Adriana Caitano e Juliana Colares
Bras�lia – Um movimento sem l�deres, sem partidos, sem foco. Por mais que se tente comparar as cenas que o Brasil tem visto nas �ltimas semanas com outros momentos da hist�ria em que as cidades foram tomadas por protestos, todos t�m dificuldade de achar uma explica��o te�rica ou l�gica para o que ocorre agora. Especialistas ouvidos pelo Estado de Minas refor�am: n�o � o momento de ter certezas sobre o futuro, porque a voz das ruas, desta vez, tem muitos tons. Ainda que apostem em um arrefecimento das manifesta��es em breve, eles concordam que o fato � in�dito e deve servir de reflex�o, principalmente, para a classe pol�tica.
O diretor da ONG Transpar�ncia Brasil, Claudio Abramo, e o professor de �tica e Filosofia da Universidade de Campinas (Unicamp) Roberto Romano destacam que, apesar de existirem demandas difusas vindas dos manifestantes, a inconformidade com as institui��es p�blicas e a corrup��o s�o o ponto comum de todos os grupos. “O Estado brasileiro, que sempre foi muito repressivo e parasit�rio, est� decepcionando cada vez mais a popula��o. A m�quina p�blica � lenta, enquanto a popula��o tem informa��o em tempo real e est� percebendo o quanto tudo isso incomoda”, comenta Romano.
Claudio Abramo ressalta que a rejei��o dos manifestantes aos partidos � o maior reflexo de que h� uma crise institucional no pa�s. “N�o defendo a inexist�ncia de legendas, porque isso n�o funciona, mas as manifesta��es est�o apontando a fal�ncia do sistema eleitoral brasileiro e a absoluta falta de representatividade dos partidos pol�ticos, que parecem divorciados da comunidade que os elege”, argumenta.
Romano concorda: “Os partidos, nos �ltimos 40 anos, decepcionaram as bases, n�o se democratizaram, s�o siglas com donos, que s� pensam em ganhar elei��o e mandam no Fundo Partid�rio, nas indica��es para cargos, na propaganda, nas alian�as, e d�o uma banana para os militantes”, analisa. “Com essa pr�tica, n�o incentivam os jovens a participar, expulsam a sociedade e levam o exemplo para os poderes Legislativo e Executivo que ocupam.”
DESNORTEADOS
Ao mirarem o futuro, os especialistas frisam que n�o h� espa�o para teorias prontas e restritas sobre o momento, que � “um divisor de �guas”. “Os pol�ticos n�o est�o sabendo o que dizer, n�o t�m no��o do que est� ocorrendo nem resposta, an�lise ou a��o, mas deveriam olhar com muita curiosidade essa mensagem forte das ruas”, alerta Abramo. “Os intelectuais e pol�ticos menosprezam a capacidade de pensamento da popula��o, que talvez n�o saiba ainda se organizar da melhor forma, mas sabe o que est� acontecendo. As manifesta��es s�o o resultado da moderniza��o da sociedade brasileira”, diz Romano.