O Minist�rio da Sa�de do Brasil divulgou que est� investigando os dois primeiros casos de covid-19 no pa�s causados pela variante que est� sendo chamada de "deltacron" apesar de este n�o ser um nome oficial e de a OMS n�o recomendar o uso.
Numa conversa com jornalistas, o ministro da Sa�de, Marcelo Queiroga, afirmou que essa nova vers�o do coronav�rus teria sido detectada em um paciente do Par� e em outro do Amap�.
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"Essa � uma variante de import�ncia, que requer monitoramento. As variantes s�o classificadas como variantes de import�ncia e de preocupa��o, e as autoridades sanit�rias est�o aqui para, diante dessas situa��es, tranquilizar a popula��o brasileira", disse Queiroga.
Algumas horas depois, o ministro usou as redes sociais para esclarecer que os dois casos de deltacron "ainda est�o em investiga��o e foram notificados ao minist�rio pelos Estados".
"O sequenciamento total do v�rus deve ser finalizado nos pr�ximos dias pelo laborat�rio de refer�ncia nacional da Fiocruz", complementou Queiroga.
Embora seja utilizado em reportagens e postagens de redes sociais, o nome deltacron n�o � adotado oficialmente pelas institui��es de sa�de. Por ora, a designa��o utilizada em estudos e publica��es especializadas para essa nova linhagem � AY.4/BA.1.
Confira a seguir o que j� se sabe e o que ainda falta conhecer sobre essa nova variante.
Origem e espalhamento
Os primeiros casos de uma variante do coronav�rus que une alguns genes da delta com outros da �micron foram confirmados na Fran�a em janeiro de 2022.
De l� para c�, ela tamb�m foi encontrada na B�lgica, na Alemanha, na Dinamarca e na Holanda, de acordo com informa��es do Gisaid, uma plataforma online onde cientistas do mundo todo compartilham sequ�ncias gen�ticas do coronav�rus.
Mais recentemente, alguns casos de covid relacionados � deltacron tamb�m foram observados nos Estados Unidos e, agora, est�o em investiga��o no Brasil.
A quantidade de sequ�ncias positivas desta linhagem ainda � bem baixa: at� o momento, foram depositadas no Gisaid apenas 47 amostras da AY.4/BA.1, sendo que 36 delas v�m da Fran�a.
Embora n�o seja uma informa��o conclusiva, o fato de esse n�mero n�o ter crescido de forma exponencial de janeiro para mar�o pode ser interpretado como um sinal preliminar de que essa linhagem n�o possui uma capacidade de espalhamento superior � da �micron.
Outro dado que corrobora essa perspectiva vem de um estudo ainda n�o publicado por pesquisadores da Helix, uma empresa privada que trabalha com sequenciamento gen�tico nos Estados Unidos.
Os cientistas analisaram mais de 29 mil amostras positivas para covid-19 que foram colhidas entre novembro de 2021 e fevereiro de 2022, per�odo em que tanto a delta quanto a �micron circularam com bastante intensidade por terras americanas.

De todos esses casos positivos, foram identificados apenas dois que traziam a tal da deltacron.
Os autores concluem que, por ora, esses epis�dios com as duas variantes s�o "raros" e "n�o existem evid�ncias de que uma combina��o delta-�micron resulta num v�rus mais transmiss�vel em compara��o com as linhagens da �micron em circula��o".
Como as variantes se misturam?
O virologista Felipe Naveca, que integra a Rede de Gen�mica da Funda��o Oswaldo Cruz (FioCruz), explica que a recombina��o de variantes n�o � algo raro ou inesperado.
"� poss�vel que isso j� tenha acontecido v�rias vezes, com outras linhagens. Mas, como no in�cio as variantes do coronav�rus n�o eram t�o diferentes umas das outras, ficava mais dif�cil detectar esses eventos."
"Os v�rus est�o em constante evolu��o e o surgimento de novas vers�es n�o � necessariamente uma coisa ruim. Precisamos agora avaliar e entender o impacto que isso pode ter na pandemia", complementa.
Mas como essa recombina��o acontece na pr�tica? Primeiro, � preciso ter em mente que os �ltimos meses foram marcados por uma intensa circula��o de duas variantes do coronav�rus: a delta e a �micron.
Nesse contexto, um indiv�duo pode se infectar simultaneamente com as duas vers�es do pat�geno, ao ter contato com pessoas infectadas num bar, no transporte p�blico ou em qualquer outro local onde ocorrem aglomera��es.
As duas variantes podem, ent�o, infectar uma c�lula ao mesmo tempo. O resultado desse processo � que as novas c�pias de v�rus que surgem dali trazem alguns genes caracter�sticos da �micron e outros peda�os do c�digo gen�tico da delta.
No caso da deltacron, por exemplo, os cientistas observaram que ela carrega a esp�cula da �micron e o "corpo" da delta.
Vale lembrar aqui que a esp�cula, ou a prote�na S, � uma estrutura que fica na superf�cie do v�rus. A fun��o dela � se conectar aos receptores das c�lulas humanas para dar in�cio � infec��o.
Ainda n�o est� claro se essa "mistura" de duas linhagens importantes do coronav�rus pode causar um quadro mais grave, com risco maior de hospitaliza��o ou morte.
Tamb�m n�o existem informa��es se ela consegue escapar da imunidade, conferida por uma infec��o pr�via ou pela vacina��o.
Os cientistas est�o fazendo pesquisas para responder a essas perguntas e os primeiros resultados devem ser divulgados nas pr�ximas semanas.

H� raz�o para preocupar-se?
Autoridades em sa�de p�blica nacionais e internacionais t�m pedido pondera��o e calma a respeito dessa nova variante.
Ao anunciar a investiga��o dos dois primeiros casos no pa�s, o ministro Queiroga falou em "tranquilizar a popula��o brasileira" e disse que a detec��o da deltacron � "fruto do fortalecimento da capacidade de vigil�ncia gen�mica no Brasil".
Em entrevistas recentes, Maria Van Kerkhove, l�der t�cnica de covid-19 da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), destacou que at� agora "n�o foram observadas mudan�as epidemiol�gicas ou na severidade da doen�a relacionadas a essa variante".
"Infelizmente, esperamos ver mais v�rus recombinados, pois mudar com o passar do tempo � justamente o que esses pat�genos fazem", explicou a especialista.
Naveca concorda com os progn�sticos e as an�lises. "Da parte cient�fica, a gente precisa aumentar a vigil�ncia gen�mica e fazer cada vez mais sequenciamentos de amostras para entender se essa nova variante tem algum impacto", aponta.
"J� do ponto de vista individual, � muito importante completar o esquema vacinal com as doses recomendadas", recomenda.
"E os demais cuidados preventivos, como a lavagem das m�os e o uso de m�scaras de boa qualidade, especialmente em ambientes fechados, continuam a funcionar para diminuir o risco de se infectar com qualquer variante do coronav�rus", conclui o virologista.
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