Nos dois anos que marcaram o fim da era Lula e o in�cio do governo Obama, os dois pa�ses viveram um distanciamento pontuado por desentendimentos nas esferas bilateral, regional e global. Nesse per�odo, Brasil e Estados Unidos discordaram publicamente sobre a sa�da do presidente Manuel Zelaya, em Honduras, a utiliza��o de bases militares pelos americanos na Col�mbia e a solu��o para o problema nuclear do Ir�. A amea�a de retalia��o brasileira no contencioso do algod�o e o reconhecimento unilateral do Estado palestino pelo governo Lula tamb�m foram temas que expuseram a crescente desconfian�a e as dificuldades de di�logo entre a grande pot�ncia e o “gigante adormecido” — que despertou para o mundo.
A expectativa � grande de ambos os lados. N�o tanto pelo fechamento de acordos ou memorandos de entendimento, mas pelo desejo de reaproxima��o, que � manifestado de parte a parte. Em entrevista ao jornal The Washington Post, a primeira que concedeu a um meio estrangeiro depois de eleita, Dilma j� disse que tentaria “estreitar os la�os” com os americanos. “Acredito que os Estados Unidos t�m uma grande contribui��o para dar ao mundo. E, acima de tudo, acredito que Brasil e Estados Unidos t�m um trabalho a ser realizado em conjunto no mundo”, afirmou, ainda em dezembro. Durante a visita do chanceler Antonio Patriota a Washington, no m�s passado, Hillary tamb�m destacou a import�ncia das parcerias com o Brasil, na Am�rica Latina e no mundo. “O Brasil contribui tanto quando o assunto � o desenvolvimento global, e eu frequentemente cito o Brasil como um modelo. Vamos explorar novos meios de buscar nossos interesses e valores comuns”, afirmou.
Zona de conforto
O trabalho conjunto, ali�s, � o ponto seguro da rela��o, onde o di�logo continuou est�vel mesmo em tempos de acirramento pol�tico e econ�mico. A coopera��o em terceiros pa�ses ser�, inclusive, o t�pico que permear� toda a visita de Obama, com acordos em �reas como biocombust�veis, combate � pobreza, sa�de e educa��o. Para a especialista Cristina Pecequilo, da Universidade Federal de S�o Paulo (Unifesp), os dois governos est�o certos em optar por temas menos espinhosos num momento de reaproxima��o. “Eles t�m que investir nas �reas confort�veis. Se, em um primeiro encontro, os dois j� colocarem na mesa quest�es como o programa nuclear do Ir�, as diverg�ncias v�o surgir novamente, porque o novo governo tamb�m n�o vai mudar a posi��o sobre o direito de Teer� ao uso pac�fico (da energia at�mica)”, afirma.
Em conversa com jornalistas, nessa quinta-feira, Patriota n�o descartou que o tema fa�a parte das discuss�es entre os dois mandat�rios. “Na medida em que o impasse persiste, a conversa pode prosseguir sobre novas bases”, observou. Na opini�o de Peter Hakim, presidente do Inter-American Dialogue, se Obama e Dilma n�o discutirem os “problemas e quest�es cruciais no relacionamento”, a viagem ser� “uma perda de tempo”. “Se eles n�o conseguirem falar sobre Ir�, Honduras, n�o prolifera��o nuclear, etanol, tarifas agr�colas em geral e a aspira��o do Brasil a um assento permanente no Conselho de Seguran�a, ent�o a viagem ser� contraproducente”, avalia.
O momento � de reconquistar a confian�a — dos dois lados. “� tempo de uma pol�tica de ‘no surprises’ — ou seja, compartilhar, especialmente nas �reas mais sens�veis, n�o somente nossos pontos de vista, mas as coisas que vamos fazer dentro de nossa diplomacia”, disse o embaixador americano no Brasil, Thomas Shannon, em entrevista ao Correio, 10 dias ap�s a posse de Dilma. Mas � momento tamb�m de o Brasil encontrar o equil�brio saud�vel entre uma postura firme e a flexibilidade necess�ria para n�o travar o di�logo. “Talvez tenha faltado um pouco de paci�ncia do Brasil, de esperar os EUA aceitarem o novo papel do pa�s. Eles n�o v�o achar natural o nosso processo de crescimento, ent�o � preciso haver adapta��o dos dois lados”, afirma Pecequilo. Para ela, o governo Dilma dever�, por�m, manter a pol�tica de Estado, mesmo que haja temas divergentes. “� dif�cil para os dois lados, mas essa � a hora de trabalhar de forma mais madura.”