
Bras�lia – Depois de quase 38 anos de espera e indigna��o, a fam�lia de Vladimir Herzog recebeu nessa sexta-feira a nova certid�o de �bito do jornalista, que morreu em 25 de outubro de 1975. No documento, emitido por ordem do juiz M�rcio Bonilha Filho, a pedido da Comiss�o Nacional da Verdade (CNV), passou a constar a causa da morte por “les�o e maus-tratos”, substituindo “morte por asfixia mec�nica”, express�o registrada no documento original, emitido durante a ditadura militar.
Vladimir Herzog, nascido na Cro�cia, era diretor da TV Cultura de S�o Paulo quando foi convocado a prestar esclarecimentos sobre sua liga��o com o Partido Comunista Brasileiro ao Departamento de Opera��es de Informa��es e Centro de Opera��es de Defesa Interna (DOI-Codi), do II Ex�rcito, em S�o Paulo. O jornalista compareceu ao local e foi torturado at� a morte. � �poca, o Ex�rcito alegou que Herzog se enforcou com um cinto do uniforme de presidi�rio. Uma foto foi montada para apoiar a vers�o.
A entrega da nova certid�o de �bito de Herzog ocorreu em cerim�nia no Instituto de Geoci�ncias da Universidade de S�o Paulo. O documento foi recebido pela vi�va do jornalista, Clarice, e pelos filhos, Ivo e Andr�. “O atestado conserta um absurdo feito contra a fam�lia, uma humilha��o, de nos for�ar a aceitar que ele teve uma atitude covarde de suic�dio. A maior alegria � pelo que isso pode significar para outras fam�lias que passam at� hoje pela mesma tortura”, afirmou Ivo, diretor do Instituto Vladimir Herzog, em entrevista ao Estado de Minas. “Eu cresci sem pai, cresci embaixo da sombra de um m�rtir da ditadura”, lamentou.
Ivo torce para que o Supremo Tribunal Federal reveja a posi��o adotada quanto aos crimes do passado militar do pa�s, entre 1964 e 1985. O entendimento do STF � de que a anistia vale tanto para as for�as de resist�ncia ao golpe quanto para os militares envolvidos em torturas e outros crimes.
O deputado federal Nilm�rio Miranda (PT-MG) endossa o pedido da fam�lia Herzog. “Em algum momento o Brasil vai ter de saldar essa d�vida”, afirma. Para Miranda, que foi secret�rio de Direitos Humanos da Presid�ncia da Rep�blica, a apura��o dos crimes da ditadura seria um ajuste necess�rio para o futuro da democracia brasileira. “O caminho do processo democr�tico � de desfazer a impunidade dos crimes contra a humanidade cometidos no passado. Recuperar esse passado � o primeiro passo para evitar a repeti��o da tortura e das execu��es, que acontecem at� hoje”, disse.