Rio e Bras�lia, 19 - Obstinado nas brigas pol�ticas e conhecedor dos detalhes t�cnicos dos debates no Congresso, o articulador dos maiores entraves � MP dos Portos, o l�der do PMDB na C�mara, Eduardo Cunha (RJ), acentuou, ao longo da semana, sentimentos opostos: a irrita��o do governo e a admira��o dentro e fora da bancada peemedebista.
“Esse epis�dio deixou clara a defici�ncia de articula��o pol�tica e mostrou que o governo tem que tratar melhor sua base. N�o � poss�vel essa hist�ria de que tudo que o governo manda � para o bem e qualquer mudan�a � para o mal”, disse o deputado a caminho de seu escrit�rio, no centro do Rio. “N�o sou oficial de cart�rio para carimbar qualquer papel que vem do governo. O Congresso n�o � um departamento do governo.”
O l�der diz que seu discurso reflete o esp�rito da bancada do PMDB e que n�o d� um passo sem consultar os deputados. Capaz de identificar nos projetos em tramita��o “janelas de oportunidade” de negocia��o pol�tica, o parlamentar ouve pacientemente os colegas. Em pouco mais de tr�s meses � frente da lideran�a, aglutina em sua �rbita um contingente numeroso de aliados no “baixo clero” - parlamentares de menor influ�ncia pol�tica, sem acesso aos gabinetes poderosos de Bras�lia.
Diferentemente de seu antecessor - o atual presidente da C�mara, Henrique Eduardo Alves (RN), que s� ouvia os deputados sob amea�a de rebeli�o - Cunha promove reuni�es semanais com a bancada. Com isso, conseguiu que 64 dos 69 deputados peemedebistas votassem a MP dos Portos de acordo com sua orienta��o.
Efeito Garotinho
A vota��o da medida provis�ria seria mais um dos muitos embates de Cunha com o governo, n�o fosse o desgaste extra provocado pelas acusa��es de Anthony Garotinho (RJ), l�der do PR na C�mara. Ex-governador do Rio e ex-aliado do peemedebista, Garotinho acusou Cunha de agir em favor dos interesses de empres�rios que atuam no setor portu�rio e apelidou a emenda defendida pelo peemedebista de “Tio Patinhas”, al�m de chamar o objeto da disc�rdia de “MP dos Porcos”.
Com outros deputados acusados, Cunha decidiu denunciar Garotinho � Corregedoria da C�mara. Tamb�m promete processar o ex-aliado. Procurado pelo Estado, Garotinho n�o respondeu �s liga��es. “Lamento profundamente ter perdido algum tempo da minha vida pol�tica ao lado dele, foi um desperd�cio. Um erro crasso”, diz Cunha sobre Garotinho.
A rela��o dos dois, por�m, j� foi a melhor poss�vel. Quando governador, Garotinho nomeou o ex-aliado presidente da Companhia Estadual de Habita��o (Cehab). Cunha deixou o cargo depois de uma s�rie de den�ncias de irregularidades em licita��es, entre 1999 e 2000.
Os processos abertos no Tribunal de Contas do Estado (TCE) foram arquivados em 2004, mas reabertos no fim de 2012, ap�s a Justi�a do Rio concluir que os documentos do Minist�rio P�blico que inocentavam Cunha foram falsificados.
Cunha nega qualquer irregularidade nos contratos da Cehab e diz que, no epis�dio dos documentos falsos, � v�tima e n�o r�u. O caso gerou tamb�m uma den�ncia da Procuradoria-Geral da Rep�blica, encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF). “Ainda n�o fui instado a me defender”, diz. Outro processo no STF investiga suposto tr�fico de influ�ncia para beneficiar um ex-diretor da Refinaria de Manguinhos. Cunha alega inoc�ncia.
Foi pelas m�os de Garotinho que Cunha chegou ao PMDB, sa�do do PP. Depois de se desentender com o governador S�rgio Cabral, Garotinho deixou o partido e ingressou no PR. As rela��es com Cunha continuaram cordiais at� o rompimento, h� quase dois anos. Quase ao mesmo tempo, Cunha se aproximou de Cabral, que o ajudou na campanha pela lideran�a do partido. Hoje, Cabral e Cunha t�m boa rela��o pol�tica, embora n�o sejam amigos.
No momento em que o PMDB do Rio amea�a suspender o apoio � reelei��o da presidente Dilma Rousseff se o senador petista Lindbergh Farias n�o desistir da candidatura ao governo, Cunha � um fiel defensor do pr�-candidato peemedebista, o vice-governador Luiz Fernando Pez�o. Na vota��o da MP dos Portos, teve a solidariedade do presidente do PMDB fluminense, Jorge Picciani: “O Eduardo unificou e expressou o sentimento majorit�rio da bancada. O PMDB ganhou peso”.
Carioca de 54 anos, economista e evang�lico, Cunha est� no terceiro mandato. � acusado pelos advers�rios de criar dificuldades para o governo sempre que tem algum interesse contrariado, como em 2007, quando foi relator na Comiss�o de Constitui��o de Justi�a (CCJ) da prorroga��o da CPMF e defendeu pontos que contrariavam o Planalto. O impasse s� foi resolvido depois que o ex-prefeito do Rio Luiz Paulo Conde assumiu a presid�ncia de Furnas.
Apoio de Collor
Cunha deve o in�cio de sua carreira pol�tica ao ex-presidente Fernando Collor, que o nomeou presidente da Telerj (ent�o estatal federal que cuidava das comunica��es no Rio) em 1990. O economista tinha ent�o apenas 30 anos e foi apadrinhado por Daniel Tourinho, presidente do PRN, partido que elegera Collor em 1989.
Entre pol�ticos de fora do PMDB, Cunha tamb�m granjeou admira��o por sua atua��o na vota��o da MP dos Portos. O sucesso do l�der do PMDB � apontado como resultado da conjuga��o de qualidades: preparo t�cnico, grande capacidade de trabalho e muita habilidade nas articula��es. “Ele dorme quatro horas por noite. �s 2h da manh�, ainda est� no telefone, e �s 6h est� de novo. Deve ser a maior conta telef�nica do Brasil”, diverte-se um parlamentar.
“Ele tem cumprido decis�es de bancada e isso tem dado a ele muito cr�dito”, comentou outro colega. L�der da segunda maior bancada da Casa, com 82 deputados, Cunha tem rela��o de proximidade com PSC, PR, PSD, PTB e at� com figuras de destaque do PT. A vota��o da MP dos Portos mostrou ao governo a habilidade do l�der para manter coesa a enorme bancada peemedebista. Na seara do Planalto, a avalia��o � que atua��o do “aliado inimigo” amea�a mais o vice-presidente Michel Temer do que a presidente Dilma Rousseff. “Eles (o PMDB) v�o ter de se entender e definir quem manda no partido”.* Colaborou T�nia Monteiro.