Ser� aberto no m�s que vem o processo de licita��o de uma das maiores obras j� realizadas no Brasil: a constru��o do trem-bala. Com investimentos previstos de R$ 34,6 bilh�es, o Trem de Alta Velocidade (TAV), que vai ligar as cidades do Rio de Janeiro e S�o Paulo, dever� levar cinco anos para ficar pronto, mas a pol�mica sobre a extens�o dos benef�cios a serem gerados pela obra e se ela deveria ser prioridade no momento j� est� instalada. No entanto, o novo empreendimento n�o ser� o primeiro a dividir opini�es na sociedade. Projetos de grandes obras nacionais j� receberam muitas cr�ticas antes de se provarem essenciais para o pa�s ou de virarem verdadeiros fiascos, com desperd�cio de montanhas de dinheiro p�blico.
Vitoriosos ou fracassados, os grandes projetos s�o embalados pelo desejo dos governantes de deixarem sua marca na hist�ria, assinala o cientista pol�tico da Pontif�cia Universidade Cat�lica de Minas Gerais (PUC Minas) Malco Camargo. “Como a grande maioria dos pol�ticos mant�m planos para per�odos mais longos do que os quatro anos em que estar� no cargo, � frequente a busca pelos fatores que v�o refor�ar o apoio da popula��o, entre eles, a compet�ncia para tirar projetos do papel. Por�m, � importante lembrar que pol�ticos que ficam marcados por realiza��es f�sicas normalmente deixam lacunas nas �reas sociais”, comenta Malco.
Para quem tenta entrar para a hist�ria armando canteiros de obras, os riscos s�o grandes. “Obras fara�nicas d�o grande visibilidade para os governantes que conseguem coloc�-las em pr�tica, mas tamb�m podem marcar negativamente quando n�o s�o concretizadas. Muitas vezes, s�o resultado de projetos de l�deres vision�rios, que percebem para qual dire��o o pa�s est� indo e o que deve ser feito para acompanhar o ritmo do crescimento. Juscelino Kubitschek, por exemplo, tem em seu curr�culo obras gigantescas que se mostraram importantes para o Brasil, como a constru��o de Bras�lia e a cria��o de uma malha vi�ria que atendesse v�rias regi�es”, comenta o professor Jo�o Furtado, do Departamento de Hist�ria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Aos projetos de Kubitschek se contrap�em fracassos que permeiam a hist�ria brasileira. Do Amazonas v�m dois exemplos: a Estrada de Ferro Madeira Marmor� e a rodovia Transamaz�nica. Logo na primeira grande obra de infraestrutura no estado, v�rios problemas se colocaram no caminho dos engenheiros e trabalhadores. A estrada de ferro, projetada no in�cio do s�culo 20 para ligar a regi�o ao Oceano Atl�ntico e facilitar o escoamento da borracha e outros produtos cultivados naquela �rea, levou cinco anos para ser inaugurada e custou a vida de mais de 5 mil trabalhadores, v�timas de doen�as tropicais, ataques de �ndios e acidentes provocados pelas dif�ceis condi��es de trabalho. Com a perda de for�a do ciclo da borracha e os problemas estruturais da obra, a ferrovia foi desativada no in�cio da d�cada de 1970, momento em que tinha pouca utilidade e gerava grandes preju�zos.
Enquanto a ferrovia era desativada, o governo militar, no poder na �poca, colocava outro grande projeto em andamento: a rodovia Transamaz�nica, planejada para transformar a regi�o e ligar o Brasil aos pa�ses sul-americanos fronteiri�os por meio de uma via bem estruturada. Por�m, desde que a estrada come�ou a ser constru�da, em 1969, at� hoje, v�rios trechos continuam em terra, muitos intransit�veis e abandonados. “No caso da Transamaz�nica, podemos citar o tamanho do projeto, a falta de planejamento e as caracter�sticas geol�gicas do local como entraves poss�veis para o andamento da obra. Todos esses fatores s�o decisivos em constru��es grandiosas, e s� mesmo um bom planejamento, com estudos das condi��es naturais, pode evitar atrasos e falhas futuras”, analisa Dalmo Figueiredo, professor de engenharia civil da UFMG.
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No per�odo do regime militar (1964-1985), os investimentos em obras fara�nicas foi uma das principais caracter�sticas das administra��es. Os presidentes generais apostavam na visibilidade internacional e tamb�m perante o p�blico interno, apresentando a imagem de um pa�s forte e a caminho do sucesso. “A busca permanente pela inser��o do Brasil no patamar dos pa�ses desenvolvidos fez com que os presidentes do per�odo militar priorizassem realiza��es de grande porte, que causavam impacto. Eram tamb�m forma de manter a economia aquecida, com investimentos e gera��o de emprego. Algumas obras, como a Hidrel�trica de Itaipu e a Ponte Rio-Niter�i, se mostraram bem-sucedidas e trouxeram avan�os importantes para o pa�s”, ressalta Jo�o Furtado.