
“N�o sei por que o governo precipitou o lan�amento formal e j� est� usando aquele s�mbolo. At� ficou feio na foto que vi, me pareceu uma coisa meio sovi�tica, o lado pior do sovietismo, de um personalismo muito forte”, afirmou, acrescentando em seguida que tudo o que Dilma fizer daqui para frente ser� percebido como eleitoreiro, o que levar� tamb�m os demais candidatos a precipitarem as suas candidaturas. FHC participou da abertura do ciclo de debates Minas Pensa o Brasil, organizado pelo diret�rio estadual do PSDB. Em sua palestra, o ex-presidente falou sobre desafios, amea�as e oportunidades do s�culo 21.
Como est� dentro do PSDB a escolha do candidato para concorrer ao Pal�cio do Planalto?
Por enquanto n�o h� discuss�o dentro do partido. A sensa��o que tenho � de que o partido se inclina neste momento pelo nome do senador A�cio Neves. Agora, isso � um processo. A gente n�o pode antes da hora bater martelo, porque pode haver outros candidatos. Sempre defendi que o partido fosse aberto, democr�tico. Se for por consenso, n�o precisa de nada, todos est�o de acordo. Se algu�m quiser ser candidato, tem direito de ser, o estatuto prev� o que se faz. Mas acho que � preciso, antes de falar em candidaturas, afinar o discurso. Na circunst�ncia brasileira, t�o importante quanto a pessoa � o que ela vai dizer. Isso � o que vai chamar aten��o, vai mobilizar. Eventos como o de hoje (ontem) s�o nesse sentido, para afinar o discurso.
Qual � a possibilidade hoje de A�cio ser indicado pelo PSDB para concorrer � Presid�ncia da Rep�blica?
O nome mais citado � o do A�cio Neves e nenhum outro est� postulando a sua inclus�o. Agora, o partido tem gente importante que temos de levar em considera��o. Os governadores, n�o s� de S�o Paulo e de Minas, estados mais populosos, mas h� outros. O Jos� Serra, que teve vota��o enorme, faz parte desse grupo de pessoas que pesam. Temos de conversar com todo esse pessoal. A milit�ncia tem de se entusiasmar e a lideran�a tem de ter sempre sensibilidade de ver se o candidato vai ou n�o entusiasmar.
O PSDB vai ter elei��es para a presid�ncia nacional. A�cio seria um nome, como forma de ganhar visibilidade para uma futura candidatura ao Planalto?
N�o conversei com ele para ver os pr�s e contras. N�o acho que isso venha a ser uma quest�o de divisor do partido. Qualquer que seja o nome ele tem de ter habilidade para unir.
Na hip�tese de ser A�cio o candidato do PSDB, haveria problema para trabalhar o eleitorado paulista?
S�o Paulo � grande demais para se ter essa ideia que tem de ser sempre s� paulistas. N�o existe esse sentimento. O problema � o da mensagem. Se o candidato se apresentar em sintonia com que o povo est� pensando naquele momento, ele ganha. Ent�o, ele tem de ouvir o povo. N�o adianta ficar a discuss�o entre n�s. Tem de sentir o que a popula��o deseja, o que ela quer, e tem de alertar a popula��o tamb�m para ver o que eventualmente n�o tenha sido percebido ainda, mas que a lideran�a perceba. Mas o jogo fundamental � com a sociedade, com o povo. Fui candidato, ganhei em primeiro turno nas duas vezes, com vota��o em todo o Brasil. Ningu�m questionou se eu era de S�o Paulo. Ali�s, os �ltimos presidentes n�o nasceram em S�o Paulo. Eu n�o nasci l�, o Lula n�o nasceu l�, o J�nio Quadros n�o nasceu l�, o Washington Lu�s n�o nasceu l�. O �ltimo que nasceu l� foi Rodrigues Alves. Faz mais de 100 anos. Mostra que S�o Paulo � um estado aberto. Acho que o candidato tem de ganhar a popula��o paulista. Isso vai depender do candidato.
E qual seria o discurso? As �ltimas candidaturas do PSDB a presidente n�o defenderam o seu governo. Como deve ser esse discurso?
O passado � passado. Voc� n�o pode centrar uma campanha no passado. Tem de centrar no futuro. Essa, que � a minha preocupa��o e a de todos os que t�m responsabilidade no PSDB: o que vamos propor ao pa�s. A cr�tica j� est� sendo feita e vai ser acirrada, porque o governo est� indo mal em muitos setores. Isso seguramente vai suscitar cr�ticas, mas n�o s� do PSDB, como em geral. Basta ler na imprensa que h� muitas restri��es sobre o modo como o governo est� resolvendo os problemas de infraestrutura no Brasil, as quest�es or�ament�rias, uma esp�cie de perda de rumo diante das circunst�ncias internacionais. Mas, mais do que isso, temos de apresentar o lado positivo. O que vamos oferecer. Agora e finalmente, de quem vier a ser candidato. N�o podemos colocar na boca de algu�m algo que n�o sente. Quem vai arrematar isso e dar a mensagem � o candidato.
Qual � o cen�rio pol�tico que o sr. considera para o ano que vem?
Como est� posto o quadro hoje, o PSDB ter� candidato, o governo tamb�m, a presidente Dilma ser� candidata � reelei��o. A Marina Silva (ex-senadora) explicitamente se coloca como postulante ao cargo. Eduardo Campos (governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB) n�o assumiu mas as a��es dele s�o nessa dire��o. Eu sei l� se outros v�o aparecer. De repente o Fernando Gabeira (ex-deputado federal pelo PV) vai ser candidato tamb�m. N�o sei por que o governo precipitou o lan�amento formal quase e j� est� usando aquele s�mbolo, at� ficou feio na foto que vi, me pareceu uma coisa meio sovi�tica, o lado pior do sovietismo, de um personalismo muito forte. Mas lan�ou. E normalmente quem est� no governo n�o quer que lance candidatura porque atrapalha. A presidente Dilma, tudo o que ela fizer, v�o dizer: � eleitoreiro. Mas eles lan�aram. Isso faz com que os outros comecem tamb�m a funcionar com muita antecipa��o.
Pensando no PSDB, o sr. acha que A�cio, como potencial candidato, deve come�ar a percorrer o Brasil?
Acho que um l�der de express�o nacional precisa percorrer o Brasil. O Brasil � grande, diferenciado. Qualquer l�der que queira realmente ter peso tem de percorrer e tem de falar. Pode escrever o que quiser que a influ�ncia � menor do que a sua fala e a sua presen�a, que � muito multiplicada pela televis�o e pelo r�dio. Todos os que aspirarem posi��o de lideran�a nacional t�m de percorrer o Brasil. O maior engano em que pode incorrer o candidato � imaginar que ao falar no Congresso ou no partido est� fazendo muita coisa por sua candidatura. N�o est�. As pessoas s� se popularizam quando assumem risco, tomam posi��o e essa posi��o � vis�vel. Ent�o, tem de percorrer o pa�s.