Mineiro de origem humilde, o cinquenten�rio Manoel Costa de Oliveira Neto nunca escondeu os sonhos de se tornar rico, poderoso e famoso, de ter o rosto e o nome em destaque na m�dia. De certa forma, realizou todos os desejos. O primeiro, por meio de neg�cios nebulosos. O segundo, agindo como emin�ncia parda nos bastidores da pol�tica brasiliense. O terceiro, ao aparecer ao lado da mulher, a deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF), recebendo um ma�o de dinheiro na famosa sala de Durval Barbosa, em v�deo amplamente divulgado na �ltima sexta-feira.
Neto come�ou a vida em Bras�lia intermediando a venda de carros usados, na d�cada de 1980. Acordava de madrugada para comprar os primeiros jornais que chegavam nas bancas e encontrar as melhores oportunidades nos classificados. No come�o da manh�, adquiria alguns ve�culos anunciados e, j� � tarde, os revendia. Em meados dos anos 1990, tornou-se s�cio de um a�ougue na Asa Norte e do suspeit�ssimo Super Bing�o dos Importados, esquema investigado pela Pol�cia Federal por n�o entregar os pr�mios sorteados. Ap�s o fim do bingo, ele virou doleiro.
Quando ganhava a vida com o jogo, pouco aparecia. Mas, nesse meio, conheceu muita gente influente e come�ou a fazer fortuna. O patrim�nio e a rede de amigos endinheirados aumentou com os neg�cios de venda e compra de moeda estrangeira. Ele ainda mant�m a casa de c�mbio no hotel Garvey, no Setor Hoteleiro Norte.
Manoel Neto decidiu entrar de vez no mundo da pol�tica em 1998, quando candidatou-se a deputado distrital pelo PMDB, na chapa de Joaquim Roriz. � �poca, ele teve uma das mais caras campanhas, mas n�o conseguiu a vaga na C�mara Legislativa. Apesar da derrota nas urnas, o ex-a�ougueiro foi compensado com a Presid�ncia da Sociedade de Transportes Coletivos de Bras�lia (TCB), em janeiro de 1999.
Amigos
Na gest�o de Neto, a estatal de �nibus da capital da Rep�blica viveu a pior crise em 50 anos. Quando ele assumiu o cargo, a TCB era a quarta empresa do setor no DF, com 210 �nibus. Ele deixou a estatal tr�s anos depois, com apenas 44 ve�culos em opera��o, ocupando o oitavo lugar no ranking do transporte coletivo. Nesse per�odo, ele transferiu, com apenas uma canetada, as mais rent�veis linhas da TCB para o Grupo Amaral, de propriedade do ex-senador Valmir Amaral, � �poca colega de partido do presidente da estatal.
Enquanto mandava na TCB, al�m de Amaral, Neto tinha como amigos outras figuras poderosas no governo local e com extensa lista de processos na Justi�a. Os mais conhecidos eram o tamb�m ex-senador Luiz Estev�o e o ex-deputado federal Vigberto Tartuce, o Wig�o (PPB). De Estev�o, ele tinha o apoio para se manter � frente da estatal. Neto n�o se cansava de dizer aos funcion�rios que queria chegar onde chegara o amigo e fazia de tudo para se vestir e falar como Estev�o. O senador foi processado e preso por causa do superfaturamento nas obras do F�rum Trabalhista de S�o Paulo.
J� com Wig�o, a amizade e os neg�cios andavam juntos. Neto chegou a empregar a filha de Tartuce na diretoria jur�dica da TCB, al�m de, ao menos, outras 10 pessoas de confian�a do amigo. Em troca, Wig�o emprestava alguns dos carros importados e de luxo para Neto passear aos fins de semana e ainda cedeu ao amigo um espa�o na sua R�dio, a Atividade FM. Com a fixa ideia de chegar ao Senado, Neto apresentava o programa Forr� Atividade, transmitido aos domingos. Nele, sorteava todo tipo de brindes e bajulava amigos pol�ticos e empres�rios.
O ex-vendedor de carros, ex-a�ougueiro, ex-bingueiro e ent�o presidente de estatal e radialista, virou ainda um empres�rio da noite. A casa de shows, montada em Samambaia, o mais forte reduto eleitoral de Joaquim Roriz e fam�lia, tamb�m s� tocava forr�. Tanto a boate quanto o programa de r�dio tinham publicidade garantida nos coletivos da TCB, com adesivos e cartazes fixados dentro e fora dos �nibus, uma ilegalidade, segundo o Tribunal de Contas do DF. Mas, novamente, dessa vez filiado ao nanico PTC, ele perdeu a disputa, em 2002.
Morte no lago
As duas derrotas seguidas fizeram Neto mudar de estrat�gia. Ele voltou a agir somente nos bastidores para conseguir um outro cargo na segunda gest�o seguida de Roriz � frente do DF. �quela altura, j� trocara a casa simples, de um pavimento na Asa Norte, por uma luxuosa mans�o no Lago Norte. Tamb�m acumulava carros importados e novos na ampla garagem, al�m de luxuosas lanchas. Os bens, no entanto, nunca foram declarados � Receita Federal. Frequentando as altas rodas do poder da capital, Neto teve muitas namoradas. Acabou casando com a mais famosa delas, a ent�o rec�m-eleita distrital Jaqueline Roriz.
Neto logo virou uma esp�cie de deputado sem mandato. Ele dava ordens no gabinete da esposa e, em nome dela, negociava cargos e dinheiro para campanhas eleitorais, como se v� no v�deo gravado por Durval. O ex-presidente da TCB � o homem que aparece colocando na mochila o pacote de notas entregue pelo ex-secret�rio de Rela��es Institucionais do GDF na gest�o de Jos� Roberto Arruda. No mandato da mulher, Neto se envolveu em outros esc�ndalos. Uma das quatro filhas dele chegou a assumir cargo de confian�a no gabinete da madrasta. Al�m disso, funcion�rios da mans�o de Neto eram pagos pelo gabinete de Jaqueline com dinheiro p�blico.
Para completar, Manoel Neto acabou investigado pela Pol�cia Civil em uma morte ocorrida no Lago Parano�, em 17 de janeiro de 2008. Ele estava em uma de suas lanchas, participando de uma festa, quando o bon� de um dos convidados caiu na �gua. O homem j� estaria embriagado e, ao mergulhar, n�o conseguiu voltar � tona. Afogou-se. As circunst�ncias da morte nunca foram totalmente explicadas pela pol�cia em virtude da falta de testemunhas e de dados precisos da per�cia. No mesmo dia do suposto acidente, Neto pegou as quatro filhas e viajou para os Estados Unidos, onde Jaqueline se recuperava de cirurgias est�ticas.