Karla Correia
Bras�lia – O ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva escolheu o semin�rio do PT em Fortaleza, na �ltima quinta-feira, para fazer uma esp�cie de mea-culpa do partido em rela��o ao mensal�o. "Somos seres humanos, alguns de n�s podem cometer erros, � verdade. E quem cometer tem que ser julgado, como todo mundo. Errou tem que ser punido", disse Lula, muito � vontade diante de uma amig�vel plateia de petistas comemorando os 33 anos do partido, 10 deles � frente do governo federal.
A antecipa��o da disputa presidencial trouxe Lula e Fernando Henrique de volta como protagonistas na arena pol�tica 15 anos depois da �ltima vez que se enfrentaram diretamente nos palanques, nas elei��es de 1998. Eleito em 2002, Lula ganhou musculatura pol�tica e se tornou o maior cabo eleitoral do PT na �ltima d�cada. Vitorioso em 1998, Fernando Henrique seguiu caminho inverso e passou a ser escondido por seu partido, o PSDB, nas campanhas presidenciais seguintes. Nunca perdeu, contudo, o papel de articulador pol�tico dentro da legenda. "Esconder FHC foi um erro estrat�gico que custou muito caro ao PSDB e, agora, o partido est� concentrado em recuperar esse legado de oito anos de governo tucano sob o comando dele", diz um cacique tucano pr�ximo a Fernando Henrique.
� em busca dessa "heran�a bendita" que FHC tem se lan�ado em viagens pelo pa�s. Em Belo Horizonte, durante evento do PSDB mineiro, Fernando Henrique rebateu uma recente afirma��o de Dilma, de que o governo petista n�o herdou nada da gest�o tucana. "O que a gente pode fazer quando a pessoa � ingrata? Nada. Cospe no prato em que comeu", disparou FHC, para logo depois acusar o PT de "usurpar" o projeto tucano de governo. "Quem n�o tem projeto � quem est� no governo, porque eles pegaram o nosso. Agora mesmo est�o discutindo a privatiza��o da distribuidora de energia el�trica. O que aconteceu no Brasil foi uma usurpa��o de projeto", afirmou.
Padrinho da prov�vel candidatura de A�cio Neves (PSDB-MG) ao Pal�cio do Planalto, Fernando Henrique tem organizado encontros do senador com economistas para formular o embri�o de um programa de governo tucano para 2014. Edmar Bacha, um dos "pais" do Plano Real, � frequente nessas reuni�es, assim como o ex-presidente do Banco Central Arm�nio Fraga e o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan. Os esbo�os do programa e as falas p�blicas de FHC t�m se concentrado meticulosamente em pontos considerados fracos da atual gest�o – seguran�a p�blica, qualidade dos servi�os de sa�de p�blica, os gargalos na infraestrutura e o fraco crescimento da economia ser�o alvo do ex-presidente em evento do PSDB nesta semana, em Goi�nia. No pr�ximo dia 12, o tucano Luiz Paulo Vellozo Lucas deve lan�ar um livro passando um pente-fino na sa�de financeira da Petrobras. Fernando Henrique estar� presente, com a metralhadora apontada para o governo Dilma.
O discurso de Fernando Henrique � cuidadosamente preparado para enfrentar uma t�tica que j� deu certo por duas vezes para os petistas: a transforma��o da elei��o presidencial em uma esp�cie de plebiscito, onde, mais do que escolher entre candidatos, o eleitorado � instado a apontar se deseja ou n�o a continuidade de um modelo. Funcionou em 2006, na reelei��o de Lula, e em 2010, com Dilma. E est� sendo usada por Lula como um bord�o na s�rie de eventos desenhada para comemorar o anivers�rio do PT. "Quem teme a compara��o � o outro lado. Eles ficavam sem dormir quando eu falava ‘nunca antes na hist�ria do Brasil’", discursou o petista, na �ltima quinta-feira. "Eu fazia isso para o povo compreender o que ele tinha e o que ele passou a ter. E a Dilma tem que continuar fazendo, porque a compara��o � a evolu��o das coisas que aconteceram nesse pa�s."