Rosana Hessel
Bras�lia - A ressaca diplom�tica depois da visita de Barack Obama ao Brasil trouxe � terra firme ind�cios claros de que a presidente Dilma Rousseff deve retomar aspectos negligenciados pelo antecessor, Luiz In�cio Lula da Silva, especialmente em seu �ltimo ano de mandato. Saem de cena o Ir� e o foco restrito nas rela��es com pa�ses do hemisf�rio Sul e voltam � cena os vizinhos regionais mais pr�ximos, como Argentina e Paraguai, al�m dos Estados Unidos e da China. O quadro geral da diplomacia brasileira nos pr�ximos quatros anos, no entanto, divide os especialistas. Perto do anivers�rio de 100 dias do governo Dilma, que se completam em abril, parte dos especialistas em pol�tica externa enxergam mudan�as significativas em rela��o � era Lula. Outros veem poucas mudan�as por ora. Mas um ponto � consensual: todos concordam que o Brasil n�o voltar� a estreitar rela��es com o Ir� em breve – algo que ali�s causou grande admira��o no governo Obama.
Entre os que veem mudan�as substanciais nas rela��es exteriores do pa�s est� o cientista pol�tico Christian Lohbauer, integrante do Grupo de An�lise de Conjuntura Internacional da Universidade de S�o Paulo (Gacint/USP), e o soci�logo Dem�trio Magnoli. O in�cio de uma reaproxima��o com os Estados Unidos seria uma demanda do setor industrial brasileiro. “Os empres�rios brasileiros n�o suportam mais essa agenda Sul-Sul que n�o traz tantos benef�cios para o pa�s”, aponta Lohbauer.
Segundo Magnoli, a nova linha da diplomacia brasileira que Dilma e Patriota come�am a tra�ar provoca diverg�ncias internas no governo. O grupo contr�rio �s mudan�as nas rela��es entre o Brasil e os Estados Unidos, recorda Magnoli, � encabe�ado por Marco Aur�lio Garcia, que era assessor de Lula na pol�tica externa e mant�m o cargo no governo Dilma. Integravam o grupo o chanceler de Lula, Celso Amorim, que deixou o governo, e Samuel Pinheiro Guimar�es, ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estrat�gicos e agora com um cargo na estrutura de governan�a do Mercosul. “H� uma guerra surda dentro do governo e da diplomacia sobre o futuro das rela��es entre Brasil e Estados Unidos”, analisa.
Para o cientista pol�tico David Fleischer, as pequenas diferen�as na pol�tica internacional brasileira t�m fundamento nos modelos de gest�o da presidente e do antecessor. “ Dilma trata com mais pragmatismo e gerencia os assuntos, est� mais fixada em quest�es econ�micas, deixando ideologia e politicagem de lado. A aspira��o ao Conselho de Seguran�a, no entanto, n�o mudou”, afirma. A tend�ncia � que nos pr�ximos meses Dilma dispense os encontros mais pol�ticos e menos pr�ticos, especialmente com o venezuelano Hugo Chaves e o boliviano Evo Morales, a Garcia e Patriota. “O posicionamento do Brasil no Conselho de Seguran�a na quest�o da L�bia, por exemplo, seguiu a linha tradicional da pol�tica brasileira, de autodetermina��o e n�o envolvimento em assuntos internos de outras na��es, que vem desde o in�cio do s�culo passado praticamente”, diz o doutor em pol�tica internacional Virg�lio Arraes, da Universidade de Bras�lia (UnB).
Sem interven��o
Embora tenha sido criticada internacionalmente, a postura reticente da diplomacia brasileira em rela��o � interven��o militar na L�bia segue a tradi��o do pa�s nas rela��es exteriores inscrita at� mesmo na Constitui��o. O artigo 4º do texto constitucional estabele que o Brasil se rege nas rela��es internacionais pela autodetermina��o dos povos e n�o interven��o. "Em toda a sua hist�ria recente, o Brasil s� abandonou essa pol�tica duas vezes. A primeira em S�o Domingo, em 1965, e a segunda no Haiti, em 2004, por quest�es relativas ao interesse brasileiro em um assento no Conselho de Seguran�a da ONU", explica o professor do Departamento de Hist�ria da Universidade de Bras�lia (UnB) Virg�lio Arraes.