� um absurdo que o Brasil – um dos pa�ses mais populosos do mundo – n�o tenha dados precisos sobre o n�mero de autistas existentes no pa�s. A Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) n�o fica muito atr�s, e divulga sempre as mesmas informa��es: o territ�rio brasileiro tem cerca de 2 milh�es de autistas, dados estes estimados em 2010.
“J� foi diagnosticado(a) com autismo por algum profissional de sa�de?”. O Censo 2022 (2020), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), incluiu essa pergunta apenas em 11% dos domic�lios que receberam o question�rio da amostra que compunha as visitas domiciliares.
E isso, em parte, porque contou com a ajuda do apresentador Marcos Mion, que tem um filho autista e foi � Bras�lia. Em 2019, foi sancionada a Lei 13.861, que obrigou a inclus�o da pergunta no censo.
Em mar�o deste ano, o Centro de Controle e Preven��o de Doen�as do Governo dos Estados Unidos (CDC/EUA) divulgou novos n�meros – uma em cada 36 crian�as de oito anos � autista no pa�s norte-americano, o que corresponde a 2,8% da popula��o, dado que se refere a 2020.
Se comparamos os dados acima – divulgados pela principal refer�ncia mundial a respeito da preval�ncia de autismo – com os n�meros brasileiros, teremos praticamente seis milh�es de autistas no Brasil, quantidade duas vezes maior do que � “presumido” pela OMS, o que comprova a defasagem de nossas pesquisas.
Mas o que ocorre? Estamos “gerando” mais autistas do que anteriormente? Talvez tamb�m, mas fato � que os diagn�sticos recentes t�m se tornado mais precisos gra�as � maior capacita��o dos profissionais de sa�de e � qualidade dos instrumentos que avaliam o dist�rbio.
Kenny Laplante, fundador e CEO da healthtech Genial Care, especializada nos cuidados com crian�as autistas, refor�a a defasagem e, por outro lado, acrescenta que nem sempre um atraso no desenvolvimento significa que a crian�a tenha autismo. Sinais como atrasos na fala ou na linguagem, dificuldades na comunica��o, em expressar emo��es, ter comportamentos repetitivos e dificuldades na intera��o social s�o exemplos bastante significativos.
A verdade � que o autismo n�o � uma doen�a, mas uma condi��o neurol�gica, que afeta o desenvolvimento da crian�a, principalmente nas �reas de comunica��o, intera��o social e comportamento. � considerada um espectro, o que significa que pode variar amplamente em termos de gravidade e sintomas.
O que assistimos atualmente � a m� condu��o do dist�rbio tanto pelas autoridades, pelas secretarias de sa�de e institui��es de educa��o, quanto por grande parte da sociedade. H�, � verdade, iniciativas escassas: organiza��es n�o governamentais (sem fins lucrativos), associa��es m�dicas (algumas) ou alguns pais que, num esfor�o descomunal, “gritam” por aten��o.
Mas se demorou mais de uma d�cada – entre um censo populacional e outro – para incluir uma pergunta sobre o autismo no formul�rio da pesquisa, quando ser� que haver� um plano nacional para lidar com essas crian�as?