S�o Paulo - A fim de evitar o uso dos seus pr�prios e-mails funcionais, funcion�rios da Siemens criaram “e-mails fantasia” para discutir com um “consultor” os termos de uma licita��o tocada pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) no ano de 2005, durante a gest�o Alckmin (PSDB). Os endere�os eletr�nicos foram batizados com nomes de personagens de conto de fadas, como “Branca de Neve” e “Sete An�es”.
Num dos documentos entregues ao Cade, h� c�pias dos e-mails criados para a negocia��o com o “consultor”. Ao menos quatro pessoas tinham conhecimento desses endere�os eletr�nicos, entre elas um dos ex-executivos que denunciaram o cartel ao �rg�o federal.
A licita��o discutida nos e-mails “[email protected]” e “[email protected]” � a mesma que executivos da empresa sabiam que venceriam antes mesmo de o governo paulista lan�ar os editais, conforme revelado no in�cio de agosto. O processo de concorr�ncia come�ou em 2004 e terminou em 2005.
Em um e-mail enviado �s quatro pessoas em 24 de maio de 2005, o funcion�rio Eder Luciano Saizaki informou: “Para facilitar a comunica��o com o consultor foram criados os seguintes emails: [email protected] e [email protected]. Estas contas de e-mail contam com 2 GB de capacidade, acredito ser mais do que suficiente para troca de informa��es”.
Entre os destinat�rios da correspond�ncia estavam Peter Andreas G�litz, que chefiava uma unidade de neg�cios dentro do setor de transportes e � um dos seis ex-funcion�rios da Siemens que assinaram o acordo de leni�ncia com o Cade.
Tamb�m recebeu o e-mail Carlos Teixeira, gerente da MGE Transportes, empresa com a qual a multinacional alem� combinava se associar para o fornecimento do servi�o. Investigadores do caso suspeitam que a MGE era uma das rotas do pagamento de propina feito pela Siemens a agentes p�blicos.
O e-mail enviado por Eder Saizaki n�o espec�fica quem seria o consultor com quem os destinat�rios se comunicariam. Em rela��o a essa licita��o de 2005 da CPTM, a �nica consultoria que aparece entre as provas entregues pela pr�pria Siemens ao Cade � a Procint, de propriedade do lobista Arthur Teixeira.
A pol�cia e o Minist�rio P�blico - que assim como o Cade investigam os fatos narrados pela Siemens em seus �mbitos de compet�ncia -, suspeitam que duas offshores que estariam em nome de Teixeira no Uruguai eram outra rota de propina utilizada pela multinacional alem�.
Aproxima��o
Em e-mail de 29 de outubro de 2004, Peter G�litz relata ter havido uma reuni�o na Procint para tratar da licita��o da CPTM - ao contar ter sido procurado por integrantes de uma empresa de nome CCC, que, segundo ele, estaria procurando uma aproxima��o com a Siemens e teria tido uma reuni�o na MGE. “Sei que nosso grupo j� est� fechado, n�o estou sugerindo coopera��o. Mas seria interessante mant�-los entretidos mais um pouco para que n�o tenham tempo de se alinhar com outra empresa - conforme reuni�o na Procint, a CCC, a Mitsui e outras pequenas estariam fora dos acordos”, escreveu.
A Siemens n�o comentou o caso ontem (27). Indagado se pediria a quebra do sigilo dos e-mails, o governo paulista declarou que “n�o hesitar� em recorrer ao Judici�rio, quantas vezes for preciso, para obter as informa��es essenciais para exigir o ressarcimento dos preju�zos causados pela suposta forma��o de cartel”. E lembrou ter entrado com a��o de indeniza��o contra a empresa.