No mesmo per�odo, Contagem teve duas amea�as de massacre em escolas em um intervalo de apenas dez dias. Quase quatro meses depois, a Pol�cia Civil cumpriu um mandado de busca e apreens�o na casa de um adolescente, de 14 anos, em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, suspeito de integrar um grupo que planejava massacres em escolas do Brasil.
TRAG�DIAS
Problema crescente no pa�s, as ocorr�ncias de viol�ncias em escolas brasileiras contabilizaram 23 ataques de alunos e ex-alunos, nas �ltimas duas d�cadas, conforme dados do 17º Anu�rio Brasileiro de Seguran�a P�blica, divulgado em julho deste ano, e que, portanto, n�o incluem os casos de Po�os e de S�o Paulo. Foram 12 epis�dios em escolas estaduais, seis em unidades municipais, um em escola c�vico-militar municipal, e quatro em estabelecimentos particulares.
No col�gio Santo Agostinho, estudantes participam de programa preventivo contra agress�es f�sicas e psicol�gicas (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press %u2013 6/7/23)
As mortes chegam a 36: 24 estudantes, cinco professoras, outros dois profissionais de educa��o e cinco alunos e ex-alunos respons�veis pelos ataques. Em 2023, somente no primeiro semestre, foram sete ataques, conforme apurado pela reportagem do Estado de Minas. O Estatuto da Crian�a e do Adolescente (ECA) prev� que os jovens podem ficar internados por at� tr�s anos. Por se tratar de casos envolvendo menores de idade, as investiga��es dos casos mais recentes, registrados em Minas Gerais, seguem sob sigilo.
O Brasil � um dos pa�ses com maiores �ndices de viol�ncia escolar, sobretudo pelo bullying. Geralmente s�o agress�es verbais, f�sicas e psicol�gicas que humilham, intimidam e traumatizam as v�timas. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Sa�de Escolar (PeNSE), lan�ada no ano passado, um percentual superior a 40% de estudantes adolescentes entrevistados admitiu ao Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) j� ter sofrido bullying, conforme levantamento feito em 2019 e divulgado neste ano. Em 2009, a parcela para essa resposta, na mesma pesquisa, era de 30,9%. O problema ocorre tanto em escolas p�blicas quanto nas particulares.
PROBLEMA COMPLEXO
Especialistas s�o categ�ricos em afirmar que n�o h� como simplificar o problema e resumi-lo a uma �nica causa. "N�o existe apenas um culpado. Muitos estudantes passam por isso e n�o se tornam violentos. Esse n�o � o tipo de crime que est� associado apenas a uma decis�o individual”, afirma o soci�logo Lu�s Fl�vio Sapori, especialista em seguran�a p�blica. A explos�o desses ataques � uma quest�o multifatorial, reflexo de uma cultura da viol�ncia e discursos de �dio, potencializados, nos �ltimos anos, pelo acesso irrestrito dos jovens � internet.
Fato � que discursos violentos podem ser intensificados quando conseguem atingir pessoas que sofrem bullying ou se sentem exclu�das da sociedade. Sapori avalia que o bullying n�o pode ser julgado como o centro do problema, mas deve ser considerado sob o ponto de vista preventivo. As escolas e os respons�veis pelas crian�as e adolescentes devem prestar aten��o aos sinais.
ENFRENTAMENTO � VIOL�NCIA
Partindo da premissa de que as agress�es f�sicas e psicol�gicas, al�m de desumanas, inibem o aprendizado e sufocam potencialidades, escolas em Minas Gerais t�m refor�ado pol�ticas de combate ao bullying. �o caso de uma unidade do Col�gio Santo Agostinho, em Belo Horizonte, onde os alunos integram o chamado “Programa de Conviv�ncia �tica”. Um grupo de estudantes acolhe os colegas para auxili�-los na resolu��o de conflitos. “Eles t�m condi��o de prestar ajuda j� que conhecem os colegas e podem compreender e valorizar as diferen�as. N�o h� boa conviv�ncia se os alunos n�o forem os protagonistas”, pontuou a coordenadora do programa, Ros�lia Campos.
Escola municipal de Jos� Silvino Diniz, em Contagem, abriga projeto-piloto para combate � viol�ncia entre alunos (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press - 29/11/2022a)
A aluna do 7º ano Maria Eduarda Bel�m Costa conta que foi eleita para ser membro da equipe de ajuda no ano passado e, desde ent�o, tem vivido uma “experi�ncia incr�vel”. “Desde a inf�ncia tenho o desejo de ajudar as pessoas. Acho que isso me torna uma pessoa melhor a cada dia”, contou.
Iniciativas semelhantes tamb�m t�m sido adotadas na rede p�blica. O munic�pio de Contagem desenvolveu um programa para acompanhar os alunos das escolas de sua rede. O projeto-piloto, chamado "Juventude Cidad�", est� sendo aplicado em fase inicial na Escola Municipal Jos� Silvino Diniz, no Bairro Solar do Madeira, Regi�o de Petrol�ndia. A iniciativa recebe alunos indicados pela dire��o das escolas e, por meio de a��es pedag�gicas, orienta a promo��o do respeito e cidadania, a fim de torn�-los multiplicadores no ambiente escolar.
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Estado de Educa��o de Minas Gerais (SEE/MG) disse considerar qu deu passos importantes para o fortalecimento das a��es de preven��o das viol�ncias. Entre as a��es, citou monitoramento e maior rigor de acesso �s institui��es de ensino estaduais. Hoje, todas as 3,4 mil escolas estaduais de Minas Gerais t�m c�mera e alarme. O Protocolo de Acesso e Seguran�a para as Institui��es Escolares de Minas Gerais, lan�ado em abril, foi implementado em todas as escolas da rede estadual, exigindo a identifica��o e autoriza��o para o acesso de visitantes nas institui��es de ensino.
PM prepara semin�rio
A escalada de viol�ncias nas salas de aula preocupa a Pol�cia Militar de Minas Gerais (PMMG) e leva o comando da institui��o a promover um semin�rio para melhor prote��o dos estabelecimentos de ensino no estado. O primeiro passo est� na publica��o de um edital para contrata��o da empresa respons�vel pela organiza��o do evento denominado Semin�rio de Prote��o Escolar. O edital p�e em pauta a contrata��o da empresa organizadora do evento, ainda sem data para acontecer. Conforme o edital publicado di�rio oficial Minas Gerais, a sess�o de lances ocorrer� no pr�ximo dia 31, �s 10h.