Amanda Almeida
Bras�lia – Pressionada a dar uma resposta �s manifesta��es nas ruas, a presidente Dilma Rousseff lan�ou uma s�rie de medidas que dependem do Congresso – entre elas, a reforma pol�tica via plebiscito –, mas escanteou projetos que, de fato, teria autonomia de levar adiante, a exemplo da redu��o de minist�rios e do corte de gastos p�blicos. Para especialistas, Dilma sucumbiu ao fisiologismo da base para manter a coaliz�o governista e � ref�m de um sistema pol�tico obsoleto.
Em rea��o � iniciativa da presidente de pautar o Congresso com a reforma pol�tica sem antes buscar um consenso, a oposi��o e parlamentares aliados, como o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), citaram o incha�o da Esplanada, tido como um dos pontos fracos do governo do PT. Entre a primeira gest�o do ent�o presidente Luiz In�cio Lula da Silva e o atual mandato de Dilma, o n�mero de pastas e secretarias com status de minist�rio saltou de 23 para 39, sendo a �ltima a Secretaria da Micro e Pequena Empresa.
Com a multiplica��o das pastas, sobem os gastos para a manuten��o da m�quina p�blica. Em 2003, o governo gastou R$ 66 bilh�es com o pagamento de pessoal dos 23 minist�rios. Nove anos depois, em 2012, 38 pastas consumiram R$ 188,1 bilh�es. Para o economista e especialista em or�amento p�blico Raul Veloso, o corte seria um gesto relevante para a popula��o, agora mobilizada. “Mostraria que o governo est� fazendo um sacrif�cio, inclusive em rela��o � base de apoio. Do ponto de vista administrativo, esse n�mero alto n�o � bom. A popula��o n�o sabe nem quais s�o todos os ministros”, avalia.
Na pr�tica, qualquer redu��o poderia melindrar as rela��es com os partidos. Para assegurar apoio e em nome da governabilidade, Dilma aceitou o loteamento de cargos na Esplanada entre os aliados. A um ano e quatro meses das elei��es, em meio �s negocia��es para as alian�as de 2014, fica ainda mais dif�cil recuar e contrariar interesses. Pesquisa do Instituto Datafolha publicada ontem mostrou que, embora ainda lidere a disputa, a petista caiu 21 pontos percentuais na corrida presidencial. O levantamento mostrou tamb�m queda de 27 pontos percentuais – de 57% para 30% – na popularidade da presidente desde o in�cio dos protestos nas ruas. O ministro das Comunica��es, Paulo Bernardo, que se reuniu ontem com Dilma, disse que ela est� “calma” em rela��o aos n�meros.
A oposi��o, que, para cientistas pol�ticos, teria a mesma dificuldade da presidente Dilma, aproveita o momento para atacar a petista. “� imposs�vel despachar com 39 ministros. Ent�o, voc� retalha o governo para fazer atendimentos pol�ticos e de qualidade duvidosa”, acusa o senador Agripino Maia (DEM-RN).
A bandeira foi levantada tamb�m pelo potencial candidato � Presid�ncia da Rep�blica em 2014,A�cio Neves (PSDB-MG). “Propomos � presidente Dilma reduzir pela metade o n�mero de minist�rios e diminuir pela metade o n�mero de cargos comissionados, hoje da ordem de 22 mil, iniciando pelos cerca de 4 mil cargos da Presid�ncia da Rep�blica.”
Pego de surpresa pelo an�ncio da possibilidade da cria��o de uma constituinte espec�fica para a reforma pol�tica, Renan apoiou a ideia da oposi��o. “Tamb�m estaremos favor�veis a qualquer decis�o no sentido de reduzir o n�mero de minist�rios, para que os recursos economizados sejam redirecionados para a educa��o, sa�de, transporte e seguran�a p�blica”, anunciou o presidente do Senado. Renan foi acompanhado pelo senador Valdir Raupp (RO), presidente nacional do PMDB, maior sigla de apoio a Dilma. “Acho absurdo o Brasil ter 39 minist�rios. Fiz at� um levantamento no mundo e, na Alemanha, s�o 14 minist�rios; nos Estados Unidos, 17. Todos os pa�ses variam entre 13 e 20”, criticou Raupp.
Populismo
Para Francisco Fonseca, cientista pol�tico e professor da Universidade de S�o Paulo (USP), o discurso da oposi��o e dos aliados � populista. “Isso inclui o an�ncio do governador de S�o Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), de reduzir pastas. � midi�tico. Na verdade, os aliados v�o ser realocados em outros espa�os do governo. O que ocorre � que os governos, no nosso sistema pol�tico obsoleto, tornam-se ref�ns da coaliz�o pol�tica. Quem � eleito com o governo quer governar. E, se n�o conseguir espa�o, vai pressionar pelo Legislativo. Para mudar essa l�gica, seria necess�ria uma reforma pol�tica”, defende.
Ao ser questionado sobre a press�o da oposi��o, o ministro da Educa��o, Aloizio Mercadante, respondeu com uma provoca��o. “� democr�tico (o questionamento) em rela��o a cargos comissionados. E eu tenho certeza de que a oposi��o vai cortar 50% dos cargos comissionados de seus governos. � um belo exemplo que eles poderiam dar.”
Aus�ncia
Preocupada com o acirramento dos �nimos e aconselhada por auxiliares diretos, a presidente Dilma Rousseff decidiu n�o comparecer ao Maracan� hoje no jogo entre Brasil e Espanha, na final da Copa das Confedera��es. A ideia inicial de Dilma era estar presente, apesar de ter sido vaiada em Bras�lia, na abertura da competi��o, no Est�dio Man� Garrincha.