Leandro Kleber, �tore Medeiros, Grasielle Castro e Paulo de Tarso Lyra
Bras�lia – S�mbolo do Poder Legislativo, o Congresso Nacional teve a plataforma superior, onde est�o as c�pulas da C�mara e do Senado, invadida por manifestantes �s 19h20 dessa segunda-feira, no dia mais tenso dos protestos na capital federal, e que se alastraram por todo o pa�s. O grupo – 10 mil de acordo com os organizadores e 7 mil na avalia��o da Pol�cia Militar – caminhava pelo Eixo Monumental quando se dividiu para confundir os homens da PM. Parte correu para o gramado em frente ao espelho d’�gua do Congresso. O outro, aproveitando um descuido assumido pelos pr�prios seguran�as, foi at� o teto de m�rmore.
�s 22h, um grupo tentou invadir a chapelaria, destinada ao embarque e desembarque dos parlamentares, e foi reprimido com bombas de g�s – at� o fechamento da edi��o, n�o se sabia se era lacrimog�neo ou pimenta – lan�adas pelos policiais militares. Instalou-se uma correria desordenada pela pista que levava ao Eixo Monumental, com pessoas passando mal ao inalar o g�s lan�ado pelos militares.
O movimento foi organizado ao longo de todo o fim de semana pelas redes sociais e ocorreu dois dias ap�s um confronto duro com a Pol�cia Militar na porta do Est�dio Nacional de Bras�lia Man� Garrincha, no s�bado, antes do jogo de abertura da Copa das Confedera��es entre Brasil e Jap�o.

O repert�rio dos “homenageados” pelo protesto era imenso. Sobrou para o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva e para a presidente Dilma Rousseff. O atual presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que no in�cio do ano enfrentou protestos para que renunciasse ao cargo, foi xingado, bem como seu antecessor Jos� Sarney (PMDB-AP).
Os jovens exigiram a sa�da dos deputados mensaleiros e a ren�ncia do presidente da Comiss�o de Direitos Humanos da C�mara, Marcos Feliciano (PSC-SP). Eles lembraram at� o projeto que prev� o fim do voto secreto no Parlamento. “Voto secreto n�o, eu quero ver a cara do ladr�o.” Tamb�m se manifestaram contra a PEC 37, que tira o poder do Minist�rio P�blico de fazer investiga��es criminais.
Vaias Um grupo de tr�s senadores tentou negociar com os manifestantes. Eduardo Suplicy (PT-SP), Paulo Paim (PT-RS) e In�cio Arruda (PCdoB-CE) buscaram estabelecer di�logo. Foram vaiados como todos os demais pol�ticos e voltaram reclamando que o movimento n�o tinha l�deres dispon�veis para o di�logo. “Queremos di�logo de consenso e sem viol�ncia”, reclamou Suplicy, sem �xito.
A Pol�cia Legislativa conseguiu negociar com os manifestantes e eles desceram pela rampa central do Congresso. Segundo relato dos presentes, a rampa, de m�rmore, tremia ao pulo dos jovens, diante de servidores assustados preocupados em avisar aos familiares que estavam bem. De vez em quando, algu�m corria pelo gramado gritando: “a tropa de choque vem a�”, embora a reportagem n�o tenha visto movimentos do Batalh�o Especial da PM no local.
Outro grupo seguiu, ent�o, para a frente da chapelaria. Policiais militares sem identifica��o circulavam entre os presentes, aumentando o risco de tens�o. “Ei, soldado, voc� est� do lado errado” e “abram o caminho”, gritavam os manifestantes para os PMs e para os respons�veis pela seguran�a do pr�dio. Embora algumas pessoas tivessem desistido e retornado para casa, �s 21h30 ainda era grande a concentra��o no gramado em frente ao Parlamento at� que ocorreu o confronto mais duro com os policiais. As luzes do Comit� de Imprensa e das salas ao lado da vice-presid�ncia foram apagadas, mas, em um gesto de boa vontade, um dos seguran�as deu �gua para os manifestantes. “Amanh� vai ser pior”, amea�avam, numa alus�o ao movimento que deve ocorrer na quinta-feira. Segundo levantamento feito pelo Estado de Minas, adolescentes, jovens adultos e poucas pessoas acima dos 40 anos engrossaram a massa dos manifestantes.
O presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), divulgou nota no auge da crise. “O Congresso reconhece a legitimidade de manifesta��es democr�ticas como as havidas hoje, desde que as institui��es sejam preservadas.” Assegurou que passou ordens � Pol�cia Legislativa para que n�o reprimisse a manifesta��o e que mantivesse apenas a ordem necess�ria.
Mem�ria
Hist�rico e invas�es
Um dos cart�es-postais de Bras�lia, o Congresso � um tradicional palco de protestos na capital federal. E h� um hist�rico de invas�es do pr�dio e confronto com os seguran�as. Em 2006, cerca de 500 integrantes do Movimento de Liberta��o dos Sem Terra (MLST) ocuparam o sal�o verde da C�mara dos Deputados. Armados com foices, pedras e peda�os de pau, eles quebraram uma porta de vidro e destru�ram equipamentos ao reivindicar a reforma agr�ria. No saldo do protesto, 40 pessoas feridas e todos os manifestantes detidos em um gin�sio de esportes. Em 6 de agosto de 2003, participantes de marcha contra a aprova��o da PEC da Reforma Previdenci�ria tomaram as rampas do Congresso. A manifesta��o reuniu 50 mil pessoas, segundo a Pol�cia Militar. Em abril deste ano, um grupo de 700 �ndios que participava de uma reuni�o na C�mara decidiu invadir o plen�rio, em hor�rio de sess�o, com flechas e lan�as. Deputados sa�ram correndo do local. Os ind�genas queriam impedir que a demarca��o de suas terras fosse decidida por deputados ruralistas.