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Estado de Minas

Etarismo: da invisibilidade � educa��o intergeracional


12/08/2023 04:00
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Fl�via Maria de Paula Soares
Psic�loga, psicanalista e professora da Pontif�cia Universidade Cat�lica do Paran� (PUCPR). Mestre em psicologia cl�nica e doutora em filosofia
 
Voc� j� ouviu falar em etarismo ou idadismo? Ou ainda, velhismo? Se voc� tem mais de 50 anos, talvez voc� j� tenha passado por uma situa��o de etarismo, mas n�o saiba o nome. O etarismo, idadismo ou velhismo s�o estere�tipos (a forma como pensamos), os preconceitos (como nos sentimos) e a discrimina��o (como agimos) em rela��o � idade mais avan�ada. A quest�o do etarismo � que n�o se trata somente de um conjunto de ideias inofensivas e sem consequ�ncias; n�o se trata somente do que pensamos e sentimos sobre a velhice e os velhos, mas esses sentimentos e pensamentos se expressam na pr�tica do dia a dia de modo real como agressividade, viol�ncia e discrimina��o. 

Pouco se fala disso, e essa � uma caracter�stica que faz o etarismo se manter e se perpetuar: os eventos etaristas muitas vezes nos passam despercebidos pois eles t�m essa caracter�stica de invisibilidade. Mas, se voc� tem 50 anos ou mais, talvez voc� j� tenha sofrido seus efeitos e sentido um constrangimento, um mal-estar em alguma situa��o, se sentido desvalorizado ou como se fosse incapaz de fazer algo de que voc� � capaz de fazer, mas que at� h� pouco tempo antes dessa situa��o atual voc� n�o se sentia, tudo isso em raz�o de voc� ter atingido uma certa idade. O etarismo tem muitas faces, �s vezes bem expl�citas e grosseiras, como xingamentos e agress�es, e outras maquiadas por uma piada ou “brincadeira” em rela��o � idade. As express�es do etarismo podem ainda ser mascaradas por um modo infantilizado de se tratar as pessoas e/ou pelo cuidado ou excesso de zelo, inibindo os idosos de realizarem atividades das quais t�m autonomia para faz�-las.  

Mas como mudar essa situa��o? Como podemos fazer para sustentarmos uma sociedade democr�tica onde os velhos tenham seu lugar, seu espa�o de express�o e direitos de existirem com suas especificidades, estilos e pluralidade? � preciso que a gente reflita e avalie em si mesmo as nossas condutas estereotipadas e preconceituosas sobre idade e que,  principalmente, a gente fale disso/sobre isso. Muitas vezes n�o nos damos conta de frases e condutas etaristas (n�o somente em rela��o aos velhos/idosos, mas o etarismo tamb�m ocorre quando usamos de estere�tipos generalizados sobre as crian�as e jovens, por exemplo). 

A invisibilidade do etarismo acontece porque essas ideias – que s�o modelitos prontos – sobre “como seria uma pessoa de certa idade” ocorre porque s�o aprendidas e internalizadas inconscientemente, e, muitas vezes, n�o s�o por n�s sequer percebidas e, por consequ�ncia, n�o s�o questionadas. Elas fluem como que automaticamente. Mas � necess�rio que possamos prevenir que elas ocorram, n�o porque vamos reprimi-las, mas porque ao traz�-las � luz podemos fazer, em um primeiro momento, uma autorreflex�o e autoquestionamento sobre qual � a minha ideia sobre a velhice, sobre a velhice dos meus pais e dos meus av�s... 

A velhice frequentemente � considerada como uma fase da vida de muitas perdas e associada � morte e mais raramente como um tempo de ganho e sabedoria: de um saber-viver. Mas a autorreflex�o e autoquestionamento n�o s�o suficientes, � preciso que a gente fale disso, traga o etarismo � visibilidade, � discuss�o nas nossas rela��es dentro da fam�lia, com amigos, na comunidade em que vivemos e principalmente nos diversos campos de educa��o em n�veis de ordem intergeracional, incluindo as pessoas mais velhas. Isso porque, em geral, o etarismo ocorre da parte dos mais jovens em rela��o aos mais velhos, mas podemos muitas vezes perceber uma identifica��o ao lugar que � atribu�do ao velho nas suas rela��es com os mais pr�ximos, na comunidade e na sociedade mais ampla. Nesse caso, temos o autoetarismo que pode vir a produzir o sentimento de autodesvaloriza��o, solid�o e isolamento culminando no adoecimento psicol�gico e f�sico. Quanto mais isolado e sozinho um idoso se sente – mesmo que ele esteja cercado de pessoas –, maiores s�o as chances de adoecimento e de modo mais grave, a sua morte prematura.  

Se tudo der mais ou menos certo e n�o morrermos jovens, chegaremos na velhice. Como eu trato os meus e os seus velhos? Como quero ser tratada na minha velhice? Que sociedade queremos para todos n�s? Convido a todos para pensarmos e falarmos, cada vez mais, sobre a velhice.  
 


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