A Opera��o Porto Seguro revelou que o ex-ministro Jos� Dirceu (Casa Civil) mant�m rela��o pr�xima com o empres�rio e ex-senador Gilberto Miranda - denunciado por corrup��o ativa e apontado como principal benefici�rio do suposto esquema de compra de pareceres t�cnicos em �rg�os federais.
A voz do ex-ministro do governo Lula n�o aparece nos �udios. Ele n�o era alvo da miss�o policial, mas Miranda estava sob vigil�ncia permanente.
Em uma liga��o gravada tr�s semanas depois que Dirceu foi condenado no julgamento do mensal�o, seu auxiliar diz que o petista se recusava a desembarcar no Aeroporto Santos Dumont, no Rio, em hor�rios de grande movimento. “Correr risco agora � besteira, n�?”, recomenda Miranda ao assessor.
Os 25.012 telefonemas gravados pela PF no decorrer da Porto Seguro detalham a intimidade com o poder mantida por Miranda e outros integrantes do grupo. Eram frequentes os di�logos com deputados, senadores, governadores, prefeitos e diretores de �rg�os t�cnicos.
Foi com a ajuda de algumas dessas autoridades que Miranda conseguiu benef�cios para empreendimentos de suas empresas, como a constru��o de um porto privado na Ilha de Bagres, em Santos, litoral paulista.
A PF n�o envolve Dirceu com os neg�cios sob suspeita de Miranda. Mas as liga��es interceptadas a partir de um grampo no telefone do ex-senador revelam que os dois tinham interesses em comum e uma rela��o que permitia ao petista pedir at� empr�stimo de um avi�o particular.
As escutas mostram que Dirceu e Miranda tiveram um encontro no in�cio da tarde de 8 de novembro. O assessor do petista telefona para a secret�ria do empres�rio �s 11h59 para avisar que ele se atrasaria porque havia sido convocado para uma “reuni�o de urg�ncia”.
“Eu s� queria te pedir o seguinte: � que o Z� foi chamado para uma reuni�o de urg�ncia, ent�o a Evanise, a companheira dele, vai chegar um pouco antes no hor�rio combinado e ele, se atrasar ele chega uns minutos depois. Voc� pode avisar o Gilberto?”, pede o auxiliar de Dirceu.
Risco
No dia seguinte, o assessor de Dirceu come�a a articular com o ex-senador reuni�o para 19 de novembro entre a dupla e Saulo Ramos, ministro da Justi�a na presid�ncia de Jos� Sarney - a quem Miranda � ligado. O avi�o de Miranda buscaria Dirceu no litoral da Bahia para lev�-lo ao encontro, em S�o Paulo, e depois seguiria para Bras�lia.
“A princ�pio estava marcado com o ministro (Saulo Ramos) dia 19, �s 16h, mas isso da� eu vou falar com ele agora, pra ver at� a parte da tarde. Isso da� eu te confirmo”, diz Miranda. A reuni�o acabou cancelada, dias depois.
No mesmo telefonema, o assessor de Dirceu pede informa��es sobre um helic�ptero do empres�rio que levaria o petista ao Rio. Os dois temem que o mau tempo obrigue a aeronave a pousar no movimentado Aeroporto Santos Dumont, no meio da tarde. “O Z� n�o estava querendo descer l� no Santos Dumont, entende?”, diz Miranda. “Qualquer coisa pego um avi�o, saio daqui no domingo, quinze para as nove da noite, chego em Santos Dumont mais vazio, entendeu?”, sugere o auxiliar do petista.
O assessor telefona mais uma vez para Miranda, em 14 de novembro �s 14h20, para pedir um favor ao ex-senador. “� s� uma consulta n�o � oficial. O Z� tava indo viajar para a Bahia hoje e acabaram de ligar, que o King (jato executivo) deu uma pane el�trica, que iam emprestar para ele... Por acaso o teu est� por aqui e poderia lev�-lo, ou n�o?”, pergunta o assessor. “O meu est�, mas eu estou sem piloto. Eu, como n�o ia viajar... Eu dei folga para eles”, responde Miranda.
Apesar da recusa, Dirceu foi � Bahia, na praia de Cama�ari, com a namorada e Rose.
Os criminalistas Jos� Lu�s Oliveira Lima e Rodrigo Dalla’Acqua, que defendem Dirceu, responderam que o ex-ministro “n�o mant�m nenhum relacionamento profissional com o sr. Gilberto Miranda, bem como n�o utilizou nenhum meio de transporte de propriedade do mesmo”. Eles destacaram: “A reuni�o com o sr. Saulo Ramos, como evidenciam as pr�prias grava��es obtidas pelo ‘Estado’, acabou n�o se realizando.” O advogado Cl�udio Pimentel, defensor de Miranda, disse que ele n�o vai se manifestar pela imprensa, mas nos autos judiciais.