Em um depoimento interrompido por choros, o senador boliviano Roger Pinto Molina relatou nesta quarta-feira � Justi�a Federal que o escrit�rio da embaixada brasileira em La Paz, onde ficou asilado durante um ano e tr�s meses, correu risco de invas�o por aliados do governo Evo Morales, que queriam prend�-lo. "Eu ouvia uma multid�o gritar ladr�o, corrupto, e dizer 'vamos invadir a embaixada para tirar o senador'", afirmou. "Todos os dias eram dif�ceis, insuport�veis, iguais."
Representantes da Advocacia Geral da Uni�o (AGU) que acompanharam o depoimento n�o questionaram o senador sobre os riscos que a embaixada brasileira teria sofrido. Israel Pinheiro, subprocurador regional da AGU, que tamb�m acompanhou o depoimento, se limitou a questionar Pinto Molina sobre o poss�vel risco de morte que ele correu durante a viagem ao Brasil, que n�o foi comunicada ao governo boliviano. Em determinado momento, o juiz Catta Preta Neto reclamou que o representante da AGU quis impedir perguntas da defesa do diplomata Eduardo Saboia. Catta Preto observou, em outro momento, que o Brasil n�o vive uma ditadura. "Deus nos livre", desabafou.
O advogado Ophir Cavalvante, ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que defende Saboia, avaliou que a estrat�gia da AGU � insistir na tese de que o senador correu risco de morte ao fazer a viagem para o Brasil. "Est� claro, no entanto, que pela demora dos governos no caso, o senador n�o tinha outra op��o, sob pena de mofar at� a morte no cativeiro."
No seu depoimento, o senador disse que a sa�da da embaixada n�o foi de risco total. Ele lembrou que foi acompanhado por Saboia e por fuzileiros da embaixada durante todo o trajeto. Ele contou que, durante a perman�ncia na representa��o brasileira, o ex-embaixador brasileiro Marcel Biato relatou que o governo boliviano chegou a propor a sua viagem para o Brasil sem um "salvo-conduto", uma autoriza��o. Os diplomatas estranharam a proposta. Pinto Molina disse que estava em processo de "degrada��o mental" quando recebeu ajuda para sair da embaixada, onde viveu num quarto de 4 metros quadrados, sem luz direta do sol ou banheiro. "Devo a minha vida ao Eduardo e a minha liberdade ao Brasil."