
A primeira-dama da cidade, L�dia Braz, de 81 anos, vai ganhar uma est�tua do Cristo Redentor de 32 metros de altura, seis a menos que o monumento original mundialmente conhecido, localizado no Rio de Janeiro. O prefeito vai gastar R$ 1 milh�o na obra que, garante, est� sendo tocada com recursos pr�prios. O Cristo Redentor de Muria� consumir� 40 toneladas de cimento e uma tonelada de ferragens. O terreno onde a est�tua vem sendo constru�da tem aproximadamente 40 mil metros quadrados, fica no Bairro G�vea, e pertence ao prefeito.
O monumento dever� ficar pronto em julho, quando restar�o aproximadamente 90 dias para as elei��es municipais de outubro. A legisla��o eleitoral pro�be a inaugura��o de obras tr�s meses antes do pleito, portanto em 7 de julho. A regra, contudo, vale para projetos tocados com recursos p�blicos.
Prefeito em segundo mandato, Jos� Braz, por n�o poder se candidatar novamente, apoiar� o vice, Alo�sio Aquino (PSDB). A oposi��o, com temor de um cabo eleitoral que ao final das obras pesar� aproximadamente 80 toneladas, promete rea��o.
O vereador Carlos Wilson (PMDB), pr�-candidato a prefeito de Muria�, afirma que ao t�rmino da constru��o da est�tua vai pedir ao prefeito presta��o de contas dos gastos com o monumento. O parlamentar diz ainda que a imagem do Cristo, mesmo ainda em edifica��o, j� foi utilizada em convites para o f�rum municipal de cultura realizado na cidade h� dois meses. “Ser� que a obra servir� tamb�m como mote de campanha?”, questiona o parlamentar. Jos� Braz afirma n�o precisar da obra com a qual presentear� a mulher para eleger o sucessor. “Estamos muito bem em Muria�. Podem falar o que for, mas o nosso candidato vai ganhar”, diz.
Mas que a obra tem grande potencial para atrair votos, n�o h� d�vidas. Al�m do clamor sobretudo entre os cat�licos, segundo o pr�prio prefeito, no local ser�o constru�das ainda duas capelas, um sal�o de festas e um estacionamento. Toda a estrutura, diz Jos� Braz, poder� ser usada gratuitamente para, por exemplo, festas de casamento. � noite, promete o prefeito, refletores coloridos iluminar�o a est�tua. “Ser� ainda um grande ponto tur�stico de Muria�”, diz.
Jos� Braz afirma ter pensado em contratar o religioso e cantor padre Marcelo para a inaugura��o do Cristo. “Mas seria necess�rio uma data mais exata para o fim das obras, o que ainda n�o temos”, argumenta.
O prefeito diz que a mulher pediu a constru��o da est�tua no primeiro mandato do marido. Alega, no entanto, que s� no ano passado decidiu come�ar o projeto. “Fui a uma festa em Ouro Fino (Regi�o Sul de Minas), onde conheci a est�tua do Menino da Porteira. Gostei e perguntei quem tinha feito. Me disseram que era um pessoal do Cear�, que acabei contratando para construir o Cristo Redentor em Muria�”.
Jos� Braz � empres�rio do setor de revenda de ve�culos. O grupo com atua��o nacional que controla � o primeiro no pa�s em venda de ve�culos Volkswagen, e o segundo no mundo no com�rcio de carros da marca, atr�s apenas de uma empresa na China. “Um milh�o para a construir o Cristo � muito dinheiro, mas d� para gastar”, diz.
Moradores A comunidade evang�lica de Muria� n�o concorda com a constru��o do Cristo na cidade. Segundo Roberto Jos� Ferreira, de 60 anos, o pastor da igreja que ele frequenta questiona a obra sempre que poss�vel. “N�o acreditamos em imagens e est�tuas, s� no Deus vivo”, diz. Pelo lado dos cat�licos, a dom�stica Maria da Concei��o de Jesus, de 53 anos, diz que o Cristo ter� o poder de “refor�ar a uni�o da popula��o da cidade com a Igreja”.
Uma d�vida de R$ 40 mi
O Cristo gigantesco que est� para ser inaugurado em breve em Muria� n�o � o �nico monumento a causar pol�mica no munic�pio da Zona da Mata. A Est�tua do Trabalhador, que fica na Pra�a Carlos Drummond de Andrade, � alvo de uma pendenga judicial que se arrasta h� 23 anos. A obra foi encomendada em 1983 pelo ent�o prefeito Paulo Oliveira Carvalho ao seu genro, o artista pl�stico S�rgio Luiz de Souza Campos, mas foi instalada em pra�a p�blica sem sua autoriza��o e sem que ele recebesse nenhum centavo pelo trabalho. O fato gerou uma d�vida da prefeitura com o artista que j� est� na casa de R$ 40 milh�es, valor da indeniza��o mais os juros e multas, segundo decis�o do Tribunal de Justi�a de Minas Gerais (TJMG). Os recursos s�o suficientes para erguer dezenas de est�tuas do Cristo Redentor que est� sendo finalizado, avaliado em cerca de R$ 1 milh�o.
Em 1988 a prefeitura pediu autoriza��o � C�mara Municipal para elaborar um contrato garantindo o pagamento ao artista. Os vereadores rejeitaram, mas a est�tua, que estava guardada na prefeitura, foi instalada assim mesmo na pra�a. No ano seguinte, j� sob a administra��o do ent�o prefeito Christiano Canedo, S�rgio Campos entrou com a a��o na Justi�a contra a prefeitura solicitando o pagamento da obra. Um per�cia inicial calculou o pre�o em R$ 6 milh�es. A prefeitura n�o questionou o valor estabelecido e ele acabou servindo de refer�ncia para o c�lculo final da indeniza��o. Vinte anos depois de muitas idas e vindas o Superior Tribunal de Justi�a (STJ) confirmou a senten�a do TJMG determinando o pagamento da indeniza��o, mas a atual administra��o tenta reverter a senten�a na Justi�a. A indeniza��o calculada em 2009 era de R$ 14 milh�es, mais os juros e multas, o valor chegou a R$ 32 milh�es. Hoje, segundo a prefeitura, j� al�an�a quase R$ 40 milh�es.
Segundo o chefe de gabinete da prefeitura, Adellunar Marge, a prefeitura n�o tem condi��o de arcar com um custo desse montante. Marge disse que a administra��o tenta de toda maneira se livrar do pagamento, considerado astron�mico. Segundo ele, o processo movido pelo artista correu � revelia durante v�rios anos. “Parece at� que deixaram isso correr assim de m�-f� para chegar a esse valor.” Ele disse que o material da est�tua, que � feita de ferro revestido de bronze, foi comprado pela pr�pria prefeitura e que o artista quando executou a obra tinha um cargo de confian�a na administra��o municipal.
A reportagem n�o conseguiu falar com S�rgio Campos, que se mudou para o Rio de Janeiro, segundo informa��o de moradores da cidade, nem com o seu advogado Jos� Olavo Tostes, que estava em Niter�i, regi�o metropolitana do Rio de Janeiro.