A primeira diverg�ncia entre os dois ocorreu em 1995, quando o ent�o publicit�rio Paulo de Tarso Venceslau denunciou um suposto esquema de corrup��o na Prefeitura de S�o Jos� dos Campos para arrecadar recursos para campanhas do PT. Segundo ele, Lula – que no ano anterior disputara pela segunda vez a Presid�ncia da Rep�blica – sabia das irregularidades. Cardozo, que integrava com o ex-petista H�lio Bicudo uma comiss�o de sindic�ncia da Executiva Nacional, insistiu em apurar o grau de conhecimento do fato do ent�o presidente do PT. "Imagina, ele queria chamar o Lula para depor na sindic�ncia. Claro que n�o caiu bem no partido", confirmou um petista paulistano.
Ao Estado de Minas, Cardozo afirmou que n�o percebe esse grau de animosidade entre seus correligion�rios. "Posteriormente � comiss�o da qual fazia parte, a Comiss�o de �tica do partido ofereceu oportunidade de defesa aos investigados e chegou a conclus�o diferente da que hav�amos chegado. Entendo que isso � uma situa��o absolutamente normal dentro de procedimentos de investiga��o �tica no �mbito de um partido", declarou.
O status do ministro da Justi�a tamb�m oscila dentro do partido. Questionado em 1995, ele participou de um momento marcante do partido no fim da d�cada de 1980. Rec�m-sa�do dos bancos universit�rios, ele foi um dos respons�veis pela reda��o do texto que justificou o fato de o PT n�o ter assinado a Constitui��o do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988. "Era um menino inteligente, redigiu o documento ao lado de Pedro Dallari e S�rgio Renault", recorda o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), amigo de Lula h� 40 anos. "N�o sei de restri��es pessoais de Lula a ele. Dizem que � porque o Cardozo jamais foi ministro quando Lula foi presidente. E da�? Mercadante (Aloizio Mercadante, ministro da Educa��o) tamb�m n�o foi", comparou Devanir.
Cardozo viveu os altos e baixos que marcaram sua trajet�ria pol�tica com mais intensidade nas �ltimas semanas. Primeiro, afirmou em um semin�rio que as pris�es brasileiras s�o medievais. Foi bombardeado, acusado de ter se pronunciado sobre o sistema carcer�rio apenas ap�s seus correligion�rios terem sido condenados no julgamento do mensal�o pelo Supremo Tribunal Federal. Depois, veio a Opera��o Porto Seguro, cuja devassa chegou ao gabinete da Presid�ncia em S�o Paulo. Lula, mais uma vez, n�o gostou. "Ele teve uma atitude extremamente republicana e correta nesse epis�dio", elogiou o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira (SP), ex-ministro da Justi�a. "� um pol�tico correto, que sempre tratou a oposi��o como advers�ria, sem a arrog�ncia t�pica de outros ministros e dirigentes petistas", completa o senador �lvaro Dias (PSDB-PR).
O discurso provoca mais urtic�ria no PT. "Ele sempre foi individualista e exibido. No caso da m�fia dos fiscais, queria puxar para si todos os holofotes", atacou um ex-companheiro de mandato na C�mara Municipal de S�o Paulo. "A investiga��o teve ampla cobertura da imprensa, com transmiss�o ao vivo da CPI da qual eu fui presidente. Isso deu notoriedade �s pessoas que conduziam a investiga��o, inclusive porque obtiveram-se resultados positivos com vereadores e deputados cassados, processados criminalmente e condenados", defende-se Cardozo.
Desilus�o Depois de oito anos como deputado, Cardozo se desiludiu com a pol�tica, com as formas de financiamento de campanha e decidiu abandonar as disputas por cargos eletivos. Foi convidado, em 2010, pela ent�o candidata Dilma Rousseff, para compor a trinca de coordena��o da campanha presidencial, ao lado de Antonio Palocci e Jos� Eduardo Dutra, ent�o presidente do PT. O trio foi apelidado de "Tr�s Porquinhos". Brincalh�o, Cardozo disse que era o C�cero, deixando para Palocci o papel de Pr�tico – o mais inteligente de todos. Passada a elei��o, tornou-se ministro da Justi�a. "N�o sou candidato a nenhum cargo eletivo, mas apenas candidato a fazer um bom trabalho � frente do Minist�rio da Justi�a", disse ele ao Estado de Minas.
Sem validade
O ministro da Justi�a, Jos� Eduardo Cardozo, reafirmou ontem, em Belo Horizonte, que considera sem validade jur�dica o depoimento do empres�rio Marcos Val�rio prestado ao Minist�rio P�blico no fim de setembro, acusando Lula de ter pago despesas pessoais com recursos do esquema do mensal�o. “Uma pessoa, para fazer um depoimento como esse depois de condenada s� tem dois objetivos: tumultuar o processo para que n�o fosse viabilizada a sua condi��o penal ou efetivamente conseguir uma redu��o da pena”, disse, questionando a falta de provas apresentadas pelo empres�rio. Perguntado sobre supostas tentativas de Rosemary Noronha, chefe exonerada do gabinete da Presid�ncia da Rep�blica em S�o Paulo, de atenuar penas de r�us do mensal�o, levantadas em mat�ria publicada ontem pela revista semanal �poca, o ministro disse que preferia n�o comentar o caso e chegou a rir da publica��o.