S�o Paulo – A Comiss�o Estadual da Verdade de S�o Paulo ouviu, na tarde desta quinta-feira, o depoimento de duas mulheres torturadas durante a ditadura militar. Elza Lobo e Ieda Seixas prestaram depoimentos emocionados que devem ajudar a comiss�o no trabalho de identificar e resgatar a hist�ria de militantes mortos ou desaparecidos em S�o Paulo durante o regime. Esta foi a 22ª audi�ncia p�blica da comiss�o estadual este ano.
A primeira a prestar depoimento foi Ieda Seixas, de 65 anos, irm� de Ivan Seixas (membro da Comiss�o da Verdade de S�o Paulo) e filha de Joaquim Alencar de Seixa, que foi torturado e morto no dia 17 de abril de 1971, um dia ap�s ter sido preso pelo regime militar. Bastante emocionada, Ieda disse que, apesar de nunca ter militado, foi presa no mesmo ano junto com a irm� e a m�e. “Fomos levadas para o DOI-Codi (Destacamento de Opera��es de Informa��es - Centro de Opera��es de Defesa Interna), onde fui separada da minha m�e e da minha irm�”. Ieda ficou presa at� setembro de 1972.
Ela relatou que, na pris�o, foi abusada sexualmente e torturada. “Era um sujeito asqueroso, parecia um ogro [monstro], de chapeuzinho. Ele tirou os sapatos e abusou sexualmente de mim”. Nesse per�odo, Ieda tamb�m testemunhou muitas pessoas serem torturadas e at� mortas pelas for�as policiais da �poca. Entre elas, um rapaz “loiro e franzino”, que n�o conseguiu idenficar. “N�o sei quem era o garoto”, disse.
Elza Lobo trabalhava na Secretaria da Fazenda de S�o Paulo, era militante da A��o Popular Marxista-Leninista e foi presa em 10 de novembro de 1969 e levada para a Oban. L� permaneceu por dois anos e sofreu todo tipo de tortura. “Teve tortura da cadeira do drag�o [cadeira com revestimento de zinco ligada a terminais el�tricos] e teve os choques em todos os dedos da m�o, dentro da vagina e nos seios. Tudo o que voc�s est�o imaginando foi executado”, relatou. “As torturas foram intermin�veis”.
Ap�s os depoimentos Elza e Ieda disseram que, apesar de querer, n�o esperam que seus torturadores e estupradores sejam condenados. “A Comiss�o da Verdade, qualquer que seja ela, estadual ou federal, tem um valor hist�rico. N�o vai mudar nada. N�o vai mudar o que aconteceu com a gente, n�o vai haver puni��o, mas que fique consignado para a hist�ria que esse per�odo aconteceu”, disse Ieda.
“Acho que meu depoimento ajuda para que as gera��es futuras saibam o que aconteceu. Quero que as gera��es futuras saibam o que aconteceu e que as escolas discutam [o assunto] para que n�o aconte�a outra vez”, ressaltou Elza. Segundo ela, a viol�ncia da qual foi v�tima continua ocorrendo nos dias de hoje. “No dia a dia a viol�ncia � muito acentuada, principalmente nas periferias, em S�o Paulo”, disse.
Durante a audi�ncia de hoje, o deputado Adriano Diogo comentou a aprova��o da cria��o do Memorial dos Advogados de Presos Pol�ticos e Contra a Censura, que ser� instalado no local onde antes funcionava o Tribunal da Justi�a Militar, em S�o Paulo. No im�vel, segundo ele, vai funcionar tamb�m a sede das Comiss�es da Verdade.
“� um pr�dio federal e demorou dois anos para ser transferido para a Comiss�o da Verdade da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil] e a Comiss�o Estadual da Verdade. Isso � fato consumado. � parte do projeto S�tios da Mem�ria. Para n�s � algo important�ssimo porque � o primeiro pr�dio federal de S�o Paulo que vai se transformar em memorial”, declarou.
A comiss�o tamb�m pretende lutar para transformar em um museu a sede do antigo DOI-Codi, onde hoje funciona o 36º Distrito Policial, no bairo do Para�so.