
Para Paulo Abr�o, presidente da Comiss�o de Anistia, vinculada ao Minist�rio da Justi�a e respons�vel por analisar os pedidos de repara��o – n�o necessariamente financeira –, a anistia concedida a Marighella � um “ato duplamente importante”. “Primeiro, porque faz uma revis�o de uma injusti�a cometida no passado, no que se refere � repara��o moral para a fam�lia de uma pessoa hist�rica como o Marighella. Segundo, porque � importante o Estado reconhecer os erros do passado e ter a oportunidade de repar�-los”, diz.
Na decis�o, Ana Clara Guedes, conselheira da Comiss�o da Anistia, diz que “o Estado interferiu em sua vida, privando sua liberdade ao prend�-lo e ao for��-lo � clandestinidade e ao retirar o maior e mais importante bem que temos: a vida”. No texto, ela descreve a tortura sofrida por Marighella e a forma como morreu, depois de ser atingido por tiros disparados por agentes do Departamento de Ordem Pol�tica e Social (Dops).
A leitura da decis�o, em 5 de dezembro de 2011, em Salvador, marcou a data em que Marighella completaria 100 anos. Na ocasi�o, a vi�va do guerrilheiro, Clara Charff, na �poca com 87 anos, deu depoimento emocionado sobre ele, a quem atribuiu “grande companheirismo”. “O reconhecimento da luta de Marighella pela liberdade e pela vida digna da popula��o � uma vit�ria para o Brasil”, disse, na cerim�nia, acrescentando que “por muitos anos, os governos mentiram, enxovalharam as pessoas para tirar do Estado brasileiro o peso dos erros”.
A fam�lia de Marighella pediu apenas reconhecimento da persegui��o ao militante. A declara��o de anistia est� na Portaria 2.780, publicada no Di�rio Oficial da Uni�o de ontem. De acordo com o Minist�rio da Justi�a, h� 60 mil pedidos de anistia na pasta, sendo que 50 mil j� foram julgados. T�m direito � repara��o decorrente de anistia o perseguido pol�tico, a vi�va e seus sucessores.
Mem�ria
Inimigo do Estado
Nascido em Salvador, em 5 de dezembro de 1911, Carlos Marighella filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) aos 18 anos. Sua trajet�ria � marcada por forte oposi��o �s ditaduras de Get�lio Vargas e dos governos militares. Foi preso tr�s vezes, sendo a primeira, em 1932, por ter escrito um poema com v�rias cr�ticas ao interventor da Bahia. Em 1945, foi eleito deputado federal constituinte e, quando o governo de Eurico Gaspar Dutra declarou que o PCB era ilegal, tornou-se clandestino. Um dos principais organizadores da luta armada contra o regime militar, ele chegou a ser considerado o principal inimigo do Estado brasileiro. Em 4 de novembro de 1969, cerca de 30 agentes do Departamento de Ordem Pol�tica e Social (Dops), liderados pelo delegado S�rgio Paranhos Fleury, prepararam uma emboscada e o acertaram com tr�s tiros. O guerrilheiro tinha 57 anos quando foi assassinado.