No dia que colocou em pr�tica uma nova estrat�gia para tentar interromper o desgaste pol�tico que vem sofrendo h� dois meses, quando come�aram os protestos pelo Pa�s, o governador S�rgio Cabral (PMDB) foi ao encontro das fam�lias atingidas pelo grave acidente de Campo Grande, mas a iniciativa provocou revolta e indigna��o. Cabral foi xingado de "safado" e "corrupto" pelos moradores, que cercaram a van de vidros escuros que o levou embora.
A visita do governador, que n�o costuma aparecer em locais de trag�dias, como as frequentes enchentes no Estado, fazia parte de uma nova postura, evidenciada na v�spera, quando ele reconheceu que "estava precisando de muita dose de humildade".
Em Campo Grande, Cabral estava acompanhado de dois de seus principais aliados, que procuram sa�das para n�o sofrer as consequ�ncias do estrago pol�tico do governador. De um lado, o vice-governador e coordenador de Infraestrutura do Estado, Luiz Fernando Pez�o (PMDB), pr�-candidato ao governo. Desconhecido da popula��o, Pez�o tenta construir a imagem de executor, respons�vel pelas maiores obras do Estado, mas � completamente dependente do padrinho pol�tico e n�o avan�a nas pesquisas de inten��o de voto, atr�s do senador petista Lindbergh Farias, do ex-governador Anthony Garotinho (PR) e do ex-prefeito Cesar Maia (DEM).
Do outro lado estava o prefeito Eduardo Paes (PMDB), tamb�m atingido pela hostilidade dos moradores de Campo Grande, que exibiam cartazes "Fora Cabral" e "Fora Eduardo Paes". Nos �ltimos meses, o prefeito criou uma agenda pr�pria, oposta � de Cabral, de grande exposi��o p�blica. Paes se apresenta como respons�vel pelas falhas da prefeitura, como aconteceu durante a Jornada Mundial da Juventude, quando concedeu entrevistas di�rias. O prefeito tamb�m recebeu o coletivo M�dia Ninja, que registra ao vivo pela internet as manifesta��es contra Cabral, e, em entrevista, chegou a criticar a a��o da Pol�cia Militar na favela da Mar� (zona norte), quando, h� pouco mais de um m�s, dez pessoas morreram - um policial e nove moradores.
O acampamento de jovens na porta da casa do governador, um apartamento de luxo no Leblon (zona sul); a continuidade dos protestos; a rea��o da Pol�cia Militar; a revela��o de que um dos helic�pteros oficiais � usado para levar o governador, a mulher, os filhos, a bab� e o cachorro Juquinha � casa de veraneio em Mangaratiba s� pioram a imagem de Cabral, no momento em que muitos governantes tiveram abalos na popularidade. A aprova��o do governador do Rio chegou a apenas 12%, segundo pesquisa CNI/Ibope.
Rea��o contr�ria
Na tarde de segunda-feira, 29, Cabral pediu que os manifestantes sa�ssem de sua porta e provocou rea��o contr�ria: uma nova manifesta��o foi marcada para esta ter�a. "Cabral est� acuado, tem dificuldades de sair da defensiva. O desgaste se ampliou muito a partir das manifesta��es, que se acentuaram no Rio e chegaram a um ponto cr�tico, por causa da rea��o da PM. Setores que apoiavam Cabral agora o rejeitam. Claro que ainda falta um ano para a elei��o, mas acho muito dif�cil que Pez�o tenha condi��es de se tornar um candidato competitivo. O governador vai passar por muitos momentos de dificuldade at� o fim do mandato", diz o cientista pol�tico Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio.