
A ex-senadora pelo Acre e principal expoente da Rede Sustentabilidade, Marina Silva, recebeu a reportagem no fim da tarde de sexta-feira. Em uma conversa de quase meia hora, afirmou que os protestos de junho n�o podem ser resolvidos com uma mera pauta de reivindica��es e, sim, com a constru��o de uma agenda de mudan�as a longo prazo para o pa�s, mantendo os pilares da atual pol�tica econ�mica. Ela garante que n�o pensa em se filiar a outro partido caso a Rede n�o se viabilize. Acredita ainda que a nova legenda est� em condi��es de chegar ao poder. “Ningu�m consegue 20 milh�es de votos saindo pela primeira vez candidata (a presidente em 2010) se n�o tiver um lastro da sociedade cal�ando esse processo.” Marina voltou a surpreender os analistas pol�ticos nas �ltimas semanas ao ser a �nica que aumentou a inten��o de voto nos levantamentos realizados depois dos protestos que sacudiram o pa�s.
N�o trabalho com essa possibilidade. Estamos focados na viabiliza��o da Rede Sustentabilidade. Entregamos tudo em tempo h�bil. N�o � justo que tenhamos feito um esfor�o deste e ele ser prejudicado em fun��o das dificuldades que a Justi�a Eleitoral est� enfrentando.
Como est�o as conversas com os aliados e os parlamentares que desejam vir para o partido?
Temos um processo de conversa aberta com as pessoas que t�m identidade program�tica conosco. Mas n�o h� de nossa parte uma ansiedade t�xica de inchar o partido a qualquer custo e a qualquer pre�o.
Surpreendeu o resultado das �ltimas pesquisas de inten��o de voto?
As pesquisas s�o um momento em os institutos s�o capazes de registrar. E devem ser vistas assim, n�o como algo definitivo. Os eleitores v�o modulando suas posi��es de acordo com o debate, a din�mica do processo pol�tico, que, infelizmente, foi antecipado.
Mas junho zerou esse processo eleitoral. O que muda daqui pra frente?
� preciso ter a humildade de compreender que existe algo muito grande e profundo acontecendo na realidade pol�tica do Brasil. E n�o a ansiedade de querer capitalizar, de querer se apropriar. O tamanho de tudo o que aconteceu, a magnitude, a quantidade de bandeiras, n�o se resolve como pauta de reivindica��o. Tem o potencial de mudar a na��o.
Esse movimento de junho era esperado? � algo que veio para ficar? Ou foi um fato isolado?
N�o � um movimento que acontece s� no Brasil. � no mundo inteiro. H� uma grande quantidade de pessoas que n�o est�o satisfeitas com a qualidade da representa��o pol�tica. � um movimento que veio para ficar.
Mas as manifesta��es reflu�ram.
O fato de n�o estar mais nas ruas n�o significa que as pessoas n�o estejam com as mesmas expectativas, n�o continuem com as mesmas decep��es com a representa��o pol�tica, com a qualidade dos servi�os. Pelo contr�rio. � o surgimento de um novo sujeito pol�tico, que exige uma nova vis�o, novos processos e novas estruturas. N�o � algo para o qual a gente possa ter respostas r�pidas, apressadas. Quando a hist�ria est� acontecendo, os que vivem a Hist�ria jamais ter�o as certezas porque algo ainda n�o se completou.
Quais os demais pontos da agenda que a Rede prop�e para se contrapor ao que est� a�, al�m da amplia��o do debate ambiental?
Em 2010, lan�amos a nossa plataforma “pelo Brasil que queremos”. Continuamos aprofundando o debate porque achamos que pol�tica n�o se faz s� no momento das elei��es. As pessoas se enganam quando pensam que uma trajet�ria ligada a meio ambiente e sustentabilidade n�o est� ligada a como vamos tratar a quest�o da infraestrutura, da educa��o, sa�de, saneamento, mobilidade.
A Rede est� madura para ser governo?
A Rede n�o � um processo que come�a agora. Ningu�m consegue 20 milh�es de votos saindo pela primeira vez candidata se n�o tiver um lastro da sociedade cal�ando esse processo. A Rede faz parte da luta de quase 30 anos de um grupo da sociedade que apostou na ideia do desenvolvimento sustent�vel em sua dimens�o ambiental, pol�tica, econ�mica, cultural e social. E esse amadurecimento � altamente compat�vel com o anseio de mudan�a que est� colocado na sociedade.