O antigo pr�dio da 2.ª Auditoria Militar de S�o Paulo, um dos principais s�mbolos da repress�o pol�tica nos anos da ditadura militar, vai ganhar nova destina��o. Na segunda-feira, 5, ele ser� repassado oficialmente � se��o paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), que instalar� no local um memorial destinado a lembrar e homenagear os advogados que atuaram contra a ditadura, dedicando-se � defesa de presos pol�ticos.
O pr�dio fica no n�mero 1249 da Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, no bairro da Bela Vista, regi�o central da cidade. A 2.ª Auditoria Militar funcionou ali at� 2010, quando mudou-se para um edif�cio maior e mais moderno, na Avenida C�sper de L�bero. Nos anos da ditadura militar por ali tramitaram milhares de processos envolvendo opositores pol�ticos do regime.
Por l� passaram, entre outros casos, os processos contra os 694 estudantes indiciados por terem participado do congresso clandestino da UNE, em 1968. Na extensa lista figurava o nome do futuro ministro-chefe da Casa Civil, Jos� Dirceu.
No dia 25 de fevereiro de 1981, o l�der metal�rgico e futuro presidente da Rep�blica, Luiz In�cio Lula da Silva, ouviu ali a senten�a na qual foi condenado por ter liderado uma greve de 41 dias na regi�o do ABC Paulista, por melhores sal�rios e condi��es de trabalho. O promotor o acusou pelos crimes de desobedi�ncia civil e incita��o � desordem. No local tamb�m foram condenados os guerrilheiros da Vanguarda Popular Revolucion�ria (VPR), acusados de matar um tenente da Pol�cia Militar, em 1970.
A defesa dos opositores era limitada e dificultada de todas as maneiras pelo regime autorit�rio. Os advogados chegavam a ser amea�ados pelo seu trabalho, como lembra o presidente da OAB-SP, Marcos da Costa: "Aqueles advogados agiram de forma solid�ria, contra tudo e contra todos, para fazer prevalecer o direito de defesa de pessoas processadas pelos crimes de express�o de opini�o, por discordarem do regime, por organizarem trabalhadores em sindicatos. O trabalho deles ocorreu, muitas vezes, com risco de vida."
Essa hist�ria, segundo Costa, ainda n�o foi devidamente contada: "� uma hist�ria muito bonita, que precisa ser apresentada �s novas gera��es, em defesa dos valores democr�ticos."
A ideia de instalar no local o Memorial da Luta pela Justi�a - Advogados Brasileiros Contra a Ditadura partiu da Comiss�o da Verdade da OAB-SP. Segundo seu presidente, M�rio S�rgio Duarte Garcia, o projeto de instala��o do memorial ainda dever� ser montado. Mas j� se sabe que dever� manter a forma original do pr�dio, para que os visitantes saibam como era seu funcionamento.
A transfer�ncia do pr�dio para a OAB-SP, por um contrato de cess�o com prazo de vinte anos, renov�veis por mais vinte, ser� feita oficialmente por um representante da Superintend�ncia de Patrim�nio da Uni�o. A cerim�nia de ocupa��o, prevista para as 14 horas, contar� com a presen�a da coordenadora da Comiss�o Nacional da Verdade, a advogada Rosa Maria Cardoso da Cunha, e do presidente da Comiss�o Estadual Rubens Paiva, o deputado Adriano Diogo (PT). Representantes do Minist�rio P�blico Federal tamb�m participar�o do ato.