(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Quando Che foi ca�ado pela ditadura

Documento no arquivo do Dops, em Belo Horizonte, revela alerta do governo militar brasileiro para a possibilidade de Che Guevara ter atuado no pa�s, em 1966, um ano antes de morrer


postado em 21/07/2013 07:00 / atualizado em 21/07/2013 07:34

(foto: EM/DA Press)
(foto: EM/DA Press)

Ernesto Guevara de la Serna era para o Minist�rio da Guerra brasileiro, em janeiro de 1967, um “marginado” ca�ado pelos militares que comandavam o pa�s. O argentino, mundialmente conhecido como Che Guevara pelo seu protagonismo na revolu��o cubana em 1959, foi o foco oito anos mais tarde de um memorando que circulou entre os �rg�os de repress�o. At� o ano passado o Ex�rcito negava a exist�ncia de qualquer registro sobre a passagem do revolucion�rio no pa�s ap�s o golpe militar. Uma consulta formal feita pelo Estado de Minas – obedecendo aos crit�rios da Lei de Acesso a Informa��o – obteve a seguinte resposta do Minist�rio da Defesa: “N�o existem nos arquivos do Ex�rcito Brasileiro relat�rios sobre a estada de Ernesto Che Guevara no Brasil, em 1966”.


 Por�m, o documento assinado pelo ent�o tenente-coronel Edival Alves Pimenta, da 1ª Regi�o do Ex�rcito – ao qual o Estado de Minas teve acesso –, foi repassado aos bra�os do Servi�o Nacional de Informa��o (SNI) com o carimbo: secreto. Em apenas uma p�gina foram descritos poss�veis locais em que o revolucion�rio teria estado no Brasil, como Duque de Caxias e Petr�polis, no Rio de Janeiro, e no Mato Grosso, fronteira com a Bol�via, pa�s em que Che foi assassinado, em outubro de 1967, enquanto organizava um foco guerrilheiro.


O documento est� no arquivo do Departamento de Ordem Pol�tica e Social (Dops) na pasta 1.069, que tem um total de oito p�ginas. S�o tr�s p�ginas com a reprodu��o de um livreto escrito por Che chamado O que � um guerrilheiro?, outra com o memorando distribu�do �s for�as de repress�o, entre elas o Dops, e outras tr�s p�ginas com fotos do revolucion�rio argentino, al�m da capa. O documento � intitulado “Pedido de busca n�mero 1 e 2 secreto”.


“Encarando como provavelmente verdadeiros os informes versando sobre a presen�a do marginado na �rea do I Ex, esta Ag�ncia difunde os informes abaixo”, come�a o texto do memorando. Na sequ�ncia, detalha os locais e crava: “Consta existir um campo de treinamento de guerrilheiros no munic�pio de Petr�polis, pr�ximo � serra de Petr�polis”. O documento relata tamb�m que Che foi visto oito meses antes (em junho de 1966) no Mato Grosso, na fronteira com o Brasil. Diz ainda que em Angra dos Reis um marinheiro contou ter visto um casal de argentinos na cidade e que o homem partiu para encontrar Che, enquanto a mulher permaneceu no litoral fluminense.


Entretanto, de acordo com o rec�m-lan�ado livro Marighella (Companhia das Letras), escrito por M�rio Magalh�es, um dos passaportes apreendidos com o argentino em 1967 tinha um carimbo do posto de imigra��o paulista em 1º de novembro de 1966 e sa�da dois dias mais tarde. Ou seja, a repress�o estava buscando Che nos momentos e nos locais errados. No livro, a informa��o sobre o itiner�rio de Che � atribu�da a R�gis Debray, fil�sofo e jornalista franc�s, pr�ximo a Fidel Castro e ao revolucion�rio argentino, que esteve na Bol�via � �poca da guerrilha.


“Guevara ingressou no Brasil sem barba, de �culos e com uma careca lustrosa obtida a arrancar fio por fio de cabelo. Portava um passaporte uruguaio em nome de Adolfo Mena Gonz�les, personagem a servi�o da Organiza��o dos Estados Americanos. O passageiro disfar�ado calou sobre a rota no seu di�rio de campanha”, escreve Magalh�es na p�gina 341 de Marighella.
Para o cientista pol�tico, historiador e um dos mais respeitados especialistas sobre pol�tica exterior brasileira Moniz Bandeira, n�o h� d�vida sobre a passagem de Che pelo Brasil, principalmente por S�o Paulo. “Che teria de passar necessariamente pelo Brasil para fazer contatos (Marighela) e entrar na Bol�via. Tamb�m consta que ele esteve no Uruguai, com Brizola”, afirma Bandeira. Para o historiador, que escreveu De Mart� a Fidel - A revolu��o cubana e a Am�rica Latina (Civiliza��o Brasileira), Che passou para o Brasil a caminho de Montevid�u, onde se encontrou com Leonel Brizola e discutiu a cria��o de focos guerrilheiros.


A rela��o entre o governo cubano e as tentativas de guerrilha no Brasil era estreita. No artigo “O apoio de Cuba � luta armada no Brasil: o treinamento guerrilheiro”, a professora de hist�ria contempor�nea da Universidade Federal Fluminense (UFF) Denise Rollemberg destaca que Cuba teria treinado entre 2 mil e 3 mil guerrilheiros latino-americanos entre 1962 e 1967.

Lendas de uma guerrilheira

Se nem o Ex�rcito � certo sobre quando Che Guevara esteve no Brasil, a suposta presen�a do revolucion�rio alimentou uma s�rie de mitos entre os militantes. Alguns chegam at� a garantir que ele esteve ensinando t�ticas de guerrilha no maci�o do Capara�, entre Minas Gerais e Esp�rito Santo. “Se fosse verdade, quem se encontrou com ele teria o maior orgulho de contar. Teria sido uma gl�ria para quem teve o contato”, afirma o deputado federal e ex-militante Nilm�rio Miranda (PT), que foi tamb�m ministro dos Direitos Humanos.


O autor do livro Capara� (Boitempo), Jos� Caldas Costa, refor�a que n�o passa de lenda. Ele entrevistou os sobreviventes para escrever o livro, perguntou a todos, mas nenhum confirma os boatos. “Puxava o assunto, mas logo eles diziam que n�o fazia sentido”, lembra Caldas. A guerrilha come�ou em outubro de 1966, quando menos de 20 homens tentaram repetir a experi�ncia da Serra Maestra cubana. Por�m, sem apoio popular, o foco foi encerrado por milhares de militares. A chegada dos guerrilheiros ao local coincidiu com a ida de Che Guevara para a Bol�via.


O secret�rio de Educa��o de Alto Capara�, Thiago Monteiro, destaca que na cidade n�o h� nenhuma mem�ria que remeta � guerrilha. “O Ex�rcito veio para c� e promovia brincadeiras com as crian�as, fazia atendimento m�dico e odontol�gico e a cidade achava que n�o tinha ningu�m l� em cima (na serra) e adorava a presen�a dos militares”, destaca Monteiro. Al�m disso, a maioria da popula��o � evang�lica e n�o apreciava o ate�smo dos comunistas que combatiam na montanha. Mesmo sem agradar os locais, existe um plano, segundo Monteiro, de conseguir reunir material para construir um museu da guerrilha na cidade.

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)