Se o contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira – preso desde fevereiro por explora��o do jogo –, conseguiu arregimentar aliados em todos os poderes da Rep�blica, na C�mara Municipal de An�polis, em Goi�s, cidade que escolheu para expandir seus neg�cios ilegais, n�o � demais dizer que ele mandava. Di�logos interceptados pela Pol�cia Federal com autoriza��o judicial demonstram que ele ordenou ao seu sobrinho, o vereador Fernando de Almeida Cunha (PSDB), que contratasse uma “apadrinhada” de seu colaborador, o delegado federal Deuselino Valadares. Ele foi longe: determinou at� mesmo o sal�rio da futura funcion�ria.
Em mar�o do ano passado, em uma liga��o para o sobrinho, a quem chamava carinhosamente de Fernandinho, Cachoeira revelou preocupa��o em atender o pedido do delegado federal, acusado em inqu�rito policial de repassar informa��es privilegiadas para a organiza��o criminosa do chefe da jogatina no Brasil. No di�logo, Carlinhos Cachoeira deixa transparecer certa insatisfa��o de n�o ter seu pedido atendido por Fernando at� aquele momento. No entanto, o sobrinho – que em 2010 foi coordenador da campanha do senador Dem�stenes Torres (GO), � �poca do DEM e hoje sem partido, e pr�-candidato � Prefeitura de An�polis –, justifica-se afirmando n�o haver recebido qualquer solicita��o do tio contraventor.
Consulta As investiga��es da Pol�cia Federal interceptaram tamb�m outro telefonema, desta vez entre Deuselino e uma mulher, justamente para tratar de um emprego para ela. Em di�logo na tarde de 15 de abril de 2011, o delegado federal pergunta � mulher se ela gostaria de um emprego em An�polis ou em Goi�nia, em vez de trabalhar no Detran. A resposta foi: “Qualquer lugar, meu amigo.” Deuselino, ent�o, a chama de “doida” e informa que arrumou uma vaga na C�mara de An�polis.
A mulher topa e ele prossegue perguntando se ela ainda est� linda. E completa: “T� com saudade. Muita saudade”. Ao final do di�logo, o delegado federal n�o se contenta em ter conseguido a vaga de emprego e ainda promete mandar buscar sua apadrinhada para lev�-la at� o novo trabalho. No entanto, Cachoeira desiste de atender Deuselino de imediato e adia a contrata��o para nova data, mais conveniente para seus neg�cios. Outras conversas gravadas durante as investiga��es demonstram que Cachoeira funcionava tamb�m como uma grande ag�ncia de empregos. A diferen�a � que os sal�rios eram estabelecidos por ele, de acordo com seus interesses.
O dia D dos amigos
A previs�o mais otimista para o futuro do contraventor Carlinhos Cachoeira � de que o Superior Tribunal Justi�a (STJ) julgue apenas no dia 8 o pedido de liberdade feito por seus advogados. Coincidentemente, na mesma data o amigo Dem�stenes Torres (sem partido-GO) saber� se o Conselho de �tica vai ou n�o abrir o processo que pode levar � cassa��o de seu mandato. Os advogados do contraventor j� descartaram a possibilidade de entrar com novo habeas corpus antes do julgamento do m�rito pelo STJ. "N�o vamos fazer isso. Vamos esperar o julgamento do STJ", adiantou-se a advogada Dora Cavalcanti, uma das defensoras de Cachoeira. Cachoeira est� preso desde o dia 29 de fevereiro, quando foi deflagrada a Opera��o Monte Carlo, da Pol�cia Federal.
DI�LOGOS DO CHEFE
O contraventor Carlinhos Cachoeira e o vereador tucano Fernando de Almeida Cunha (PSDB)
Dia: 24/03/2011 - Hora: 9:59:20
Carlinhos: � Fernandinho e a�? Aquela L�via, que eu pedi, que �
sobrinha do Dr. Deuselino... Pedi pra voc� p�r l� no seu gabinete. Voc� p�s?
Fernandinho: L�via? Sobrinha de quem? Dr...
Carlinhos: Dr. Deuselino.
Fernandinho: N�o, n�o pus n�o. Voc� me pediu mesmo? Certeza?
Carlinhos: (incompreens�vel)
Fernandinho: Ah? E, voc� pediu... a �ltima que voc� me pediu foi a do Para�ba. Voc� tem que me mandar ent�o aqui ela, ela vir aqui.
Carlinhos: L�via. N�o pedi n�o?
Fernandinho: N�o. T� falando s�rio, pediu n�o. A �ltima foi do Para�ba e eu ainda te falei ontem que n�o tinha jeito de entrar este m�s, s� m�s que vem porque ele me entregou um papelzinho depois daquele dia.
Carlinhos: Anota o telefone dela a�. � a sobrinha do dr. Deuselino,
delegado da Pol�cia Federal 8200-XXXX.
Fernandinho: 8200-XX...
Carlinhos: ..XX. Voc� p�e ela a� pra mim? P�e um sal�rio de 1.500.
Fernandinho: Vou ligar pra ela aqui agora. Te retorno a�.
Carlinhos: L�via, sobrinha do dr. Deuselino. Ent�o voc� liga pra ela, eu vou apagar ela aqui, t� bom?
Fernandinho: T� bom. Eu te ligo a� pra te falar.
(encerrada)
Delegado federal Deuselino Valadares com mulher n�o identificada (MNI)
Dia: 15/4/2011 - Hora: 13:58:15
Deuselino: Deixa eu te falar, em vez do Detran, voc� prefere
emprego em An�polis ou Goi�nia?
MNI: Qualquer lugar meu amigo.
Deuselino: � doida.
MNI: Por qu�? Tem disponibilidade para An�polis?
Deuselino: N�o, eu arrumei na C�mara a�.
MNI: Pode ser.
Deuselino: Pode ser?
MNI: Pode.
Deuselino: Ah, ent�o t�, T� organizado a�, t� bom? A� eu vou s� pegar... �... porque ele n�o tava conseguindo falar contigo e eu n�o sei o que aconteceu, a� eu j� falei com ele ontem, a� � para trabalhar na C�mara a�, t�?
MNI: T� joia. Tem problema n�o.
Deuselino: Como � que voc� est�?
MNI: T� indo
Deuselino: T� linda?
MNI: Oi?
Deuselino: T� com saudade.
MNI: � n�. T�.
Deuselino: Muita saudade (...) Ent�o t�, deixa eu te falar, �... Eu vou ver com ele aqui. Eu te ligo daqui a pouco, conforme seja a� j�, voc� pode ir l� agora � tarde?
MNI: Eu t� sem carro.
Deuselino: Uai, eu dou um jeito de mandar te buscar a�, t�?
MNI: Oi?
Deuselino: Eu vou s� ver, se ele tiver no jeito l�, eu vou mandar um carro l�.