Bras�lia - Chocada com as cenas de viol�ncia no pa�s e a invas�o ao Pal�cio do Itamaraty, a presidente Dilma Rousseff convocou, na noite dessa quinta-feira, uma reuni�o, nesta sexta-feira, com os ministros mais pr�ximos, entre eles o ministro da Justi�a, Jos� Eduardo Cardozo. A presidente quer mapear com seus conselheiros pol�ticos a extens�o das manifesta��es por todo o Pa�s e medidas emergenciais que podem ser tomadas pelo governo para arrefecer o movimento. A presidente cancelou as viagens que faria nesta sexta-feira � Bahia e na pr�xima semana ao Jap�o.
O governo deve voltar a avaliar a possibilidade de Dilma fazer um pronunciamento em cadeia nacional, o que havia sido descartado na quinta-feira ap�s a a��o de v�ndalos no Itamaraty. Autoridades do governo consideraram a invas�o ao Itamaraty um fato “muito grave” e “assustador”. Devem participar da reuni�o, al�m de Cardozo, os ministros Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Ideli Salvatti (Rela��es Institucionais) e Helena Chagas (Comunica��o Social).
A presidente passou o dia em seu gabinete no Pal�cio do Planalto na quinta-feira, despachando com ministros e acompanhando a movimenta��o em todo o Pa�s pela TV. O pal�cio foi cercado pelo Ex�rcito. Ela deixou o Planalto em dire��o ao Pal�cio da Alvorada �s 20h28, quando considerava que o ambiente estava relativamente calmo. Imediatamente ap�s sua sa�da do Planalto, houve a invas�o ao Itamaraty.
O governo tem dificuldades para tratar o movimento, j� que n�o h� uma pauta espec�fica at� o momento. As cenas de quinta-feira mostram que se transformou no protesto pelo protesto, avaliavam auxiliares de Dilma.
Pacote para jovens
Est� sendo costurado no governo um pacote para a juventude. A ideia inicial � oferecer um refor�o ao programa Ci�ncias sem Fronteiras (bolsas no exterior), ampliar o acesso a universidades, criar programas sociais para a juventude ou turbinar alguns j� existentes. Em outra frente, o governo quer aumentar vagas de ensino t�cnico.
Na quinta-feira � noite, a Secretaria-Geral da Presid�ncia promoveu uma reuni�o com assessores da Secretaria da Juventude, na qual foram avaliadas reivindica��es dos manifestantes. A reuni�o foi flagrada pela TV Record. Eram exibidos slides com t�picos das reivindica��es dos manifestantes e os seguintes dizeres: “Brasil precisa mudar”, “corrup��o”, “manifesta��es em todo o Brasil”.
PT nas ruas
Horas antes de convocar a reuni�o de emerg�ncia com ministros a presidente viu-se obrigada a enquadrar a dire��o nacional do PT, que estimulou militantes a se unirem aos protestos das ruas. Diante do clima pol�tico tenso e confuso, Dilma irritou-se e censurou a atitude do presidente do PT, Rui Falc�o, que conclamou militantes do partido, por meio do microblog Twitter, para uma passeata liderada pelo Movimento Passe Livre (MPL), na Avenida Paulista.
Falc�o tinha convocado petistas para as manifesta��es de ontem em comemora��o � redu��o nos pre�os das passagens de �nibus, mas recuou e retirou a hashtag “#ondavermelha” do seu perfil do Twitter.
A preocupa��o do Pal�cio do Planalto e de v�rios dirigentes petistas era com a rea��o dos manifestantes, que rejeitavam a presen�a de partidos nos protestos. Parte dos pol�ticos da legenda previa que a incita��o petista poderia dar f�lego a movimentos de hostilidade contra o partido, como de fato acabou ocorrendo.
Em outro documento, uma nota do PT nacional, Rui Falc�o revela a busca do partido por um novo discurso pol�tico, que vai al�m da inclus�o social t�o destacada pelos governos Lula e Dilma. Em seu primeiro par�grafo, Falc�o afirma que os movimentos “colocam na ordem do dia uma nova agenda”. O petista insiste no ataque � m�dia.
“A presen�a de filiados do PT, com nossas cores e bandeiras, neste e em todos os movimentos sociais, tem sido fator positivo n�o s� para o fortalecimento, mas, inclusive, para impedir que a m�dia conservadora e a direita possam influenciar, com suas pautas, as manifesta��es leg�timas”, diz o texto.
A principal preocupa��o de parte dos dirigentes � que ao misturar o PT nas ruas num momento de tens�o o pr�prio partido d� muni��o a advers�rios para que transformem parte dos protestos em atos contra o governo e Dilma, que, at� o momento, n�o s�o o alvo central.
Mas uma ala petista acha que o partido tem direito de ir para as ruas e de fazer manifesta��es, j� que � considerada uma legenda de massas e de mobiliza��es, com uma ampla milit�ncia e pode ter detectado a necessidade de se conectar melhor com a sociedade. Outra ala, no entanto, acha que o PT tentar se impor em uma manifesta��o apartid�ria pode apenas expor o partido, o governo e Dilma.
O chamamento de Rui Falc�o foi atacado pesadamente por jovens que rejeitaram a participa��o do PT nas manifesta��es. “Piada do dia”, “somos apartid�rios”, “sai pra l� aproveitadores” e “oportunismo canalha” foram algumas das cr�ticas que se fizeram seguir � orienta��o do dirigente petista.
“Eles s�o contra o governo Dilma. E o PT � o governo Dilma. Ir para a rua s� se for para apanharmos”, disse o deputado Domingos Dutra (PT-MA). Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT-SP), afirmou que teve vontade de ir para o meio da multid�o. “N�o fui porque n�o fui chamado. N�o sei se me aceitariam”, disse ele.
Oposi��o
A ex-senadora Marina Silva usou met�foras para falar da inten��o de partidos de irem �s ruas. “Navegar o rio depois que ele transbordou � o que todo mundo faz. Dif�cil � trabalhar o curso do rio enquanto est� cavando a terra.” “O PT vai dizer o qu�? Esse � o maior movimento depois das Diretas-J�. Contesta os dez anos do governo do PT. S� se for para fazerem mea culpa”, disse o presidente do DEM, Jos� Agripino (RN).