Leonardo Augusto
Enviado especial
C�rrego Fundo (MG) – Dia exclusivo para atendimento � popula��o e a antessala do prefeito da pequena C�rrego Fundo, Regi�o Centro-Oeste de Minas, est� vazia. A cena t�o comum do vaiv�m de moradores de cidades do interior atr�s de emprego, cesta b�sica ou dinheiro para o pagamento de conta de luz n�o se observa no munic�pio. E tudo por causa da cal. A extra��o e beneficiamento de pedras para se chegar ao produto � a principal respons�vel por um importante t�tulo para C�rrego Fundo: o de cidade mineira com a menor diferen�a entre mais pobres e mais ricos, segundo o �ndice Gini, medido a partir dos dados sobre renda familiar apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE).
Pelo menos 80% da economia do munic�pio, de aproximadamente 6 mil habitantes, est� relacionada � cal, empregada por exemplo na fabrica��o de creme dental, tinta, branqueamento de a��car e purifica��o de �gua. Em uma das pontas medidas pelo IBGE est� Dilermando dos Reis Vital, de 46 anos. Morador da zona rural, ele trabalha “no forno”, como dizem os habitantes da cidade para se referir aos oper�rios que t�m a fun��o de levar ao fogo as pedras que ser�o transformadas em cal.

O estilo de vida de Dilermando ajuda a explicar o conjunto de fatores que fizeram de C�rrego Fundo a cidade do estado com menor desigualdade social. O munic�pio tem popula��o pequena e grande n�mero de empresas na �rea da cal – aproximadamente 100, conforme dados da prefeitura. A equa��o resulta em menos gente para o trabalho no setor, o que ajuda a elevar sal�rios e a permitir que Dilermando tenha o luxo de n�o trabalhar nos fins de ano. As empresas, se quisessem pagar menos, poderiam at� tentar contrata��es na cidade vizinha, Formiga, munic�pio com 70 mil habitantes, que fica a 12 quil�metros de dist�ncia. Os custos com o transporte, no entanto, poderiam n�o compensar.
Segundo o prefeito de C�rrego Fundo, Jo�o Vaz da Silva, o vencimento m�dio de quem mora na cidade e vive da cal � de tr�s sal�rios m�nimos. “E estamos falando do trabalhador bra�al, que fica no forno ou quebrando pedras”, ressalva. Pela renda mais elevada, os habitantes da cidade acabam por ter depend�ncia reduzida de programas de assist�ncia social. Conforme dados da prefeitura, 229 fam�lias da cidade, ou menos de 4%, recebem o Bolsa-Fam�lia, sendo que, do total, apenas 141 t�m o benef�cio m�ximo, de R$ 70 por pessoa, por n�o terem nenhuma outra renda.

Das cerca de 100 empresas do setor de cal em C�rrego Fundo, uma pertence a Manoel Petr�cio, de 53 anos, h� 35 morador da cidade. Pernambucano de Bom Conselho, trabalhou como oper�rio at� que conseguiu montar uma pequena empresa que utilizava fornos chamados “de encosta” para produ��o de cal. Os neg�cios cresceram e hoje Petr�cio tem 25 empregados e vende entre 50 e 60 toneladas do p� por m�s. Como todo bom empres�rio, reclama do mercado. “J� tivemos dias melhores, com 100 empregados e o com�rcio de 120 toneladas de cal por m�s”, diz. Ainda assim, roda pela cidade com uma caminhonete �ltimo ano e vai com regularidade ao estado natal para ver a fam�lia.
Pelos dados da prefeitura, os n�meros de queda citados pelo empres�rio s�o extremamente isolados. Em junho, a arrecada��o do Imposto Sobre Circula��o de Mercadorias e Presta��o de Servi�os (ICMS) em C�rrego Fundo atingiu, no acumulado do semestre, R$ 2,2 milh�es. No mesmo per�odo do ano passado, o total foi de R$ 1,7 milh�o, uma alta de 29%.

Saiba mais: �ndice Gini
Criado pelo matem�tico italiano Conrado Gini, o �ndice mede o grau de desigualdade na distribui��o da renda domiciliar. Ou seja, aponta a diferen�a entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. O valor pode variar de zero, quando n�o h� desigualdade (as rendas de todos os indiv�duos t�m o mesmo valor), at� 1, quando a desigualdade � m�xima (apenas um indiv�duo det�m toda a renda da sociedade e a renda de todos os outros indiv�duos � nula). A divulga��o � feita a partir do momento em que o IBGE publica os dados de uma nova Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios (Pnad). C�rrego Fundo apresentou �ndice Gini de 0,3288, enquanto o de Minas � de 0,5634 e o do Brasil, 0,5304, segundo dados relativos a 2010.