Se os maiores partidos brasileiros demonstram ter sido incapazes de gerar identidade entre os eleitores, os termos direita, centro e esquerda, frequentemente empregados pela academia para refer�ncia a um posicionamento ideol�gico, t�m m�ltiplos significados para o eleitorado. A constata��o � da cientista pol�tica e professora da UFMG Helcimara Telles a partir de an�lise de resultados de pesquisas qualitativa e quantitativa, realizadas pela UFMG/Ipespe em 2008, em Belo Horizonte, dentro do projeto “A decis�o de voto em elei��es municipais”.
De acordo com a pesquisadora, em decorr�ncia dos per�odos de governos autorit�rios e, no geral, da omiss�o de debates ideol�gicos nas disputas eleitorais – ambos caracter�sticos da hist�ria brasileira – , as mesmas posi��es no cont�nuo ideol�gico direita-esquerda assumem significados diferentes para os eleitores. “As acep��es de esquerda e direita s�o referentes tanto � posi��o dos partidos no governo quanto � sua defesa de segmentos sociais”, considera Helcimara Telles.
Outros significados atribu�dos � direita e � esquerda emergiram da pesquisa qualitativa, considera Helcimara Telles. “Houve participantes que conceberam a esquerda como um governo voltado para os mais pobres, e, portanto, mais preocupado com as quest�es sociais”, diz. Dessa forma, de acordo com as concep��es de oposi��o versus governo e de governo popular versus governo dos ricos, o PT foi considerado, por alguns, tanto um partido de direita – porque era governo – como, por outros, uma legenda de esquerda – porque teria preocupa��es com os mais pobres.
Helcimara Telles chama a aten��o para o fato de na Am�rica Latina existir reduzida participa��o da ideologia no c�lculo para a decis�o de voto. “O Informe do Latino Bar�metro de 2008 cientifica que, em m�dia, 44% das pessoas concordam que a democracia � poss�vel sem partidos pol�ticos 70% aju�zam que essas organiza��es fazem um trabalho mau ou muito mau; e 79% t�m pouca ou nenhuma confian�a nas siglas, al�m de a metade ter afirmado que vota desconsiderando o partido pol�tico do candidato”, diz ela. A pesquisadora considera que, em que pese a estabiliza��o do sistema partid�rio na Am�rica Latina, essas opini�es indicam pouca confian�a ou mesmo descren�a nas organiza��es partid�rias e nos pol�ticos. “Isso pode conduzir a um voto conjuntural e mais focado nos atributos pessoais do candidato do que nos aspectos ideol�gicos. Como consequ�ncia, observam-se constantes mudan�as nas escolhas pol�ticas entre pares de elei��es”, afirma.