
No come�o o motivo era o aumento das tarifas e a p�ssima qualidade do transporte p�blico. A insatisfa��o agora � geral. De governos � oposi��o, da esquerda � direita, e no pa�s do futebol, nem mesmo a Copa escapa. Ontem, nas ruas de 11 capitais do Brasil, o que se viu foram manifesta��es contra tudo e contra todos. Os partidos que tentaram se apropriar das manifesta��es tiveram suas bandeiras rasgadas pelos manifestantes. Diante de tudo isso fica uma pergunta: o que est� acontecendo?
Para a historiadora e cientista pol�tica Regina Helena Alves Silva, a onda de protestos revela uma insatisfa��o brutal da popula��o com o sistema pol�tico vigente. “Andamos muito para a frente, mas deixamos muita coisa para tr�s. O sal�rio melhorou, a economia tamb�m, mas o transporte continua p�ssimo, a sa�de – particular e privada – n�o funciona, o acesso � escola foi ampliado, mas o ensino piorou. O Brasil virou um grande consenso. O partidos que est�o no poder n�o se diferenciam. Por tudo isso, o povo rejeita sua participa��o nas manifesta��es”, analisa.
Outro fator importante, segundo ela, s�o as redes sociais. Por meio delas, destaca Regina Helena, professora na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), as pessoas se organizam sem intermedi�rios. E daqui pra frente? A historiadora n�o arrisca previs�es. “Tudo vai depender da capacidade das pessoas de transformar esses movimentos em conquistas, de lutar de fato para mudar as coisas.”
Para o especialista em marketing pol�tico Gaud�ncio Torquato, “a multid�o caminha em dire��o aos pal�cios para dizer: ‘governantes, saiam da tocaia. Venham ouvir o grito das ruas. N�o vamos agredir voc�s’”. Sobre a tentativa de grupos pol�ticos de se apropriar dos protestos ele foi tachativo. “Perguntam-me: quem vai se aproveitar de tudo isso? O povo. E quem se identificar com assepsia pol�tica, depura��o de velhas pr�ticas. O povo est�, de certa forma, dizendo que � o mandat�rio-mor. A ele pertencem todos os mandatos. Apenas delega poder.”
Para o soci�logo Rud� Ricci, a riqueza dos protestos que se alastraram pelo pa�s � a sua pluralidade. Segundo ele, na manifesta��o na capital mineira havia bandeira da Palestina, movimento de professores, policiais, estudantes, indignados com os gastos da Copa do Mundo, insatisfeitos com os governos municipais, estaduais e federal, revoltados com a qualidade e o pre�o da passagem p�blica. Para ele, todos esses protestos representam uma revolta com o sistema pol�tico como um todo. A rejei��o aos partidos � um sinal claro, avalia, de que os canais de representa��o das legendas com a popula��o est�o entupidos.
“Jovem democracia” O pesquisador do Instituto de Ci�ncias Pol�ticas da Universidade de Bras�lia (UnB) Leonardo Barreto acredita que o movimento que tomou conta das ruas brasileiras combina alguns fatores que s�o novos no pa�s: jovens sem vincula��o partid�ria com capacidade de mobiliza��o social e a falta de preparo dos governos para lidar com a situa��o. “Daqui a um tempo, vamos nos lembrar destes dias como momentos importantes para a nossa jovem democracia”, declarou ele.
Para Barreto, h� muito a mobiliza��o deixou de questionar apenas o aumento nas tarifas de transporte coletivo. “� um movimento contra o Judici�rio, que n�o consegue punir os pol�ticos corruptos; contra o Legislativo, que mant�m regalias hist�ricas; e o Executivo, que n�o consegue atender as demandas da popula��o”, enumerou.
Na opini�o do pesquisador da UnB, outro fator contribui para complicar a situa��o: “A arrog�ncia e o autismo dos governos, que n�o sabem ouvir, n�o sabem dialogar e n�o sabem receber os pedidos das pessoas”. Barreto acrescentou que, com o aumento da renda e da escolaridade da popula��o, os cidad�os deixam de pedir apenas comida e passam a cobrar outras melhorias, como nos servi�os p�blicos. (Colaborou Paulo de Tarso Lyra)